O tráfico de mulheres, que recentemente ganhou notoriedade no Brasil com a novela global Salve Jorge, foi tema de um dos debates do evento Women in the World, que aconteceu nesta terça-feira (4), na Casa Fasano, em São Paulo, pela primeira vez no Brasil. Ao longo do dia, diversos debates trouxeram à tona importantes causas femininas, trazidas por personalidades importantes como ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, a estilista Diane von Furstenberg e Maria da Penha Maia Fernandes, ativista contra violência doméstica que inspirou a lei com o seu nome. A apresentadora Xuxa também foi um dos destaques do evento, em uma conversa sobre mulheres expostas à vulnerabilidade social. A advogada Marcela Martínez, que teve sua filha capturada pelo tráfico de mulheres na Bolívia, contou um pouco sobre a sua história e a luta para reencontrar a filha. “Diariamente sonho com ela”, disse no debate mediado pela jornalista Monica Waldvogel. “Tenho muita esperança de que vou encontrá-la. Somos muito conectadas”, disse. Marisela Morales Ibáñez, procuradora-geral do México, observou que o tráfico de pessoas tem relação com o mercado do tráfico de drogas e que atinge, principalmente, mulheres, crianças e imigrantes. “Várias mulheres foram levadas com promessas. Quando chegam, passam pela experiência do trabalho forçado ou exploração e são ameaçadas”. Ela ainda contou que a procuradoria geral do México tem uma área específica para cuidar deste tema, que oferece abrigo e apoio psicológico para as vítimas. Claudia Patricia de Luna Silva Lago, advogada e presidente do Elas por Elas Vozes e Ações das Mulheres, é consultora jurídica de mulheres vítimas de violência doméstica e discriminação sexual. Ao longo do debate, ela discorreu sobre a forma como essas pessoas, especialmente as mulheres, são aliciadas. “O tráfico de pessoas é um tráfico de ilusões”. O esquema, segundo Claudia, acaba funcionando como um círculo vicioso. Mulheres mais vulneráveis – como as que sofrem violência doméstica, são exploradas sexualmente ou estão à margem da sociedade – acabam acreditando na proposta de uma vida melhor, com emprego estável, no exterior, e se sentindo “acolhidas” pelo tráfico. Ao cruzarem a fronteira, o que encontram é mais exploração, agravada pelas ameaças. Mudança do cenário no Brasil A partir de 2002, este panorama foi se alterando gradativamente, segundo observou a especialista. “Observa-se uma diversificação maior desse público-alvo e também dos fins”, pontuou, acrescentando que hoje em dia o mercado também visa objetivos como remoção de órgãos, exploração laboral e adoção ilegal. “Há toda uma mudança na sofisticação dessas quadrilhas. As populações mais vulneráveis são as maiores vítimas dessas quadrilhas”, concluiu. Entre as soluções apontadas Claudia para a reinserção dessas mulheres ao seu ambiente envolvem equipes multidisciplinares, que buscam resgatar a autoestima e trabalhar o empoderamento econômico dessas mulheres. “Muitas vezes, a vítima também sente culpa. O ideal é reinseri-la no local que ela viveu”, afirma. Mulheres em situação de vulnerabilidade Xuxa ressaltou a importância de se evitar a violência na educação infantil, para evitar que as crianças expostas acabem nas ruas e sem perspectivas. “Minha vontade é que as pessoas acreditem que as crianças precisam ser respeitadas como seres humanos, tratadas com amor e carinho”, pontuou. Para a jornalista Mônica Waldvogel, este tipo de evento contribui para a disseminação das causas femininas no Brasil. “Eu acho que um evento como esse, embora restrito, conecte vários formadores de opinião, multiplicando as informações. Mostra os casos bem-sucedidos e os dramas que estão pendentes. Eu acho que não é possível nunca relaxar dessas questões das mulheres. Porque enquanto o mundo for assim, tão dominado pelos homens, isso será prioridade para as mulheres. A gente tem que ficar cutucando o tempo todo”, concluiu. Saiba mais sobre o evento |
Fonte: Terra
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