Em março deste ano, a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, lançou uma campanha para banir a palavra “mandona” das conversas sobre jovens garotas que apresentam comportamento de liderança na infância. Ainda que voltada para meninas em idade de crescimento, Sheryl explicou sua motivação para a iniciativa destacando que mesmo mulheres em cargos altos de empresas ou governos lidam constantemente com críticas de que são “agressivas”, “difíceis” ou “ambiciosas demais”.
De acordo com uma nova pesquisa feita no setor de tecnologia, as diferenças com que homens e mulheres são avaliados por seus superiores realmente existem – e apontam que profissionais mulheres são criticadas por terem personalidade “difícil” com muito mais frequência do que seus colegas homens. Kieran Snyder, doutora em linguística pela Universidade da Pensilvânia, analisou 248 avaliações de desempenho de 180 profissionais de alta performance, todos funcionários de empresas do setor de tecnologia nos Estados Unidos. “A pergunta que eu quis responder era: o tom ou o conteúdo da avaliação varia de acordo com o gênero do profissional?”, explica a especialista em um artigo para a revista “Fortune” no qual compartilha seus resultados. Kieran trabalha atualmente na Amazon e tem passagens pela Microsoft. Ainda que positivas, a maioria das avaliações continham feedback crítico, casos em que as profissionais mulheres eram mais propensas a recebê-lo. Esse tipo de retorno apareceu em 88% das avaliações delas, e em 59% das direcionadas aos profissionais homens. O tipo de recomendação feita também era bastante diferente: a maioria dos homens recebeu críticas construtivas relacionadas ao trabalho feito por eles, como a necessidade de desenvolver determinadas habilidades ou se aprofundar mais em detalhes. Já as direcionadas às mulheres continham, além de recomendações relacionadas ao trabalho, críticas a personalidade das profissionais, como a necessidade de “prestar mais atenção ao tom usado” ou ser menos crítica com os outros. Esse tipo de descrição aparece apenas duas vezes entre as 83 avaliações de homens que continham feedback crítico – e em 71 das 94 avaliações de desempenho críticas recebidas por mulheres. Kieran também analisou as palavras usadas pelos superiores ao fazerem essas críticas. “Há uma percepção comum de que mulheres no setor de tecnologia lidam com um tipo de feedback de personalidade que seus colegas homens simplesmente não recebem. Palavras como ‘mandona’, ‘abrasiva’, ‘estridente’ e ‘agressiva’ são usadas para descrever o comportamento das mulheres quando elas lideram, enquanto ‘emocional’ e ‘irracional’ surgem quando elas expressam opiniões contrárias. Todas essas palavras aparecem pelo menos duas vezes nas avaliações de desempenho de mulheres que analisei, algumas com muito mais frequência”, diz. A palavra “abrasiva” chega a ser usada 17 vezes na descrição de 13 mulheres diferentes. Dentre todos esses termos, o único que aparece nas avaliações de homens é “agressivo”, usado apenas três vezes – sendo que em duas delas, a recomendação é para que o profissional seja mais agressivo no trabalho. A especialista também observou se o gênero do chefe dando o feedback influenciava no tom das avaliações, e viu que esse tipo de crítica era feita tanto por superiores homens quanto por mulheres. Para Kieran, o fato exige atenção tanto de gestores quanto de departamentos de recursos humanos nas empresas do setor. “Como alguém que já foi chamada de palavras desse tipo, há alguma validação em comprovar com dados que esse padrão é real. Mas como gestora, fico horrorizada que deixamos algo tão significativo passar tão perto dos nossos narizes”, diz. Letícia Arcoverde |
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Fonte: Valor Econômico
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