Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Secretaria Nacional de Mulheres do PSB promoveu, em parceria com a Fundação João Mangabeira, mais uma edição do “Cá Entre Nós”. O evento aconteceu nesta terça-feira (14), na sede da FJM, em Brasília (DF), com transmissão ao vivo e gratuita. O tema do encontro, “Sejamos Subversivas – a arte sutil de nunca fazer o que esperam de nós”, foi inspirado no livro da filósofa e pesquisadora francesa Gisèle Szczyglak.
Além de lideranças e militantes do partido, estiveram presentes a secretária nacional Dora Pires, o presidente Carlos Siqueira, a deputada federal Tabata Amaral (PSB/SP), a deputada federal Lídice da Mata (PSB/BA), a deputada distrital Dayse Amarílio (PSB/DF), o vice-presidente da FJM Alexandre Navarro, a gerente executiva da FJM Márcia Rollemberg e a prefeita Karime Fayad (PSB/PR).
Dora Pires abriu o encontro relembrando que este é o primeiro 8M após o retorno da esperança, em um governo atento às pautas femininas (e feministas) e que não haveria data melhor para falar da importância de sermos subversivas do que 14 de março, dia da morte de Marielle Franco (PSOL/RJ). Mãe, negra, bissexual e defensora dos direitos humanos, a vereadora assassinada em 2018 foi mais uma vítima do racismo, da homofobia, da misoginia e da violência política de gênero. Dora Pires dedicou a noite a Marielle e a todas as vezes em que mulheres tiveram coragem de serem subversivas. E convocou: “mulheres precisam se unir para não deixar que essa naturalização da violência e a demonização da política avancem no Brasil. Esses são dois ingredientes que nos afasta do universo político, que é o lugar onde devemos estar para construir a transformação, ter dias melhores e oportunidades maiores para nós, mulheres. Marielle se audaciou e se deu a super energia de decidir que o lugar dela é dentro da política, lutando pelos seus direitos.”
Márcia Rollemberg também destacou a luta da vereadora e de como ela deu a vida para que mulheres pudessem ocupar esses espaços de poder. A gerente executiva da FJM endossou que essas lutas precisam ser honradas para que a caminhada da paridade de gênero na política, independente do partido, siga adiante. O vice-presidente da FJM, Alexandre Navarro, reafirmou que a sociedade está mais esperançosa e que a equidade de gênero se faz urgente.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, agradeceu a presença da filósofa Gisèle Szczyglak e parabenizou a força da sua obra. Para Siqueira, mesmo que as mulheres tenham alcançado direitos, não se pode dizer que são muitos. Ele defendeu que a construção dos direitos das mulheres se dá junto com o aumento da representatividade, quanto mais mulheres dentro dos espaços, mais criação de estratégias que trabalhem para a equidade de gênero.
A deputada federal Tabata Amaral discursou sobre o quanto a luta das mulheres é doce e é amarga. Ela mencionou os últimos trabalhos realizados na Câmara dos Deputados e entre eles, o Projeto de Lei 4534/21 que tipifica o como crime o abuso de poder em troca de benefício sexual (também chamado de sextortion). Tabata reiterou que os desafios de uma mulhr na política são reflexo dos desafios da mulher na sociedade e que uma transformação cultural que se faz urgente vai beneficiar toda a sociedade.
A deputada distrital Dayse Amarilio relatou as dificuldades em ser mulher e militante no Brasil. E afirmou: “nós somos fortes quando decidimos votar, quando decidimos trabalhar com política ou sair como candidatas, porque é preciso ter muita coragem pra isso”. Finalizou reconhecendo que faz parte de uma nominata que criou essa possibilidade, lamentando por ser a única distrital do partido mas encorajando a participação de mais mulheres fortes e progressistas.
Lídice da Mata, deputada federal do PSB/BA, endossou a necessidade da identidade ser um tema central na luta das mulheres e dos homens porque ao falar de identidade, se está trabalhando a cultura do País.
