Nas últimas eleições apenas 24 mulheres foram eleitas prefeitas em Santa Catarina; 390 se elegeram vereadoras contra 2.508 homens empossados
O quadro de desigualdade em relação à participação feminina na política brasileira ainda é um desafio a ser superado. Os números obtidos nas últimas eleições municipais mostram um leve crescimento da presença das mulheres nas candidaturas, em comparação com pleitos anteriores.
No entanto, os números ainda são baixos para quem representa 53% do eleitorado brasileiro.
De acordo com os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) publicados nesta segunda-feira (21), referentes às eleições municipais 2020 em Santa Catarina, 1046 mulheres já se candidataram aos cargos de prefeita (17), vice-prefeita (28) e vereadora (1001).
Os homens seguem na frente com 2.087 candidaturas. São 136 candidatos para o cargo de prefeito, 125 para vice-prefeito e 1826 para vereador.
Os partidos podem apresentar candidaturas até o dia 26 de setembro junto ao TSE. Neste ano, as eleições acontecerão em novembro em função da pandemia. O primeiro turno será realizado em 15 de novembro, e o segundo, em 29 de novembro.
Mulheres são minoria entre os eleitos
Nas eleições de 2016, 16.912 candidatos concorreram — 735 prefeitos, 736 vice-prefeitos e 15.441 vereadores. Desse total eram homens 11.665 (68,97%) e 5.247 mulheres (31,03%). A diferença entre os sexos é mais visível ainda quando são analisados os candidatos eleitos.
Para o cargo de prefeito, apenas 24 mulheres foram eleitas. Já para a vaga de vereador, o número de escolhidas foi de 390 contra 2.508 homens empossados.
Os números do último pleito são menos desiguais se comparados aos de 2012 e 2008 em Santa Catarina. O número de vereadoras eleitas, por exemplo, aumentou 43% se comparados os dados de 2012 e 2016. De 271, passou-se a 390 eleitas.
O mesmo aconteceu no número de prefeitas. De 15 em 2008, o número passou a 24 no último pleito.
Os números do último pleito são menos desiguais se comparados aos de 2012 e 2008 em Santa Catarina. O número de vereadoras eleitas, por exemplo, aumentou 43% se comparados os dados de 2012 e 2016. De 271, passou-se a 390 eleitas.
O mesmo aconteceu no número de prefeitas. De 15 em 2008, o número passou a 24 no último pleito.
Presença feminina
A professora de Direito Público e Ambiental e secretária estadual de Mulheres do PSB (Partido Socialista Brasileiro), doutora Elizete Lanzoni, considera que o aumento da presença feminina na política diz respeito, diretamente, ao equilíbrio da democracia e à defesa dos direitos das mulheres.
A expectativa para as eleições 2020 é que haja o aumento da participação feminina, apesar da pandemia da Covid-19. Assim, quanto mais mulheres na política, maiores serão as políticas a favor delas.
Nesse sentido, Lanzoni defende que a educação política é a ação de longo prazo mais segura e eficaz para mudar o quadro de desigualdade entre homens e mulheres.
“É preciso inserir a criança e adolescente no mundo político, com noções de cidadania, conhecimento sobre a constituição federal e a conscientização de que o mundo político também é das mulheres, assim como qualquer outra profissão”, diz.
Cotas de gênero
A participação da mulher depende, ainda, de ações intra e extrapartidárias. Elizete avalia que a implantação das cotas de gênero foi importante para o estímulo da mulher na política. No entanto, a professora defende que a cota não pode ser vista como algo eterno e não pode ficar restrita às candidaturas.
“É preciso que haja uma exigência da participação da mulher nas executivas dos partidos e nos processos decisórios. Não adianta ter a cota da candidatura, mas não ter efetivamente a participação da mulher, a vez e a voz dela”, afirma.
As cotas reforçam a necessidade de se combater as “candidaturas laranjas”. Para isso, a professora defende que as mulheres devem ter consciência da relevância delas na política, como instrumento de mudança social.
“Quando o membro de um partido político diz para uma mulher para ela emprestar o nome para ajudar o partido, na realidade, está desvalorizando essa mulher. É uma candidatura falsa, proposta para ajudar a candidatura de um homem. A candidatura laranja é um estelionato eleitoral e precisa ser combatida”, conclui.
Fazer a diferença
Na busca por representatividade na política, um grupo de mulheres se uniu para tentar ocupar um dos cargos na Câmara Municipal de Florianópolis. O coletivo Bem Viver (PSOL) é formado por Anaide Wrublevski Aued, Cíntia Mendonça, Lívia Guilardi, Marina Caixeta e Mayne Goes.
“A gente viu que na época das eleições, nós não poderíamos ficar isentas, caladas, sem se posicionar, sendo que a gente está na frente de uma grande crise mundial, social, política e econômica”, diz a mestra em Administração Pública, Cíntia Mendonça.
A construção da candidatura, explica Mendonça, é inspirada em outros processos já constituídos nas últimas eleições. Em 2018, o PSOL de Brasília lançou uma candidatura coletiva ao cargo de deputado estadual. Com nome de urna “Mandato Coletivo”, o grupo formado por quatro candidatos recebeu 6.040 votos, mas não foi eleito.
A bióloga e doutora em Ecologia pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Anaide Wrublevski Aued, acredita que o papel do coletivo é pela igualdade de gênero.
“É importante você criar políticas que protejam as mulheres, como também deem oportunidades iguais para elas. Nós todas, como mulheres, vamos estar representando o papel das mulheres lá”, diz.
Atualmente, em Florianópolis, apenas uma mulher ocupa o cargo de vereadora. Carla Ayres (PT) assumiu o cargo como suplente em outubro de 2019. Contando com Ayres, apenas 13 mulheres já ocuparam o cargo na Câmara Municipal da Capital.
Contudo, desse total, apenas sete foram eleitas. São elas: Clair Castilhos, Angela Amin, Jalila El Achkar, Zuleika Mussi Lenzi, Liacarmem Kleine, Angela Albino e Maria da Graça Dutra.