No Brasil, é crime fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas e objetos de divulgação do nazismo, como previsto no artigo 1º da Lei 7.716/89. Contudo, o youtuber Monark, do Flow Podcast, parece permanecer acima da legislação brasileira após diversas falas polêmicas. Em mais um episódio, o podcaster defendeu a existência de um partido nazista no Brasil que fosse legalizado.
O comentário foi feito durante entrevista com os deputados federais Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB) na última segunda-feira (7).
“A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço, na minha opinião […] Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei”, afirmou Monark.
O podcaster foi rebatido na própria entrevista por Tabata, que afirmou que o nazismo coloca a população judaica em risco. “Liberdade de expressão termina onde a sua expressão coloca em risco coloca a vida do outro. O nazismo é contra a população judaica e isso coloca uma população inteira em risco”, disse a parlamentar.
Na sequência, Monark pergunta à deputada como o nazismo coloca os judeus em risco. “De que forma [isso acontece]? Quando [o nazismo] é uma minoria, não põe. Mas era [um risco] quando era uma maioria”, emendou.
“A comunidade judaica até hoje tem que se preocupar com sua segurança porque recebe ameaça. O antissemitismo é uma coisa que tem ser combatida todos os dias”, respondeu Tabata.
Deputado do Podemos concorda com a descriminalização do nazismo
Outro participante do podcast Flow, o deputado Kim Kataguiri (Podemos-SP) também entrou na discussão. “Quando o Rui Costa, do PCO, fala em fuzilar burguês, por exemplo, aquilo está contemplado pela liberdade de expressão. Pelo menos no entendimento de hoje”, disse. “E isso entra em contradição com violação de Direitos Humanos. Então, por essa definição, o partido comunista não deveria existir”, completou.
Kim Kataguiri concordou com a alegação de Monark. Kataguiri também defendeu que o nazismo não seja criminalizado. Segundo ele, a melhor ideia de repreender o discurso de ódio é liberando-o para que possa – supostamente – ser “rechaçado” pela opinião pública. “Kim, você acha que é errado a Alemanha ter criminalizado o nazismo?”, questionou Tabata, ao que o parlamentar respondeu: “acho”.
Kataguri se pronunciou sobre o caso. Ao site Poder360, Kataguri disse que “é mais eficiente expor a ‘crueldade’ da ideologia para a sociedade e assim reprimi-la”. “Sufocar o debate só faz com que grupos extremistas cresçam na escuridão e não sejam devidamente combatidos e rechaçados. Irônico é ver quem normaliza os genocídios cometidos pelo comunismo falarem em direitos humanos. Essa gente não tem compromisso com direitos individuais, tem compromisso com o próprio projeto de poder”, completou o congressista. Kim também tentou se defender, publicando em seu perfil no Twitter o restante da fala no podcast Flow
Kim Kataguri, ainda, publicou nesta terça-feira (8) um vídeo em seu canal no YouTube, esclarecendo seu posicionamento diante da série de críticas que recebeu por seu posicionamento no programa Flow. No vídeo, Kataguiri afirmou que mídia está “distorcendo” sua fala e fazendo “cortina de fumaça” para “abafar” atos recentes da esquerda. “Todo mundo na mesa concorda absolutamente em repudiar o nazismo, rechaçar e combate o nazismo. A discussão era: Qual a melhor maneira de combater o nazismo?”, diz o deputado no vídeo. “Não tem ninguém mais pró-Israel dentro do parlamento do que eu”, afirmou.
Editor do The Intercept diz que Tabata censurou Monark
O jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept, classificou como censura a posição da deputada Tabata Amaral que se contrapôs ao apresentador Bruno Aiub, o Monark, do Flow Podcast, que defendeu a existência de um partido nazista.
“Acho que @TabataAmaral e outros defensores da censura devem ter cuidado ao usar judeus como um argumento. Foram os judeus americanos que, como minoria, lideraram a luta pela liberdade de expressão, incluindo advogados judeus da esquerda defendendo o direito deles de protestar”, escreveu Glenn em sequência de tuites na rede social na manhã desta terça-feira (8).
Glenn usa argumentos parecidos com o do antropólogo baiano Antonio Risério, que defendeu o racismo reverso em artigo na Folha de S.Paulo, pinçando casos para defender a ideia de Monark, de institucionalização de um partido nazista.
Na sequência de tuites, o jornalista cita, além dos judeus, “o apoio de alguns líderes negros” dos EUA e descola uma frase de Noam Chomsky – “um dos intelectuais judeus de esquerda mais influentes do século 20” – para fazer a defesa da “liberdade de expressão” de nazistas.
“Sei que o debate no Brasil é diferente dos EUA. Aqui, o valor “liberdade de expressão” quase se tornou um frase de direita. Mas a história do esquerdismo judaico tem sido liderar em defesa desta liberdade, sabendo que a censura é sempre usada contra eles e outras minorias”, diz Glenn, ressaltando que não sabe “por que alguns esquerdistas brasileiros estão indignados com esses fatos históricos, alegando que ‘perdi minha personagem’”.
“As pessoas estão debatendo a liberdade de expressão mais do que nunca e, claro, todos têm o direito de apoiar a censura. Mas ninguém tem o direito de distorcer a história do ativismo esquerdista judaico – que liderou a defesa da liberdade para todos – pq é conveniente fazê-lo”, escreveu.
Reação
O comentário de Monark foi muito criticado por usuários de redes sociais. No Twitter, termos como “nazismo“, “monark” e “flow” ficaram entre os assuntos mais comentados durante todas as manhãs. A maioria das reações foi extremamente negativa.
Os internautas também pressionaram as empresas que patrocionam o podcast após as falas do youtuber. A patrocinadora Flash Benefícios anunciou que iria solicitar o encerramento formal da relação contratual com o Flow. Os donos da marca, Pedro e Guilherme Lane, têm família de origem judaica.
No Twitter, a página Judeus pela Democracia se pronunciou e afirmou que “ideologias que visam a eliminação de outros têm que ser proibidas”.
A cientista política Nailah Neves lembrou que além de ser anti-judeu, o partido nazista também era anti-negro e anti-LGBT. “Ele simplesmente está fazendo uma apologia a um partido que pregaria a morte a mais da metade da população brasileira”, publicou ela.
Histórico de racismo
Esta não é a primeira vez em que Monark dá opiniões controversas, normalmente tendendo à extrema direita. Em outubro do ano passado ele fez uma postagem em seu perfil no Twitter com a seguinte indagação: “ter uma opinião racista é crime?”. Após a repercussão negativa da frase, inclusive com a perda de patrocinadores, o podcaster afirmou que foi mal-interpretado.
Fonte: Socialismo Criativo