As mulheres ficaram fora da pauta da mídia durante a Copa do Mundo de 2014, tanto em termos de representação quanto de opinião. É o que aponta o monitoramento intitulado A mulher no noticiário brasileiro durante a Copa do Mundo 2014, uma iniciativa da ONG Rede Mulher de Educação, em parceria com a Universidade Metodista de São Paulo, com o apoio da Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC, sigla em inglês), com sede em Toronto, no Canadá.
Foram analisadas cerca de 500 notícias de veículos de 26 Estados e do Distrito Federal divulgadas no dia 23 de junho de 2014, período em que a Copa do Mundo era realizada no Brasil. Realizado anualmente, o intuito do levantamento é aprofundar o estudo da representação das mulheres e dos homens no noticiário de jornais, rádio, TV e online, no que concerne aos estereótipos sexistas, racistas e de orientação sexual/ identidade de gênero. O monitoramento realizado em 2014 aponta que somente 23% das pessoas vistas, ouvidas ou a respeito de quem se lê nas notícias do período são mulheres. A sub-representação fica ainda mais evidente na comparação com os homens, que ocupam 77% do noticiário. Boa notícia: reforço a estereótipos de gênero diminuiu Na análise feita no estudo, as matérias apresentadas por repórteres femininas têm consideravelmente mais focos em temas femininos e questionam estereótipos de gênero quase duas vezes mais do que as produzidas por repórteres masculinos. Apesar disso, o levantamento também constatou que o número de matérias produzidas por mulheres ainda é pequeno. O dado positivo da análise é que o percentual de matérias que reforçam estereótipos caiu de 48%, no monitoramento da WACC em 2010, para 9% em 2014. Apesar do avanço nesse aspecto, de maneira geral, as mulheres ganharam destaque apenas em notícias sobre escândalos e violência. Além disso, o conteúdo analisado não destacava claramente assuntos relacionados à igualdade entre mulheres e homens (91%). Falta diversidade Outro ponto em destaque é a ausência de representatividade social. “Pessoas brancas, em jornais impressos, aparecem quase cinco vezes mais que pessoas negras nas notícias; pessoas indígenas nunca aparecem ou não são mencionadas”, diz o relatório, lembrando que metade da população brasileira é composta por negros. A mesma disparidade aparece em relação aso homossexuais, que aparecem 15 vezes menos do que as pessoas heterossexuais nas matérias dos jornais impressos analisados. Para reverter tal cenário, as realizadoras do estudo apontam a necessidade de os movimentos sociais e próprio movimento feminista incorporarem os meios de comunicação de massa em suas ações estratégicas, visando abarcar um público mais amplo. Sobre a pesquisa O monitoramento contou com a participação de 30 pessoas voluntárias Brasil afora, entre jornalistas, pesquisadoras(es), estudantes e ativistas – a maioria do sexo feminino -, que atuam em universidades e organizações não-governamentais. Segundo uma das coordenadoras do projeto, Vera Vieira, da Rede Mulher de Educação e da Associação Mulheres pela Paz, “os estereótipos nas diferentes mídias podem contribuir para reforçar as desigualdades. A construção assimétrica de gênero, raça-etnia e orientação sexual/identidade de gênero traz sérias consequências para toda a sociedade. A principal é a violência contra a mulher, que se materializa na vida cotidiana pela violência doméstica, violência sexual e tráfico de mulheres. Por outro lado, os mecanismos de intervenção podem fazer com que os veículos de comunicação se tornem instrumentos de transformação da realidade vigente”. Para Sandra Duarte de Souza, também coordenadora da iniciativa, pesquisadora da Universidade Metodista (SP), “as notícias abertamente estereotipadas demonstram que a mídia tem sido um dos mecanismos mais eficazes de afirmação de uma estética paradigmática para as mulheres, que afirma a prevalência dos corpos brancos, jovens e ‘malhados’. Trata-se da aceitação cultural do controle sobre os corpos e de atitudes que não coloquem em risco a moral e os bons costumes”. |
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Fonte: Agência Patrícia Galvão
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