Caso ocorreu na noite de sexta-feira, quando uma professora de inglês negra não quis despachar uma mochila com seu notebook e foi retirada do avião em Salvador
A Polícia Federal instaurou neste domingo um inquérito policial para apurar “a eventual existência dos crimes de preconceito de raça ou cor durante os procedimentos a retirada compulsória de passageira do Voo Gol 1575 no dia 28/4 no Aeroporto Internacional de Salvador/BA”.
A notícia foi divulgada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, nesta manhã nas suas redes sociais.
“A investigação foi instaurada na Superintendência Regional da Polícia Federal na Bahia e permanecerá em sigilo até a completa elucidação dos fatos”, afirma a PF.
A professora de inglês e aluna de mestrado em Saúde Pública na Fiocruz, Samantha Vitena Barbosa, de 31 anos, uma mulher negra, foi expulsa de um avião da Gol que iria de Salvador a São Paulo, na noite de sexta-feira, por “ameaçar a segurança do voo” ao não querer despachar uma mochila com seu notebook. Ela foi retirada à força de dentro do avião e ficou 8 horas em poder da polícia.
Entenda o caso
De acordo com o relato de passageiros, como a aeronave estava cheia, Samantha acabou tendo dificuldade para conseguir um lugar no bagageiro para guardar sua mochila. A tripulação do voo 1575, então, teria ordenado que ela despachasse a bolsa, o que rejeitou, já que carregava um notebook que poderia ser danificado no compartimento de carga.
Com o impasse, a decolagem acabou atrasando, mesmo após ela ter conseguido com ajuda de outros clientes acomodar as suas coisas. Uma confusão se formou e a passageira, identificada como uma professora de inglês, acabou retirada à força por três agentes da Polícia Federal. Tudo foi registrado em vídeo. O caso gerou revolta e acusações de racismo por parte dos funcionários da companhia.
“(…) se eu despachasse meu laptop, ele ficaria em pedaços. Os comissários não moveram um dedo para me ajudar”, diz Samantha na gravação, feita por outra passageira. “Os comissários falaram para mim que se a gente pousasse em Guarulhos, a culpa seria minha, porque eu não queria despachar a mochila. Ele teve a coragem de falar isso para mim. A culpa não é porque o voo está mais de 2 horas atrasado. Sendo que faz mais de 1 hora que eu coloquei a mochila aqui e o voo não decolou. Agora, há três homens para me tirar do voo sem me falar o motivo. Eu perguntei e ele disse que não vai falar. E disse que se eu não sair desse voo, ele vai pedir para todo mundo sair, que eu estou desobedecendo e estaria cometendo um crime”, desabafa a passageira, enquanto outras pessoas reagem: “É um absurdo!”, “eu nunca vi um negócio desse na minha vida!”.
Um agente, então, se aproxima e diz que a passageira está “faltando com a verdade”. “Estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante”, afirma. Samantha começa a questionar por que está sendo retirada do avião, enquanto várias passageiras começam a protestar contra a expulsão. Até que um dos agentes federais diz que o comandante ordenou a retirada dela por questões de “segurança de voo”. Em nenhum momento da gravação a mulher apresenta qualquer tipo de resistência, ofende ou agride qualquer um dos funcionários ou policiais. Mesmo assim, por fim, acaba retirada. No momento em que abre o bagageiro para pegar a mochila, que já estava acomodada, é possível ver que, no mesmo compartimento, há várias outras malas até maiores que a dela.