No dia 16 de junho, às 19h, pelo horário de Brasília, foi realizado o terceiro debate da Autorreforma e as Mulheres Socialistas do PSB com integrantes da Secretaria Nacional de Mulheres que moram na região Norte.
A live, que foi mediada pela secretária nacional das mulheres, Dora Pires, teve como convidadas a vereadora Janete Capiberibe (PSB-AP) e a pesquisadora e engenheira florestal Ana Euler, além das secretárias estaduais da região Carla Ívane De Britto, Secretária Estadual do Acre; Ely Almeida, Secretária Estadual do Amapá; Lucinete Correa Tavares, Secretária Estadual do Amapá; Carmen Paula, Secretária Estadual do Pará; e Amanda Sobreira, Secretária Estadual de Tocantins.
Os assuntos discutidos versaram sobre as análises das teses do caderno 4, que tratam questões de gênero, e temas relacionados à região. O evento foi realizado via zoom, com transmissão no Facebook e no canal da SNM no Youtube, @mulherespsb40.
Dora Pires agradeceu muito a presença das duas convidadas, que aceitaram participar do debate tão fundamental para o avanço da pauta de gênero no PSB. “Compartilhar conosco o olhar que, talvez muitas não tenham sobre a região amazônica, é extremamente necessário neste momento, onde vemos, infelizmente, tantos ataques realizados na região”.
Janete Capiberibe, atualmente vereadora em Macapá pelo PSB, é ex-deputada federal e autora da lei 11.970/09, que previne acidentes navais com escalpelamento. Durante sua explanação, Janete fez uma retrospectiva da participação das mulheres no desenvolvimento do partido.
“Desde 1950 temos escrito nossa história partidária no pleito eleitoral de São Paulo, com a participação de Patrícia Galvão, a Pagu, escritora e jornalista política, comunista, socialista e revolucionária. Que inspira os movimentos de mulheres jovens no nosso País. Ela tentou uma vaga na assembleia legislativa, foi muito bem votada, mas não se elegeu, mas deixou seu forte legado que nos inspira até hoje, a juventude das mulheres socialistas do PSB. Em 1960, Adalgisa Nery, jornalista e política modernista, foi eleita deputada constituinte pelo Rio de Janeiro, líder partidária, referência na comunicação de artigos sobre política e economia. Em 1985, no período pós-ditadura Vargas, ditadura civil-militar de 1964, foi a refundação do nosso PSB. Partido que eu bato no peito e digo ‘tenho orgulho de ter sido eleita, desde o meu primeiro mandato até hoje’. Há 32 anos concorrendo pelo nosso querido PSB. E tivemos na legislatura constituinte de 1988, 28 mulheres eleitas de diferentes partidos no país, dessas, 3 mulheres deixaram suas contribuições na constituição federal, Beth Azize, Raquel Capiberibe e Maria Luiza Fontenele, que se tornou vice-líder do PSB na Câmara Federal.”, rememorou para as presentes.
Após fazer a recapitulação da atuação das mulheres socialistas, a vereadora destacou que no momento de reconstrução do manifesto e do programa do PSB “não podemos deixar de falar do papel das mulheres enquanto representação eleita pelo processo democrático, a luta por mais mulheres no poder é travada em várias frentes. A Secretaria Nacional de Mulheres do PSB, companheira Dora, exige a garantia da aplicabilidade plena da lei Maria da Penha e a ampliação e fortalecimento da rede de serviços da pensão e cuidados às mulheres em situação de violência. No plano econômico, a garantia de salário igual para trabalho igual, nas políticas afirmativas garatia do aborto legal previsto em Lei. Mas, é no plano político onde estão os maiores desafios para a superação da sub-representação da mulher no espaço de poder e decisão, dentro dos partidos e nas representações eletivas nas inúmeras casas e nos três níveis no nosso país. As secretárias de mulheres do PSB aspiram pela igualdade meio a meio, internamente, dentro do nosso partido e na representação política do poder legislativo, portanto a cota de 50%, não queremos menos, queremos só 50%, é imperioso a garantia do fortalecimento nas múltiplas identidades que compõem o ser mulher, cis, lésbicas, bissexuais e transexuais, idosas, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, ciganas em situação de rua, jovens e adolescentes, mulheres privadas de liberdade, com deficiência, mães de crianças com doenças raras. O PSB tem um legado histórico de representação feminina eleita no Brasil. Eu considero que esse momento importante é para apresentarmos uma linha do momento desse histórico da luta das mulheres socialistas”, encerrou.
