Conselho de Ética da Alesp negou representação da deputada Isa Penna (PCdoB) que pedia cassação do deputado Delegado Olim (PP) por dizer que deputada teve ‘sorte’ em ser assediada
O Conselho de Ética da Alesp negou nesta terça-feira (10) a representação da deputada Isa Penna (PCdoB) contra o deputado Delegado Olim (PP) por quebra de decoro. Em participação em um podcast no dia 20 de abril, Olim afirmou que a deputada teve “sorte” de ser assediada pelo deputado Fernando Cury (União Brasil) dentro da Casa e que iria se reeleger graças ao ocorrido.
Por seis votos (todos de homens) a quatro, o pedido de processo acabou sendo arquivado. Em conversa exclusiva com Marie Claire, Isa Penna classificou a decisão como “revoltante e inadmissível” e ainda destacou que mulheres que lutam para ocupar um espaço na política em defesa da democracia são “metralhadas diariamente”.
“É inadmissível que a gente viva em um país onde um machismo tão escancarado e institucionalizado seja tão admitido na lógica institucional. Por mais que a sociedade civil grite, as instituições parecem surdas e muito atrasadas para aquilo que precisamos avançar”, afirma a deputada.
“As mulheres que conseguem acessar esses espaços são metralhadas diariamente, então nossa resistência significa resistir enquanto mulheres que querem fazer política e é hora de os deputados entenderem que nenhuma violência contra qualquer mulher será tolerada”, continua.
A representação protocolada junto ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Alesp por Penna no dia 25 de abril pedia a cassação do parlamentar do PP por quebra de decoro. Este colegiado é o mesmo que decidiu dar prosseguimento ao processo de cassação de Arthur do Val (União Brasil) mesmo após o ex-deputado ter renunciado ao cargo depois de suas falas machistas e misóginas contra mulheres ucranianas. Além da representação na Alesp, Penna também enviou ao Ministério Público uma notícia-crime pedindo que a Promotoria instaurasse investigação criminal contra Olim.
Na votação desta terça-feira Adalberto de Freitas (PSDB), Barros Munhoz (PSDB), Wellington Moura (Republicanos), Professor Kenny (PP), Campos Machado (Avante) e Alex de Madureira (PL) votaram pelo arquivamento do pedido, enquanto Enio Tatto (PT), Marina Helou (Rede), Erica Malunguinho (PSOL) e Maria Lúcia Amary (PSDB) votaram à favor do prosseguimento do processo. Com seis votos de homens pelo arquivamento, Isa Penna também apontou um “corporativismo machista” dentro da Alesp.
colegas homens que mais uma vez agiram de forma corporativista. Por esse tipo de comportamento propus um projeto que visa criar paridade de gênero no Conselho de Ética. Os votos a favor da abertura do processo de todas as mulheres mostram que mesmo com uma pluralidade ideológica existe uma solidariedade entre as mulheres por saberem o que é assédio e o que deve ser o decoro de um parlamentar eleito. Então, sem dúvidas, é necessária uma reforma política com a criação de cotas nas cadeiras. É preciso proporcionalizar a representatividade na política brasileira para mulheres e outras populações que sofrem opressões estruturais como negros e LGBTQIAP+”, defende.
“A Casa e seus parlamentares mais uma vez mostram desprezo pela luta contra a violência de gênero. Não vou aceitar calada mais uma tentativa de silenciamento e propagação do machismo nesta casa de poder”
Isa Penna
Penna também afirmou estar estudando junto a sua equipe jurídica a decisão desta terça-feira para recorrer e ingressar com um novo pedido de responsabilização do delegado Olim por suas falas, e destacou a necessidade de politizar a sociedade brasileira e incluir mais pessoas dentro do debate político para combater o que classificou como “neofascismo”.
“Estamos assistindo uma política do mais baixo nível que terá que ser superada se o Brasil quiser ser uma nação. Nossas instituições precisam de legitimidade com o povo e hoje vemos episódios de violência de gênero e machismo serem naturalizados na política como uma forma de luta contra mulheres que estão na política”, desabafa.
“Já fui assediada na Alesp e sempre fui muito sufocada nesse espaço. Quando falamos em fascismo como supremacia branca, esquecemos que em todos os momentos históricos os supremacistas arianos viam a mulher à margem da política. (A mulher) Sempre foi vista apenas como reprodutora e, quando muito, uma boa dona de casa. Vimos isso nas experiências do fascismo alemão e italiano, e agora vemos nesse neofascismo uma misoginia intrínseca. Esse tipo de comportamento está sendo massificado e também incorporado às redes sociais para excluir as mulheres e fazer uma política contra todas as mulheres”, finaliza.
Deputado se defende
Em comunicado à imprensa após a repercussão de sua fala no podcast, o deputado Delegado Olim disse que “se expressou mal”. “A intenção era dizer que a deputada Isa Penna ficou mais conhecida com o caso infeliz e repugnante de assédio do deputado Fernando Cury, e conhecendo o deputado, sabe que ele não teve em nenhum momentoa intenção de fazer aquilo, mas mereceu ser punido porque as mulheres precisam de respeito sempre”, disse ele na ocasião.
Fonte: Marie Claire