Governo Lula trabalha para resolver impasse após pasta retomar coordenação da segurança presidencial
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, não quer que o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) assuma a sua segurança imediata e prefere que a Polícia Federal continue à frente da missão.
Como a Sesp (Secretaria Extraordinária de Segurança Presidencial) deixou de existir no último dia 30 e, oficialmente, a segurança presidencial voltou para o GSI, o governo trabalha num decreto para criar uma estrutura normativa que garanta à primeira-dama a manutenção dos policiais.
De acordo com integrantes do governo, o texto está sendo fechado com a PF e deve ser enviado pelo Ministério da Justiça ao Ministério de Gestão e Inovação. A proposta da cúpula da PF é que seja criada uma estrutura dentro da corporação para atender à segurança de Janja.
O presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e suas famílias têm direito à segurança presidencial. Segundo relatos, a primeira-dama teria dito preferir continuar com integrantes da PF no seu entorno.
Um dos motivos é que ela ainda sentiria desconforto com integrantes do GSI, em especial após os ataques golpistas de 8 de janeiro, segundo auxiliares palacianos.
Além disso, Janja sempre fez questão de ter mulheres agentes na sua segurança imediata, que são minoria no GSI, e que a acompanham desde a campanha presidencial. No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a PF montou uma equipe formada apenas por mulheres para fazer sua segurança.
A primeira-dama foi procurada, mas sua assessoria disse que ela não comenta questões de segurança.
Na semana passada, o presidente bateu o martelo e decidiu devolver o tema para a responsabilidade dos militares do GSI, em derrota para o ministro Flávio Dino (Justiça) e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues.
A decisão foi tomada na quarta-feira (28), em reunião com os ministros Rui Costa (Casa Civil), Marcos Antonio Amaro (GSI) e Dino.
Após o encontro, Rui Costa afirmou se tratar de um modelo híbrido, com a atuação de militares, policiais federais e eventualmente policiais dos estados. No entanto, ressaltou que a coordenação ficará a cargo do GSI.
Até o momento, não ficou claro como funcionaria o modelo híbrido e a participação dos integrantes da PF. Desde sábado (1º), o GSI retomou o posto de coordenar a segurança presidencial. Apesar disso, agentes da PF também atuaram durante eventos no final de semana com Janja e Lula.
A decisão de Janja por manter os policiais, por sua vez, representa uma vitória para Dino e para a PF, que, na semana passada, perderam a atribuição para o GSI. De acordo com relatos, a primeira-dama foi a única que solicitou a manutenção da PF.
A segurança presidencial opôs nos últimos meses a PF ao novo chefe do GSI.
Um dos primeiros atos do governo foi a criação da Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata, cujo chefe era o delegado Alexsander Castro de Oliveira.
O decreto que criou o órgão, no entanto, previa que ele existiria de caráter extraordinário até o dia 30 de junho.
Os policiais federais, que vêm usando recursos próprios para desempenhar essas atividades de segurança, pretendiam torná-la permanente. Como mostrou a Folha, a PF gastou cerca de R$ 9,8 milhões em diárias e passagens para a Sesp.
A secretaria era atrelada ao gabinete presidencial e se ocupava apenas da segurança imediata do chefe do Executivo, do vice e de seus familiares. Os outros dois círculos de proteção, a aproximada e afastada, continuavam a cargo do GSI.
A imediata é a segurança pessoal. Na aproximada, militares atuam próximos ao mandatário em eventos e viagens, além de estabelecer parâmetros para emergências. Já a afastada é composta pelos responsáveis por varreduras e vigilância ostensiva em locais de eventos, com auxílio de outras forças de segurança.
Dino e a PF defendiam que o comando da segurança presidencial respondesse a um civil, e não a um militar. Durante o processo de decisão a respeito do tema, integrantes da corporação chegaram a dizer que a polícia poderia se recusar a responder ao GSI, que é chefiado pelo general Marcos Antônio Amaro.
Em outra frente, integrantes do GSI argumentavam que, se a coordenação da segurança presidencial não ficasse a cargo do gabinete, a pasta ficaria esvaziada.
Antes de assumir o GSI, Amaro já dizia a aliados que gostaria de retomar essa função por avaliar que ela historicamente sempre foi subordinada à pasta e ficou a cargo de militares.