A prefeita de Rio Branco do Sul (PR), Karime Fayad, compartilhou suas impressões sobre o machismo em municípios do interior do Brasil e a importância de se priorizar políticas públicas para as mulheres, como por exemplo, a distribuição de absorventes nas escolas.
Sejamos todas subversivas
Ph.D. em filosofia política e especialista em minorias e diversidade, Gisèle falou sobre o tema de seu mais recente livro lançado no Brasil, “Subversivas – A arte sutil de nunca fazer o que esperam de nós”. Segundo ela, mulheres e homens precisam tornarem-se “subversivas e subversivos” para desconstruírem uma sociedade milenarmente programada sob a visão masculina, que resultou na dominação dos homens em todas as esferas, público e privada, além da vida política, social e cultural.
Para Gisèle, as mulheres devem passar a ocupar cada vez mais a esfera “extra-biológica”, que são as instituições, a política e a cultura. Nesse campo, o domínio ainda é majoritariamente dos homens. “As mulheres devem tornar-se seres extra-biológicos. Quem decidiu quais seriam os critérios do extra-biológico? Os homens. Na construção extra-biológica, os homens tomaram todo o poder. Nós, mulheres, acabamos entrando ou habitando casas extra-biológicas, das quais jamais fomos as arquitetas, no entanto”, afirmou.
De acordo com ela, para ser um cidadão, é necessário pertencer a essa esfera extra-biológica, cujo acesso foi negado às mulheres por muito tempo. “Quando não se tinha acesso a essa esfera, ficava-se na invisibilidade: em casa, na ‘domus’, que vem do grego “domesticação”. E quem ficava na ‘domus’? As mulheres, as crianças, os idosos, as pessoas doentes e os escravos. E quem pertencia à esfera pública e ficava fora de casa? Os cidadãos, e quem eram os cidadãos? Os homens brancos”, analisou.
Segundo a filósofa francesa, historicamente os homens fizeram a humanidade acreditar que a sociedade é representada pela figura masculina, o que ela chama de “rapto civilizacional”. Mas, um processo que se constrói, pode ser desconstruído, argumentou. “Ninguém tem no seu código genético ‘cuidar dos outros’. Tampouco o gene de ferro de passar roupa. Não está no gene de ninguém organizar as férias de todo mundo e cuidar da geladeira para que ela esteja sempre cheia”, ironizou. “Devemos ser subversivas, não podemos mais aceitar esse sistema, sermos cúmplices desse processo e ficarmos reproduzindo o patriarcado. A subversão é você dar um passo para o lado, sair disso. É ir para a política, sem precisar se justificar. É assumir um cargo de líder e ficar sem medo de divorciar”, declarou.
Na avaliação de Gisèle, uma saída para desconstruir esse cenário é a adoção de cotas para cargos em empresas, instituições públicas e privadas, algo que vem acontecendo paulatinamente na França. Ela citou como exemplo algumas leis em vigor no país que caminham para a paridade de gênero em órgãos públicos e no setor privado. Entre elas, a exigência de 40% de mulheres em conselhos de gestão de empresas , além da presença feminina em 40% dos cargos da administração pública. Outra legislação obriga as empresas a publicarem relatórios anuais com índices de paridade, sob pena de não terem acesso ao mercado público, caso descumpram a regra.
“A subversão passa por não mais aceitar isso. É participando da sociedade, é mudando esse modus operandi da vida política”, disse. “É preciso que as mulheres se tornem protagonistas. É preciso que as mulheres construam o mundo e que se permitam serem livres. Isso é se libertar da necessidade de ser libertada, e é preciso que as mulheres cultivem a sororidade, que elas ajudem as outras mulheres até mesmo quando elas não estão de acordo com as outras, porque os homens apoiam os homens, até quando eles não estão de acordo entre si”, disse.
Com essa iniciativa, a Secretária reafirma a importância de trazer a equidade de gênero para o centro do debate bem como mais mulheres, para espaços de poder e momentos de decisão.
Fontes: Assessoria de Comunicação/PSB Nacional e Assessoria de Comunicação da Secretaria de Mulheres/PSB