Se nada mudar, quando Sheinbaum for empossada, em 1º de outubro, dos 20 países latinos, apenas dois — o equivalente a 10% — estarão sob o comando de mulheres eleitas pela população
Eleita, no último domingo, presidente do México, Claudia Sheinbaum se torna a primeira mulher na Presidência do país e a oitava na América Latina a assumir o posto. Antes, pleitos na Argentina, no Brasil, no Chile, na Costa Rica, em Honduras, na Nicarágua e no Panamá tiveram o mesmo resultado, também de forma pioneira. Uma das escolhidas, Xiomara Castro é presidente hondurenha desde 2022. Se nada mudar, quando Sheinbaum for empossada, em 1º de outubro, dos 20 países latinos, apenas dois — o equivalente a 10% — estarão sob o comando de mulheres eleitas pela população.
A representatividade é pequena e reflete um desafio histórico para além da região. Levantamento divulgado, no ano passado, pela União Parlamentar Internacional mostra que há uma sub-representação crônica nas lideranças governamentais pelo mundo, embora tenha havido um avanço de 2013 a 2023. Há pouco mais de 10 anos, elas ocupavam 5,3% dos cargos de chefe de Estado. Em 2023, o número subiu para 11% — ou seja, de cada 10 países que não são monarquias, um tinha uma mulher no comando. Nessa mesma década, não necessariamente no mesmo período, cinco das sete mulheres eleitas na América Latina estiveram na Presidência: Michelle Bachelet (Chile), Cristina Kirchner (Argentina), Laura Chinchilla (Costa Rica), Dilma Rousseff (Brasil) e Xiomara Castro.
À época da divulgação do relatório, a diretora-executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, enfatizou que o aumento da participação feminina nos processos decisórios é fundamental para a democracia plena, mas a violência política e a de gênero as desencoraja a encabeçar esse processo.https://d-2413583653597771603.ampproject.net/2405160547000/frame.html
A futura presidente do México, aliás, venceu o pleito mais violento do país — 38 candidatos foram assassinados ao longo da campanha eleitoral — e terá, entre os principais desafios, o aumento do narcotráfico e do feminicídio. Dados oficiais indicam que, no ano passado, ocorreram, em média, 10 assassinatos de mulheres por dia no país.
Com população maior e média de feminicídio menor — quatro casos oficiais por dia em 2023, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública —, o Brasil também tem a violência de gênero como um dos principais empecilhos à participação feminina na política. De agosto de 2021 — quando a violência política contra a mulher passou a ser tipificada como crime — até dezembro de 2022, somente o Ministério Público Federal contabilizou 112 procedimentos relacionados ao tema — o equivalente a sete casos a cada 30 dias.
O crime consiste em ações para excluir ou dificultar a participação de mulheres em espaço público no processo eleitoral ou durante o mandato. A proximidade das eleições municipais acende o alerta em relação ao aumento de ações para ofuscar a presença feminina na política. Desta vez, despertam as expectativas para que artimanhas adotadas por partidos políticos para dificultar esse processo sejam punidas.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no pleito de 2020, apenas 11,9% dos municípios brasileiros elegeram prefeitas e 17% não escolheram nenhuma vereadora. Na tentativa de mudar o cenário, o tribunal lançou, em maio, uma campanha com o slogan “Mulher na política é outra história”. Que essa outra história seja em direção ao movimento, ainda que tímido, de melhor representatividade política no Brasil, em seus vizinhos e no resto do mundo. E que essas novas composições representem, de fato, fortalecimento da perspectiva feminina nas decisões tomadas na esfera publica.
Fonte: Correio Braziliense