A próxima convidada, Ana Euler, engenheira florestal e doutora em ciências ambientais e florestais, entre 2003 e 2008 atuou como técnica especializada em conservação da Amazônia no WWF-Brasil. “Eu não sou da Amazônia, mas meu coração é amazonense. Há praticamente 20 anos, quase a metade da minha vida, sempre amei a Amazônia. A Amazônia é mulher, e nós como mulheres temos a responsabilidade histórica de cuidar, cuidamos da terra, das florestas, das águas, isso a gente vê aqui como as mulheres são mais sensíveis nesse cuidado, não só com suas famílias, com idosos, com crianças, mas com a natureza também”, disse no começo da fala.
“Eu quero trazer alguns números aqui para vocês, pq esses números são muito normais para mim mas talvez não sejam para a maior parte das companheiras que estão aqui. Hoje, no Brasil, existem cinco milhões de estabelecimentos agropecuários e as mulheres são lideranças. Elas são chefes de família, se declaram proprietárias de um quinto desses estabelecimentos rurais. Então é para 1 a cada 4 estabelecimentos rurais no Brasil que têm a liderança das mulheres. No último censo agropecuário de 2017, a gente aumentou da média nacional de 13% de participação feminina para 19%, porém, nós aqui da região Norte, hoje as mulheres representam 12%, elas estão na frente, elas são chefes de família em 12 % dessas propriedades. Porém, quando se fala em área ocupada e trabalhada, no Brasil, como todo, não chega a 8%. Então, a terra sempre foi poder no Brasil, e o poder continua nas mãos majoritariamente dos homens. Mas o que eu quero dizer é que para a produção rural as mulheres são muito importantes, só que nós somos invisíveis, a maior parte da atividade rural feminina ela é invisibilizada pelas estatísticas, e isso fica mais claro pra mim, quando trabalho principalmente com as estatísticas florestais que são aquelas com as quais eu trabalho”, informou.
Em seguida, Ana continuou narrando algumas iniciativas que ela acompanha no Amapá. “Por exemplo, a iniciativa das mulheres castanheiras, das mulheres biscoiteiras do Cajari, que formaram uma associação e que são um dos grupos que mais consegue acessar a CONAB dentro do programa de aquisição de alimentos e do programa de merenda escolar, fruto de pequenos incentivos, projeto semente, houve editais aqui para projetos sementes, que não havia cota para homens e mulheres, e o que a gente viu foi o seguinte: iniciativas de mulheres tiveram um sucesso muito grande na sua organização e gestão, que é um dos principais gargalos na Amazônia para o empreendedorismo na região, organização e gestão. Sabemos que quem cuida do orçamento familiar são as mulheres, e fazem isso muito bem. E isso também se aplica para as organizações e para os empreendimentos comunitários. Os homens têm um papel, na minha opinião e na minha vivência aqui, muito mais na liderança política, então aparecem mais, estão na reuniões, estão nas representações políticas mas quem tá ali segurando a produção, ajudando na gestão, na contabilidade, na prestação de contas do dinheiro são as mulheres”, assegurou.
“A mesma coisa para a cadeia produtiva do açaí, que depende diretamente das mulheres. Esse açaí que a gente come todos os dias, quando a gente olha as estatísticas parece que é uma atividade majoritariamente masculina, mas não é. São as mulheres que debulham, são as mulheres que estão batendo esse açaí, são as mulheres que estão fazendo essa economia que gira quase cinco bilhões de reais entre os PIB do Amapá e do Pará, só que não há reconhecimento. Quero falar, também, para vocês das mulheres produtoras dos óleos vegetais da Amazônia, andiroba, copaíba, pracaxi, murumuru, patauá, buriti e tantos outros. Nesse caso, o impressionante é porque a indústria de fármacos e cosméticos tem crescido muito a demanda em cima desses óleos para fins medicinais, terapêuticos, farmacêuticos e quem produz esses óleos são mulheres. Por que? Porque as mulheres detêm conhecimento sobre a medicina da floresta, e esses óleos são óleos que vêm do conhecimento tradicional. E a gente tem que batalhar por uma política, na verdade para que a política de repartição do benefício seja implementada e que possam empoderar cada vez mais essas mulheres amazônicas e que a gente precise pensar , enfim, em políticas para isso.”
