Para diretoras, número de artistas reconhecidas ainda é pequeno, mas tende a crescerNo universo do cinema, igualdade não é exatamente uma regra. Se os filmes norte-americanos ainda reinam soberanos sobre os do resto do mundo, também são ainda os homens têm o domínio dessa indústria – especialmente quando se fala em cargos de autoridade, como o do diretor. Segundo pesquisa feita pelo Centro para Estudos da Mulher em Televisão e Filmes, da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, as mulheres foram as “criadoras” em apenas 16% das 250 maiores produções americanas em 2013. No Brasil, a maioria dos leitores mais leigos no assunto reconheceria imediatamente nomes como Daniel Filho, Walter Salles, Carlos Saldanha ou José Padilha, mas talvez não soubessem dizer quem é Eliane Caffé.
A cineasta, que dirigiu o curta Kenoma e o longa Narradores de Javé, revelou em entrevista sua opinião sobre a atual situação da mulher no cinema. Quando perguntada sobre o preconceito de gênero no ramo cinematográfico, Eliane afirmou que acredita estar havendo uma mudança. “A história do cinema brasileiro e mundial tem assistido ao aumento da participação expressiva da mulher em diferentes áreas artísticas e na formação das equipes de produção”, disse ela. Segundo a diretora, as dificuldades estão mais ligadas à restrição de financiamento e à ausência de um modelo empresarial para o setor do que à questão do gênero. Com opinião distinta, Talita Rebizzi, também cineasta, afirma que o número de diretoras ainda é ruim, embora acredite que a mulher vem ganhando espaço aos poucos, principalmente nas áreas de fotografia e edição. “Quando falamos de mulheres na direção de filmes, o número ainda precisa crescer bastante. Podemos citar alguns nomes como Leni Riefenstahl, Agnes Varda, Sophia Coppola, Kathryn Bigelow (primeira e única mulher a ganhar o Oscar como melhor diretora).” Talita ainda ressalta que a cobrança sobre as mulheres com seus trabalhos é intensa, diferentemente do que ocorre com os homens. “Temos muitas mulheres ocupando posições profissionais importantes, mas ainda vemos grandes discrepâncias salariais entre os gêneros, sem falar no respeito que é preciso ser conquistado diariamente e no dobro de esforço que é preciso fazer para provar nossa capacidade”, diz ela. Além das dificuldades próprias das mulheres, Talita ressalta que a divulgação de filmes brasileiros, em si, é problemática. “Existe um problema muito mais grave e mais amplo que é o reconhecimento da própria produção cinematográfica brasileira como um todo. O mercado está cada vez mais dominado pelas produções hollywoodianas e qualquer ação específica, como salientar filmes dirigidos por mulheres, desaparece nesse caldeirão hegemônico”, explica Eliane. Por isso, ela defende que o caminho não é criar um mecanismo ou lei para divulgar filmes produzidos apenas por mulheres, mas sim reforçar o cinema nacional como um todo. “Isso poderia parecer um privilégio e não buscamos privilégios, buscamos os mesmos direitos”. Fábio Martin, aluno do 1º semestre do curso de jornalismo da ESPM redator(a)
|
Fonte: Guia da Semana
|