Maior parte tem entre 25 e 59 anos, ensino fundamental ou menos e trabalha sem carteira assinadaEla é mulher, negra, trabalhadora – mas sem carteira assinada –, tem idade entre 25 e 59 anos e ensino fundamental ou menos. De forma geral, esse é o perfil dos brasileiros não bancarizados, de acordo com pesquisa do instituto Data Popular. O levantamento mostra que entre as 55 milhões de pessoas sem acesso ao sistema financeiro no país, 60% são mulheres, e 56% trabalham. Autônomos, empregados sem carteira assinada e donas de casa representam 63% do total. Maria Elza Aguiar Mateus, 50, conhece bem essa realidade. Conciliando o trabalho de dona de casa com a lavação de roupa de vizinhos e os cuidados com a afilhada para garantir uma renda extra, ela faz parte do contingente de pessoas que até têm renda, mas nunca tiveram contato com os bancos. “No meu caso, o jeito é guardar o dinheiro debaixo do colchão”, diz ela, aos risos. Filha de Maria Elza, a estudante de engenharia Letícia Aguiar Mateus, 18, também não tem conta em banco. A jovem se ocupa apenas com a faculdade, mas não vê a hora de entrar no mercado de trabalho, ter a própria renda e poder guardar dinheiro. Mas, diferentemente da mãe, ela não pensa em acomodar as economias debaixo do colchão. “Deixa só eu arrumar um estágio. Vou abrir uma conta corrente e, principalmente, uma poupança para economizar”, projeta a jovem. A faixa etária de Letícia – entre 18 e 24 anos – tem 20% dos não bancarizados do país, segundo o Data Popular. De acordo com a professora da Fundação Getúlio Vargas Marlene Kraus, as instituições financeiras já começam a voltar as atenções para esse público, em busca de novos clientes. “Antigamente, só um banco oferecia a modalidade de conta universitária. Hoje, quase todos têm. Esse cliente mais jovem, sobretudo o universitário, tende a permanecer nessa instituição bancária”, diz. DESAFIO. Segundo os pesquisadores do Data Popular, “o desafio dos bancos é adequar sua capilaridade, sua oferta de serviços e seu discurso para os 55 milhões de brasileiros sem bancos. Mesmo com tal conclusão, a diarista Elisa Gomes de Moura, 56, não faz nenhuma questão de integrar o sistema financeiro. “Eu? Abrir conta? Nem pensar. Vivo tranquilamente assim. Se eu tiver conta, acho que vou gastar muito”, explica. O professor de finanças Eduardo Coutinho, do Ibmec, aponta que, para consumidores resistentes como Elisa, o varejo já adotou estratégias. “Os carnês das grandes redes são uma forma de integrar essas pessoas e garantir o consumo delas. Elas não estão isoladas”, analisa. |
Fonte: O Tempo
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