Ana ainda falou sobre a Agenda 2030 das Nações Unidas, que tem o objetivo de desenvolvimento sustentável, que é o objetivo do desenvolvimento 5 que é para promover a equidade de gênero, “mas eu gostaria de falar também do objetivo 17, que é o objetivo de fortalecer as organizações. E olhando para o PSB que é uma organização política tão importante, meu recado é para que fortalecer essa organização é importante fortalecer a participação das mulheres. E como a gente fortalece a participação das mulheres? Na última discussão da Autorreforma, eu fiz uma crítica construtiva para o documento que eu li. Nas 120 páginas, eu não consegui ver as mulheres socialistas ali. Eu vi vários homens socialistas ali, inclusive nas cinco primeiras páginas, são só fotografias de homens emblemáticos, importantes, mas eu ouço a história da Janete eu vejo o quanto que na base, na base de produção de açaí, na base da produção rural, na base do PSB o alicerce são as mulheres. E tirar essas mulheres da invisibilidade é muito importante. Então esses nomes têm que vir. Para a gente querer um partido que atraia mulheres tem que ter figuras femininas emblemáticas na cara do partido, estampando a cara do partido”.
“A outra coisa, eu gostei muito da fala da Janete, porque muito inspirada pela constituinte do chile, eu não se vocês sabem, mas uma das premissas das constituintes do chile, que acabou de ser feita agora, foi 50% da participação das mulheres. Então, no processo de votação, se garantiu 50% da participação de mulheres em uma constituinte. Nesse momento, no século 21, tem que ter 50% de participação das mulheres para decidir o futuro desse país. Por isso, eu concordo com Janete Capiberibe, que nós como mulheres, deveríamos exigir sim, como cláusula partidária, 50% das mulheres nos cargos de poder. Enfim as mulheres tem que ter garantida a sua participação para poder inspirar jovens, para poder inspirar as gerações futuras, para que mulheres votem em mulheres. Elas têm que ver mulheres, elas tem que ouvir a voz das mulheres, elas tem que entender que as mulheres também podem estar no poder com todas as diferenças e que essas diferenças são extremamente importantes, pq nós somos muito mais sensíveis. Os governos que tiveram melhor desempenho na pandemia, foram governos liderados por mulheres, porque mulheres têm sensibilidade humana, mais humanidade , elas cuidam da família
“Eu queria trazer aqui uma fala que muito me inspirou. Em 2019 eu entrevistei mulheres indígenas no Amazonas para ouvir a voz delas. Com isso, eu escrevi um documento chamado: “Mulheres indígenas à frente – Como fortalecer a agenda indígena feminina na Amazônia”. E eu tive a oportunidade de entrevistar a Nara Baré, a primeira mulher que coordena a Confederação Indígena Brasileira. Eu perguntei para ela como foram os desafios, como que ela chegou até ali , e eu peguei um pedacinho da fala dela que me emociona e que muito me inspira e que eu gostaria que inspirasse as mulheres socialistas da Amazônia. Ela fala assim: “muitas mulheres perguntam se você acha que você está preparada. Será que nós estamos preparadas? A gente sempre acha que não tá preparada, mas estamos sim. Estamos preparadas desde o ventre. Nós, mulheres, somos capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo – cuidar dos filhos, dos roçados, da educação, da casa, dos mais velhos, dos irmãos caçulas e fazemos tudo com excelência da mesma forma que fazemos na política. Então, as mulheres sempre serviram de base, sempre deram apoio, suporte, sempre estiveram presente, a gente só não aparecia, não tinha nossa voz ecoada. Agora chegou o momento em que entendemos que não poderíamos mais estar só como coadjuvantes. É momento de termos mais clareza, momento de assumir mais responsabilidades junto com os homens para o bem comum.”
“Eu só comecei a entender que a gente tem que trabalhar o feminismo para poder garantir para as gerações atuais e futuras que a gente não vai conseguir a igualdade daqui a 150 anos, porque as pesquisas dizem, se a gente mantiver o ritmo atual, as nossas bisnetas terão, quem sabe, equidade. Mas serão necessários pelo menos 150 anos e a gente não quer isso, então a gente tem que fazer essa mudança, essa revolução agora”, encerrou.
Entre as participantes, foi unânime o entendimento que o PSB precisa ter centrado que o desenvolvimento para o País e regiões como Sudeste e Nordeste não é o mesmo desenvolvimento para o Norte, que deve contemplar todos os povos da Amazônia, a cultura e a economia local. Há uma especificidade imensa dentro desse bioma que é a Amazônia.
A próxima região a receber a reunião será a Sudeste.