Uma família de agricultores recebe um pedaço de terra em um assentamento rural no interior de Alagoas. A terra seca e até então pouco produtiva se transforma em oásis para o sustento da família de Luciene Maria da Silva Santos. “Eu olhava para os quatro cantos e dizia: e agora, meu Deus? Meu marido só sabia plantar inhame e tanger boi”. A partir do inhame, no entanto, Luciene Maria da Silva Santos teve a ideia de fazer o pão, agregando valor à produção familiar. Hoje, além de fornecer alimentos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), ainda sobra para vender na comunidade e nos estabelecimentos de Viçosa (AL), onde se localiza seu lote. “Eu levava os meus produtos para a rua, oferecia nos mercados, até conhecer o articulador do PAA no município, conhecer o sistema e desenvolver a panificação”, conta a agricultora. Luciene é uma das muitas mulheres que tomaram a frente da produção familiar e que hoje representam 37% dos fornecedores do PAA. Segundo o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Arnoldo de Campos, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), a atual participação das mulheres é muito significativa. “É o resultado de uma ação objetiva, de dialogar com a sociedade, com as organizações da agricultura e priorizar a inclusão das mulheres”. As experiências desse programa foram apresentadas hoje (4) durante o seminário internacional PAA + Aquisição de Alimentos no Ano Internacional da Agricultura Familiar, em comemoração aos dez anos de implantação do programa, que possibilita aos agricultores familiares de todo o país a venda de produtos para o governo. Alimentos destinados a hospitais, creches, escolas, asilos e pessoas em situação de vulnerabilidade social. Segundo a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, o PAA é referência mundial, pois conseguiu aliar o fortalecimento da agricultura familiar à produção de alimentos saudáveis e levar alimentação para pessoas em situação de insegurança alimentar. “Mais de 3 mil tipos de itens vêm sendo comprados pelo setor público, ajudando a construir a cadeia produtiva no Brasil e servindo de exemplo para outros programas, como o Pnae”. Para o secretário municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Toledo (PR), José Augusto de Souza, que apresentou no seminário a experiência da sua cidade, se não fossem as mulheres, não haveria PAA. “Quem acreditou primeiro no programa foram as mulheres dos agricultores. Para nós, a mulher foi fundamental, e queria destacar isso. Se não fosse a visão feminina de produzir a bolacha, o pão, o macarrão, não teríamos esse sucesso”, disse. Arnoldo de Campos disse ainda que o PAA é uma porta de entrada para o agricultor se inserir também no mercado geral. “A experiência de vender para o governo, que não é simples, serve de aprendizado e reflete na capacidade de lidar com o mercado privado, de participar de feiras e rodadas de negócio”. Esse aprendizado, certamente, foi uma porta aberta para Luciene. “Com um programa desse à frente, não podia deixar passar a oportunidade, eu tinha a matéria-prima e tudo a meu favor. Coloquei o inhame no fogo, peguei a massa, fui fazendo para ver no que dava”, disse ela. Para a agricultora, o reconhecimento também é muito importante. “Não é só dinheiro em si, mas ver o nosso trabalho ser reconhecido, isso está me maravilhando”. |
Fonte: Agência Brasil
|