Aniquiladas a facadas, alvejadas com disparos de revólver, espancadas até a morte – tudo isso em um ambiente familiar que deveria ser saudável. O fim da vida foi trágico, em 2013, para 92 mulheres, todas vítimas de violência doméstica no Rio Grande do Sul. A reportagem é de Kamila Almeida e Luísa Martins, publicada pelo jornal Zero Hora, 17-03-2014. O número poderia ter sido maior. Segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), no ano passado, 229 mulheres conseguiram escapar da morte em 89 cidades gaúchas, ficando às margens de entrar para as estatísticas dos femicídios enquadrados na Lei Maria da Penha. Não se pode chamar de sorte, mas de desfechos menos infelizes. As tentativas de homicídio contra a mulher gaúcha começaram a ser mensuradas em 2013 pelo Observatório da Violência Contra a Mulher – parceria entre a SSP e a Secretaria de Políticas para as Mulheres –, com o objetivo de evitar futuras mortes. “Nos assassinatos, de uma forma geral, não há como prever quem vai matar quem. Mas, na violência doméstica, monitorar os dados significa ter indícios de que aquela mulher está em situação de perigo. Nesses casos, autor e vítima estão bem delineados”, afirma o titular da SSP, Airton Michels. As estatísticas mostram que, em 2013, a cada 38 horas uma mulher sofreu atentado à vida no Estado. As cidades que lideram a lista são Porto Alegre, com 36 casos, Rio Grande, com 11, e Caxias do Sul, com 10. “São números altos, ainda mais considerando que todas as ocorrências poderiam ter sido convertidas em mortes de fato”, aponta o secretário. Ao longo dos quase oito anos em que a lei está em vigor, cada vez mais mulheres têm se sentido encorajadas a denunciar as agressões que, em sua maioria, são feitas pelos próprios companheiros ou ex-companheiros. Os dados estão no Relatório Lilás, documento elaborado no ano passado pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. De acordo com a senadora Ana Rita, relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que fez, no ano passado, uma radiografia da violência doméstica contra a mulher no Brasil, dois terços das vítimas de tentativa de homicídio procuram a delegacia. “Considero isso um grande avanço. Significa que a mulher tem mais serviços à disposição e está mais bem informada. Hoje, 90% das mulheres brasileiras conhecem a Lei Maria da Penha ou já ouviram falar”, diz. Raiva e ciúme são o estopim No entanto, a análise feita pela professora Lia Zanotta, do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade de Brasília (UnB), é de que os 229 casos computados pela SSP em 2013 são um número mínimo. Para ela, ocorrências registradas como ameaça ou lesão corporal também poderiam ser enquadradas como tentativas de femicídio. Lia e Ana Rita convergem opiniões quando dizem que esses crimes são causados, principalmente, por ciúmes ou raiva pelo anúncio da separação. Foi o que aconteceu em Rio Grande com Paula Rodrigues Veleda, 32 anos, morta com quatro tiros a caminho da escola onde dava aulas de português. Tipo de crime comum a todas as classes sociais, a violência contra a mulher ocorre, em mais de 80% dos casos, dentro de casa, um espaço privado onde, em tese, a polícia não pode estar para testemunhar. |
Fonte: IHU
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