Segundo dados do Instituto Trata Brasil, cenário é ainda mais preocupante no Norte e Nordeste, com fortes impactos na saúde
Uma em cada quatro mulheres não tem acesso a água tratada ou não é abastecida com regularidade, de acordo com a segunda edição do estudo “O saneamento e a vida da mulher brasileira”, publicado há um mês. O problema afeta 24,7 milhões de mulheres. Na casa de Nivalda Reis de Souza, torneiras e chuveiro têm água de cor alaranjada e que não é potável. Ainda assim, é usada no banho e para limpeza.
Essa é a realidade para 16 famílias que moram no bairro Costeira, em Iguape, no Vale do Ribeira, em São Paulo. A comunidade não tem água tratada assim como cerca de 35 milhões de brasileiros, de acordo com um levantamento do Instituto Trata Brasil. Também não há esgoto, como para quase 100 milhões de pessoas no país.
O impacto no cotidiano é mais fortemente sentido pelas mulheres, responsabilizadas pelas tarefas domésticas e pelo cuidado com pessoas que têm a saúde comprometida em decorrência das chamadas doenças de veiculação hídrica, como diarreia, esquistossomose e leptospirose.
Nivalda trabalha como doméstica e mora com o marido e os dois filhos em uma casa sem água tratada nem esgoto encanado, em Iguape. É da torneira dela que sai água que mais parece um suco.
“São residências com documentação certinha. Moramos na beira do rio Ribeira. As casas têm fossa de cimento e perto tem cheiro forte. A água tem mau cheiro, está cheia de ferro, vem de um poço e tem a cor amarela. Usamos para limpeza e para tomar banho e todo mundo tem irritação na pele, coceira”, conta a moradora.
Para beber e cozinhar, os moradores buscam água em uma escola abandonada, cedida pela prefeitura. Os idosos recorremà ajuda de vizinhos e até pagam pelo serviço de transporte das garrafas.
“Vou buscar de três a quatro vezes na semana. Gasto uma hora a pé para ir e voltar. Eu trago até 22 garrafas pet no carrinho de mão, mas é pesado. Trago o suficiente para um dia e meio para beber e cozinhar. Não dá pro banho”, relata Nivalda.
“O saneamento não avançou, mas a população continua crescendo, por isso não está acompanhando a velocidade”.
No Brasil, o número de mulheres que moram em casas sem coleta de esgoto saltou de 26,9 milhões para 41,4 milhões entre 2016 e 2019, segundo o estudo. Isso representa alta de 15,5% ao ano. No mesmo período, a população feminina prejudicada pela falta de água tratada passou de 15,2 milhões para 15,8 milhões.
“A mulher acaba sendo a mais afetada por diversos motivos: quando há doença por falta de saneamento com crianças ou alguém da família, ela tem que cuidar e dedicar mais tempo à família”, explica Luana Siewert Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil. “Ela abdica da carreira profissional quando não tem acesso a água ou intermitência no serviço. Tem que buscar água em regiões próximas, leva mais tempo e tem a produtividade prejudicada.”
Fonte: Portal R7