A Rede de Atenção a Crianças, Adolescentes e Mulheres em Situação de Violência de Goiânia realizou, nos dias 9 e 10 últimos, o seminário Primeira Infância Livre de Violências. Convidada, fiz-me representar, por impossibilidade de agenda em Brasília.
Atribuo ao assunto a mais alta importância. Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância, publicados em dezembro de 2014, a cada hora uma criança morre no Brasil em consequência de ferimentos causados por espancamentos, queimaduras ou outros tipos de tortura física. A grande maioria dos casos ocorre dentro de casa, no lugar que deveria ser um refúgio para esses menores. E o que é pior, 80% de todos os casos de agressão envolvem parentes próximos, envolvem as pessoas que deveriam proteger, educar e amar essas crianças. São violências físicas, abandono, negligência, violência psicológica e toda uma infinidade de torturas cotidianas que fazem centenas de vítimas nos lares brasileiros, e não há limites socioeconômicos para essa barbárie. Quando uma criança sofre maus tratos e abusos, especialmente durante a primeira infância, aumenta significativamente a probabilidade de que vá se tornar um adulto violento e capaz de abusar e maltratar. Quando uma criança sofre maus tratos e abusos infligidos por pessoas em quem deveria confiar, ficam marcas profundas em seu inconsciente, e todo o seu desenvolvimento intelectual, psicológico e social fica comprometido. Nós não podemos mais ver o futuro de milhares de brasileirinhos ser posto em perigo. Precisamos tomar atitudes, precisamos mobilizar toda a sociedade, em todos os cantos deste País, para estancar definitivamente esse verdadeiro pesadelo a que nossas crianças estão sendo submetidas. Entre outras medidas, precisamos fortalecer os Conselhos Tutelares, as Delegacias Especializadas e as Promotorias de Justiça, para que sejam apuradas as centenas de denúncias de abusos que são recebidas todos os dias pelo Disque Direitos Humanos. Precisamos, também, acabar com a cultura do silêncio que ainda permanece nas vizinhanças, nas escolas e até nos hospitais. Quando qualquer pessoa percebe sinais de violência em crianças e adolescentes, tem o dever moral de denunciar. Quando qualquer pessoa testemunha abusos, prostituição infantil, maus tratos, tem o dever de denunciar à autoridade competente. Investir tempo, recursos, esforços na proteção global às crianças, por em prática o que a lei já prevê de modo a garantir-lhes uma vida livre de violência e um ambiente propício ao seu pleno desenvolvimento – essas são as melhores apostas que podemos fazer por um futuro melhor para todos. Por fim, quero destacar alguns números perversos. De acordo com levantamentos realizados pelo IBGE, 25% das famílias brasileiras estão na faixa de pobreza. Há um detalhe, porém, que torna essa informação ainda mais cruel: quando consideramos apenas as famílias que têm crianças entre zero e seis anos, ou seja, na primeira infância, observamos que 45% delas estão na faixa de pobreza. Em outras palavras: as famílias com mais crianças são exatamente aquelas que têm menos condições de assegurar-lhes a devida atenção. O atendimento à criança, concluímos, não se faz apenas com a elaboração de leis, mas com políticas públicas que deem condições de cidadania à população brasileira. Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã, ontem (15/11/2015) |
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Fonte: Jornal Diário da Manhã
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