Relatora Eliziane Gama e a deputada federal Sâmia Bomfim são os alvos mais constantes; levantamento leva em conta as primeiras seis sessões
Desde a instauração das CPI’s do dia 8 de janeiro e do MST, parlamentares mulheres que integram o colegiado foram interrompidas, em média, quatro vezes por sessão. Até esta terça-feira, duas reuniões foram realizadas na comissão que investiga os ataques golpistas, nas quais a relatora Eliziane Gama somou oito interrupções. Na sessão de hoje, a apresentação do plano de trabalho foi cortada quatro vezes.
Em entrevista ao GLOBO, a senadora afirmou que não será intimidada por esses atos de violência que considera fruto do machismo:
— Não me intimidarei com um grito dado por eles ou interrupções de nossa fala. Tais atitudes não me demovem das minhas convicções. Tenho um histórico de luta contra a violência política e hoje, mais do que nunca, não estou sozinha: conto com a força de outras mulheres e de homens também, daqueles que não praticam e não toleram o machismo — destaca Eliziane.
O endosso à parlamentar, porém, vai além dos acenos feitos por colegas do parlamento. De acordo com pesquisa da Quaest, feita a pedido da reportagem, as interrupções das mulheres geraram 37 mil menções nas redes entre os dias 20 de maio e 1º de junho.
Na sessão desta terça-feira, Eliziane não foi a única mulher a ser interrompida. A deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) e a senadora Soraya Thronicke (União-MS) também foram alvos de desrespeito.
— Peço respeito aos colegas, eu fiz silêncio. Aqui não é comissão nem de P, nem de L, nem de Lula e Bolsonaro. Aqui é comissão de D de Democracia — disse Thronicke durante a reunião.
Já no colegiado que investiga as invasões recentes do movimento social, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) teve a fala interceptada 14 vezes e o microfone cortado pela mesa diretora em três ocasiões. Sua colega de bancada, a deputada Talíria Petrone (RJ), também teve seus pronunciamentos desrespeitados por parlamentares em três ocasiões.
— Há uma diferença entre eu e o Nilto Tatto ou o Paulão (deputados do PT que integram a CPI), por exemplo, quando fazemos uma questão de ordem. É nítida a diferença de tratamento. O MPF já entrou com representação (na PGR) pelos casos na CPI, e partiu da repercussão que o machismo e a violência política de gênero enquanto método para impedir que nossa linha política tenha expressão em uma CPI como essa — afirmou a deputada ao GLOBO.
Na semana passada, o Ministério Público Federal acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) por avaliar que Sâmia Bomfim foi vítima de violência política de gênero durante sessões da CPI do MST. A denúncia cita o episódio em que a parlamentar teve o microfone desligado durante sua fala pelo presidente da comissão, o tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), na abertura dos trabalhos na última semana.
A violência política de gênero é prevista pelo código penal desde 2021. A Lei 14.197/21 alterou o artigo 359, tornando crime sujeito a prisão de 3 a 6 anos os atos de restringir, impedir ou dificultar o exercício dos direitos políticos de uma mulher.