O desempenho em ciências, matemática e leitura é desigual entre meninos e meninas no Brasil. Isso é o que apontam os dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados nesta terça-feira (6). Em geral, os garotos se saem melhor em ciências e matemática, enquanto as garotas se destacam em leitura. De acordo com o relatório, essa diferença acompanha as observadas nas médias dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
No Brasil, a nota em ciências dos meninos (403 pontos) foi superior à das meninas (399) em 2015. Isso significa uma diferença de quatro pontos, a menor entre as três áreas do conhecimento medidas pelo Pisa. Segundo o relatório, essa desigualdade é a mesma da encontrada na média dos países da OCDE, de quatro pontos a mais para os garotos.
O texto ainda aponta que os estereótipos de gênero sobre cientistas podem desencorajar algumas alunas a se envolverem com disciplinas relacionadas a essa área do conhecimento.
“Familiares e professores podem mudar estereótipos de gênero relacionados a atividades e ocupações da ciência para permitir que garotas e garotos alcancem seu potencial. Para apoiar o envolvimento de todos os alunos com a ciência, eles podem ajudá-los a se tornar mais conscientes da variedade de oportunidades das carreiras que fazem parte da formação em ciência e tecnologia”, diz o relatório.
Segundo o Pisa, essa desigualdade é percebida também nos planos futuros dos estudantes avaliados: elas desejam trabalhar em áreas relacionadas à saúde, enquanto eles se enxergam como profissionais de tecnologia e engenharia.
Leitura e matemática
O relatório mostra que em todos os países da OCDE os meninos superam as meninas na prova de matemática, sendo que a média é de oito pontos a mais para eles. No Brasil, a diferença de desempenho entre os gêneros é de 15 pontos nessa área do conhecimento: eles tiraram 385 pontos, enquanto elas alcançaram 370 pontos.
No artigo “Masculinidades, feminilidades e educação matemática: análise de gênero sob ótica discursiva de docentes matemáticos”, o pesquisador Lucas Alves Lima Barbosa, da Universidade Federal de Lavras, defende que essa diferença de desempenho é culturalmente construída e deve ser combatida pelos educadores.
“Meninos não são naturalmente melhores em matemática do que as meninas, eles se vestem compulsoriamente de um gênero, o masculino, que abarca uma infinidade de símbolos que atribuem a eles uma supremacia, histórica e coletivamente construída, nos espaços de desenvolvimento matemático. Analogamente, meninas não são naturalmente piores em matemática do que os meninos, elas se vestem compulsoriamente de um gênero, o feminino, que abarca uma infinidade de símbolos que atribuem a elas uma posição de inferioridade histórica e coletivamente construída nos espaços de desenvolvimento matemático”, diz o texto.
Em leitura, no entanto, o desempenho das meninas é 24 pontos superior ao dos meninos: elas tiraram 419, enquanto a nota média deles foi de 395 pontos. Essa diferença é um pouco menor do que a média dos 35 países da OCDE, de 27 pontos entre os gêneros em 2015.
O que é o Pisa?
O Pisa avalia o conhecimento e a habilidade de estudantes de 15 anos ou 16 anos em leitura, matemática e ciências, matriculados pelo menos na sétima série do ensino fundamental. A avaliação já foi aplicada nos anos de 2000, 2003, 2006, 2009 e 2012. Os dados divulgados hoje baseiam-se em testes aplicados em 2015. Fizeram a prova países membros e parceiros da OCDE.
Marcelle Souza
Fonte: UOL