Das 15 secretarias de Estado, apenas três são comandadas por mulheres; nas estatais, apenas 9 são diretoras entre 60 cargos de diretorias
Um levantamento realizado pela Itatiaia revela que as mulheres ocupam apenas 20% dos cargos no primeiro escalão do Governo de Minas Gerais. Das 15 secretarias da administração estadual, apenas três são lideradas por mulheres.
São elas: Elizabeth Jucá, secretária de Estado de Desenvolvimento Social, Marília Carvalho de Melo, secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e Luísa Barreto, secretária de Estado de Planejamento e Gestão. Além delas, Simone Deoud lidera a Ouvidoria-Geral do Estado de Minas Gerais (OGE/MG), órgão autônomo responsável por fiscalizar os serviços públicos estaduais prestados.
A situação não é muito diferente nas empresas estatais: entre os 60 cargos voltados para diretorias distribuídos entre as empresas do estado, apenas 9 são ocupados por mulheres. Copasa, Codemig, Codemge, Gasmig, BDMG, Cohab, Prodemge, Copanor, Emater e Invest Minas não contam com nenhuma mulher em cargos de Diretoria. A Minas Gerais Participações S.A foi a empresa que mais apresentou mulheres em cargos de diretoria: 2 diretoras para 3 cargos de Diretoria.
Elizabeth Jucá, número um da pasta de Desenvolvimento Social do Estado, explica que a participação feminina fortalece a construção de políticas públicas “mais justas e equilibradas” e que é “imprescindível para a democracia”.
“Os desafios entre os gêneros são constantes em todos os ambientes organizacionais, reflexo da estrutura machista em que vivemos. No Brasil, a política é historicamente conduzida por homens, assim como os cargos de alto escalão, o que torna mais desafiador a luta pelos mesmos direitos e oportunidades. Aqui em Minas, vejo o processo seletivo para cargos de gestão como um avanço na construção de uma sociedade mais justa no que se refere à representatividade feminina”, afirma.
Elizabeth Jucá é economista pela Universidade de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em Finanças e Gestão Pública, a secretária está há cinco anos à frente da pasta.
Já a secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto, menciona os avanços que o Governo de Minas teve em relação à participação feminina e afirma que, no passado, mulheres não ocupavam determinadas pastas.
“Na gestão do governador Romeu Zema há uma preocupação muito grande em garantir a representatividade feminina. Para além de ter várias mulheres em postos chave, as mulheres ocuparam pela primeira vez postos muito relevantes. Tivemos pela primeira vez uma mulher secretária de agricultura, uma mulher secretária de Meio Ambiente e eu mesma, fui pela primeira vez, a presidente da Emater, uma empresa com mais de 70 anos de história”, afirma. Especialista em Políticas Públicas, Barreto está há três anos à frente da Seplag. No entanto, ela deve se afastar das suas atividades para concorrer à Prefeitura de Belo Horizonte em 2024.
Problema não é específico de Minas Gerais
Além de evidenciar a disparidade de gênero no cenário político do estado, a doutora em Ciências Sociais Bruna Camilo destaca que os homens ainda predominam nos cargos de maior poder decisório. Bruna, que também é mestre em Políticas Públicas com formação em Ciências do Estado, explica que a falta de representatividade no primeiro escalão do governo é reflexo de um problema mais amplo de desigualdade de gênero na política e na sociedade.
“A sub representação feminina na estrutura do Governo de Minas não é exclusivo do estado, é estrutural. As mulheres estão apenas em cargos voltadas para o cuidado. Mas elas também podem estar em cargos voltados a gestão, finanças e transportes, entre outros”.
A pesquisadora ainda afirma que a baixa representatividade de mulheres em cargos públicos de liderança pode afetar a estruturação de políticas públicas de gênero.
“É claro que homens também podem pensar em políticas públicas voltadas para as mulheres, mas a vivência afeta diretamente a construção de uma política pública. Temos, por exemplo, a Lei Federal nº 14.214, que cria o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, construída por mulheres que enxergavam a necessidade de se promover dignidade menstrual. A mulher enquanto representante de um governo também estará atenta ao que atravessa a sua vivência”, complementa.
Diante desse cenário, a especialista diz que enfrentar a disparidade é um desafio necessário: pressionar por mudanças e incentivos que garantam uma maior participação das mulheres na política e em cargos de liderança.
“Para quebrar essas práticas é preciso primeiro enxergar o problema. Temos que pensar na diversidade na estrutura do estado porque é onde se executam as políticas. É preciso que essa discussão seja promovida nos espaços de poder, e aí está o desafio: os espaços de poder são majoritariamente comandado por homens. Como debater desigualdade em um cenário composto pela maioria de homens? É necessário sensibilidade dos gestores para debater o tema e participação popular”.
O que diz o Governo de Minas?
Procurada pela reportagem da Itatiaia, o Governo de Minas Gerais afirmou que a participação de mulheres em cargos de liderança é um desejo da atual gestão. Confira nota na íntegra:
“A valorização e ampliação da participação das mulheres em cargos de liderança no Poder Executivo é um desejo da atual gestão do Governo de Minas, que vem trabalhando para que isso ocorra. Como resultado da atuação nesse sentido, a título de exemplificação, as mulheres representam cerca de 23% no secretariado atualmente — no último ano do governo anterior (fevereiro de 2018), representavam 5%. Além disso, pela primeira vez, em 130 anos de existência, foi possível contar com uma mulher à frente da Secretaria de Agricultura (Ana Valentini), que se retirou da pasta para concorrer no pleito eleitoral de 2022. Esta gestão tem ainda a primeira mulher no comando da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Marília Melo).
Atualmente, na atual gestão há três secretárias mulheres: Luísa Barreto (secretária de Estado de Planejamento e Gestão/Seplag), Elizabeth Jucá (secretária de Estado de Desenvolvimento Social/Sedese) e Marília Melo (secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável/Semad), todas escolhidas a partir de critérios técnicos de competência e experiência.”
Confira a relação mulheres x diretorias nas estatais de Minas Gerais
Cemig
7 diretores – 1 mulher
Copasa
5 diretores – 0 mulher
Codemig
3 diretores – 0 mulher
Codemge
6 diretores – 0 mulher
Gasmig
3 diretores – 0 mulher
BDMG
5 diretores – 0 mulher
Cohab
5 diretores – 0 mulher
Prodemge
4 diretores – 0 mulher
Copanor
4 diretores – 0 mulher
Emater
4 diretores – 0 mulher
EMC
7 diretores – 3 mulheres
Invest Minas
4 diretores – 0 mulher
MGS
6 diretores – 2 mulheres
MGi
3 diretores – 2 mulheres
Epamig
3 diretores – 1 mulher
Fonte: Itatiaia