A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou hoje que o governo federal vai criar um memorial para prestar solidariedade às vítimas e lembrar os erros cometidos na pandemia que levaram o Brasil a superar 700 mil mortes pela covid-19.
Como falei do Holocausto, e tem sido uma marca dos museus de holocausto e espaços de democracia em todo mundo nos países que viveram a ditadura, aqui no Ministério da Saúde — e já como decisão de governo — nós teremos um memorial da covid e teremos uma política de memória desse triste tempo.
A declaração foi feita durante palestra na reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Curitiba.
A forma como o Brasil abordou, a política de governo absolutamente desastrosa que nos levou a 700 mil vidas perdidas… Isso não pode ser esquecido. Se não chamar isso de genocídio, não sei que nome podemos dar.
Mais falas
Nísia ainda citou os impactos da pandemia no Brasil e citou que ela causou impactos profundos. “Alguns estão sendo avaliados, precisam de pesquisas; mas houve um impacto enorme nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [da ONU]”, disse
Ela diz que o ministério tem discutido questões como preparação para futuras emergências e os efeitos da pandemia nas funções de trabalho na área de saúde, com uma dificuldade de provimento de profissionais.
Para uma plateia de estudantes, professores e pesquisadores, Nísia ainda fez questão de criticar a cassação por Jair Bolsonaro (PL) das medalhas por mérito aos cientistas Marcos Lacerda e Adele Benzaken, ambos da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e elogiar a união da classe ao negar receber a condecoração do ex-presidente. No último dia 12, o presidente Lula condecorou os cientistas.
Nós, da comunidade científica, precisamos mais do que ficar vigilantes, nós precisamos estar fortalecendo uma visão democrática entre nós. Somos alvos de ataque, como muitas vezes aconteceu no governo passado, e cabe a nós esse fortalecimento.
Ao lembrar do motivo para Adele Benzaken não receber a medalha — uma cartilha com orientação a LGBTQIA+ com prescrições cientificamente aprovadas em relação HIV/Aids —, ela tratou o ato como “outra faceta das trevas a que fomos submetidos”.
Em muitos momentos, nós tivemos a sensação de viver uma completa distopia, uma espécie de ‘O conto da aia’. Nós não nos libertamos dessas ameaças, isso é uma reflexão importante a ser feita. Nossa sociedade continua muitas vezes polarizada por ideias contrárias às dominantes a nós [cientistas]. Há muito o que fazer para consolidar uma visão democrática da sociedade.
O que diz Bolsonaro
O UOL procurou a assessoria de Bolsonaro. A reportagem será atualizada se houver posicionamento.
Em outras ocasiões, o ex-presidente defendeu seu legado da pandemia. Na abertura da Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2021, lamentou “as mortes ocorridas no Brasil e no mundo” e falou que “sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea”. Também já ressaltou que comprou vacinas e defendeu a autonomia dos médicos durante a crise sanitária.