A democracia alimenta e fortalece a maior política pública de todas, a transversalidade. Matriarca, ela conduz o planejamento, a formulação e a execução de medidas abrangentes e integradas, que enxergam com mais precisão tanto a realidade visível quanto suas raízes profundas. Conecta as partes — saúde, cultura, educação, meio ambiente, trabalho e renda, transporte, ciência, gestão — num todo mais completo e complexo. Como na realidade diária das mulheres do Brasil.
No Ministério da Igualdade Racial, não abro mão da interseccionalidade e da cooperação como norteadoras da nossa atuação. Mais do que discurso, é nossa prática política, aprendizado ancestral das que vieram antes de nós e nos guiam. A visão fragmentada reduz e despolitiza problemas sociais, dando a incorreta impressão de serem situações isoladas. Não são. O racismo, o machismo, os crimes de ódio, a pobreza, são todos sistêmicos.
Este 8 de março, dia de expandir a agenda permanente de luta das mulheres, se mostra mais transversal do que nunca. É evidente o compromisso do governo federal em articular políticas que enxergam com coragem demandas históricas e atuais das mulheres brasileiras, visibilizando a diversidade e as desigualdades que nos marcam: raça, classe, etnia, orientação sexual, idade, território.
Acesso à educação com a renovação da lei de cotas étnico-raciais nas universidades, bolsas de estudo para mulheres pesquisadoras, cursos de gestão e liderança para mulheres negras servidoras do alto escalão, fomento ao empreendedorismo e renda, apoio às mães vítimas de violência letal.
Somamos, em parcerias com demais órgãos da Administração Pública Federal, mais de R$ 28 milhões em políticas direcionadas, além das interseccionais com outros recortes, para mulheres pretas, pardas, quilombolas, ciganas, afro-religiosas, evangélicas, católicas, solteiras, casadas, mães, LGBT`s, empreendedoras, trabalhadoras domésticas, pesquisadoras, gestoras, donas de casa.
Sem falar das demais medidas por Igualdade salarial, política do cuidado, enfrentamento ao feminicídio e à violência política, protocolo de proteção às mulheres em casas noturnas, bolsa família, valorização da primeira infância, fomento à cultura produzida por mulheres.
Política plural para mulheres plurais.
As mulheres sustentam as estruturas nas casas, nas comunidades e favelas, nas cidades. São elas, especialmente as mulheres negras, que movem adiante o nosso país e precisam de políticas públicas específicas para poderem acessar a dignidade e construir um futuro. O país deve a estas mulheres, às mães e às avós delas, esta estrada de possibilidades. Não como favor, mas como dever democrático de reparação a violências seculares a que foram submetidas.
É para elas que estamos construindo o futuro de emancipação: “trazemos conosco a marca da libertação de todos e todas”, nos ensinou Lélia Gonzáles. Somos essencialmente transversais e viemos para ficar. Esse ministério, formado majoritariamente por mulheres negras, resgata a trajetória de luta negra e feminina que sofreu graves revezes nos últimos anos e aponta para o amanhã, que é coletivo, comprometido, e onde cabem todas as mulheres.
Esse é nosso desafio neste governo que sonha conosco ao (re)criar o Ministério da Igualdade Racial, das Mulheres, dos Povos Indígenas e ao assumir o compromisso de transformar a realidade desigual e promover dignidade para toda a população.
Finalizo lembrando a escritora Carolina de Jesus, ao lhe sugerirem haver acaso na sua trajetória. “Falavam que eu tenho sorte, eu disse-lhes que eu tenho audácia”. Nossa gestão pública se dá em cooperação, sempre transversalmente e em rica parceria com todas as ministras, ministros, os movimentos de mulheres, em escuta permanente da população, desenhando audaciosamente o Brasil da igualdade.
Fonte: UOL