Tabata Amaral (PSB) vai usar o lançamento de sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo, nesta quinta-feira (25), aniversário da cidade, para reforçar a defesa de oportunidades iguais para pobres e ricos e tentar furar a polarização entre Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB).
A deputada federal fará um evento na laje da casa onde cresceu e ainda mora sua mãe, na Vila Missionária (zona sul), numa estratégia para exaltar a imagem de ligação com a periferia e sua origem humilde. Maria Renilda, a Reni, mãe da pré-candidata, vai preparar cuscuz para a festividade.
Entre os convidados estão três colegas de PSB que têm sido citados por Tabata como seus apoiadores de primeira hora: o vice-presidente Geraldo Alckmin —que não conseguirá comparecer por questões de agenda, mas deve entrar por vídeo—, o ministro Márcio França (Empreendedorismo) e o apresentador José Luiz Datena.
Recém-filiado, Datena é cotado para vice, mas não se comprometeu a ocupar o posto. Célebre pelas desistências de candidaturas, o jornalista repete ter como meta na política se eleger senador em 2026.
Tabata anunciou a pré-candidatura em entrevista à Folha em setembro, quando Boulos já estava colocado como postulante apoiado pelo presidente Lula (PT) e Nunes buscava o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a reeleição. A tendência é que a disputa entre os padrinhos reedite o embate de 2022.
A parlamentar lançará durante o ato um manifesto intitulado “Uma só cidade”. O documento, que antecipa o espírito de seu futuro programa de governo, fala em combater desigualdades e “superar o abismo existente entre os bairros ajardinados do centro e a periferia distante e esquecida”.
Tabata apresentará o texto na forma de um vídeo idealizado pela equipe do marqueteiro Pablo Nobel. A gravação, feita na própria casa e em outros pontos das redondezas, foi dirigida pela cineasta Paula Trabulsi e teve a colaboração do Tomada Periférica, um coletivo audiovisual da região.
A escolha de um lugar simbólico para o lançamento da pré-candidatura fortalece o protagonismo da zona sul na eleição deste ano.
Boulos vive no Campo Limpo, a cerca de 20 km da casa da família da pessebista. A provável vice dele, a ex-prefeita Marta Suplicy (que se filiará ao PT no próximo dia 2), possui base eleitoral na região. Nunes, da mesma forma, tem reduto importante na área, onde cresceu e se firmou como empresário.
Tabata mora atualmente em um apartamento na região do Itaim Bibi (também na zona sul), perto do parque Ibirapuera, para facilitar seus deslocamentos para o escritório político, compromissos externos e as viagens a Brasília para as sessões no Congresso.
Ela continua, no entanto, frequentando a casa da família. Todo domingo, vai à missa na Paróquia São Francisco Xavier, a poucos metros do imóvel. Também gosta de comer o cuscuz feito pela mãe, que é baiana —daí a escolha do prato para receber os políticos e aliados nesta quinta.
O terraço que sediará o evento tem grande significado para a deputada. A assessoria dela informou que o espaço é resultado de reformas que foram em parte custeadas com a bolsa mensal de R$ 100 ganha ao ser premiada nas edições de 2005 e 2006 da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas.
Tabata também usou o local para terminar de escrever o livro “Nosso Lugar”, que lançou em 2020 sobre sua trajetória e com críticas ao machismo nos espaços de poder. Na época, estava isolada com a família por causa da pandemia de Covid-19.
A casa também guarda memórias da biografia política da aspirante a prefeita. Foi ali que ela recebeu o então presidenciável Ciro Gomes, em 2018, para o lançamento de sua primeira candidatura a deputada. Ela estava no PDT e era tratada como estrela do partido —seria eleita com mais de 264 mil votos.
Ciro almoçou a comida caseira preparada por Reni, subiu as escadas com Tabata para uma sessão de fotos na laje e se disse emocionado com o convite para conhecer o lar da então aliada.
Menos de um ano depois, a relação se tornou indigesta e culminou no rompimento da deputada com o partido por ter votado a favor da reforma da Previdência, quando a orientação partidária era rejeitar o projeto de interesse do governo Jair Bolsonaro.
Tabata se distanciou de Ciro, que em entrevistas cobrava que ela “deveria ter a dignidade de sair” após ter cometido o que ele considerava um “erro indesculpável”. Na época, o pedetista tomou emprestada de uma música de Djavan a expressão “desgosto de filha” para nomear seu sentimento.
Hoje presidente municipal do PSB e com o aval da direção nacional para articular sua candidatura —a despeito do incômodo de Lula com a presença de Alckmin em um palanque rival—, a deputada aposta em uma campanha focada em temas municipais e deficiências da gestão Nunes.
Ela costuma citar em palestras e encontros com potenciais apoiadores e doadores suas experiências como moradora da periferia —de onde saiu para estudar com bolsa em Harvard, nos EUA. Também dá exemplos envolvendo a mãe, que é recepcionista e depende de transporte público.
Em movimentações para aproximar Tabata dos eleitores, a campanha lançará nas próximas semanas um podcast em que a pré-candidata faz entrevistas sobre temas da gestão pública e das áreas em que atua, como educação e direitos das mulheres. Ela gravou o episódio de estreia com Alckmin.
Na semana passada, o vice-presidente disse que “será uma honra” apoiar a campanha dela a prefeita.
“Ficarei muito feliz com ela sendo candidata e de poder modestamente ajudá-la”, afirmou, minimizando o antagonismo com o candidato de Lula sob o argumento de que é natural que os partidos apresentem ao eleitor seus projetos no primeiro turno e possam discutir alianças no segundo.
Tabata tem demarcado diferenças com Boulos, a quem já criticou por ter uma visão radical —rótulo também usado pelos adversários à direita e que o psolista busca combater. Nos bastidores, aliados dele dizem que esperam contar com o apoio dela em eventual segundo turno.
Fonte: Folha de São Paulo