Apaixonada e revolucionária, Aurore trava combates políticos e de pioneiros engajamentos feministas em seus livros Em 2 de maio de 1832, a crítica literária saúda a publicação em Paris de um romance intitulado Indiana. Com tiragem de 750 exemplares, fazia a crítica da vida burguesa sob o reinado de Luis-Felipe I. Seu autor é um desconhecido de nome George Sand. Atrás desse pseudônimo se escondia uma jovem mulher de 28 anos, de vida já rocambolesca. A autora nasceu em 1º de julho de 1804 em Paris com o nome de Amantine Aurore Lucile Dupin. Seus pais eram um oficial militar, Maurice Dupin de Francueil e Sophie Laborde, filha de um pobre taberneiro. Juntos, tiveram vários filhos mortos em tenra idade e somente alguns meses antes do nascimento da futura George Sand é que decidiram se casar. Wikicommons Note-se que a mãe de Maurice Dupin, Marie-Aurore de Saxe, era ela mesma filha ilegítima do marechal Maurice de Saxe, vencedor da Batalha de Fontenoy (1745) e de uma amante fortuita, a atriz Marie Rinteau. O marechal, que jamais reconheceu nem legou o que quer que fosse à única descendente que dele se conhecia, malgrado inúmeras amantes, era ele mesmo filho natural do Eleitor da Saxônia, o ilustre Frederico Augusto I o Forte e da condessa Aurore de Königsmarck. Cercada dessa curiosa ascendência, a criança foi batizada com os prenomes Amandine Aurore Lucie, porém preferiu mais tarde que a chamassem simplesmente de Aurore. Passa uma infância feliz no castelo de Nohant, castelo que sua avó Aurore de Saxe havia adquirido em 1793 ao se tornar viúva do coletor geral Dupin de Francueil. Casa-se aos 18 anos com o barão Dudevant de quem se separaria em 1836 depois de uma relação tempestuosa e de muitas ligações extra-conjugais. Um ano após o casamento, em 1823, nasce um menino, Maurice. Cinco anos mais tarde nasce uma menina, Solange, cujo suposto pai era Stéphane Ajasson de Grandsagne, jovem nobre das cercanioas de Nohant. O pseudônimo George Sand sob o qual Aurore ascende à celebridade literária refere-se provavelmente a Jules Sandeau, o amante com o qual começou a escrever. Wikicommons Apaixonada e exuberante, revolucionária e republicana até a alma, ela trava, à margem de seus trabalhos literários, muitos combates políticos além de engajamentos feministas mais de século antes que se tornasse luta comum. Em 1830, faz campanha em Nohant em favor de um candidato republicano. Interessa-se pelo catolicismo social de Lamennais sob influência de seu amigo Franz Liszt. Em 1848, funda uma revista com o eloquente título de A Causa do Povo, destinado a um longo futuro. Ela não temia em absoluto escandalizar as boas almas ostentando modos masculinos ou fumando em público. Isto não a impediu de gozar da amizade de Balzac, Flaubert, Victror Hugo e ainda do pintor Delacroix (cujo retrato de Sand, de 1838, está à esquerda). Desbordante de vitalidade, George Sand fazia a alegria da imprensa sansacionalista devido as suas relações mais ou menos escandalosas com os amantes, entre os quais os mais célebres foram Mérimée, Musset e Chopin, sem falar da comediante Marie Dorval, a “cara amada”. Em junho de 1833, aureolada pelo sucesso de Indiana, ela se encontra na casa do seu editor com o poeta romântico Alfred de Musset. Em janeiro de 1834, o casal era a representação do amor perfeito em Veneza. Porém os dois amantes caem doentes, brigam e George Sand seduz. seu médico, Pietro Pagello. Musset retorna sozinho a Paris. George Sand procura-o em agosto de 1834 e com ele se reconcilia apenas por poucos meses. Musset apresenta Franz Liszt a George Sand e, em 1837, a romancista acolhe em Nohant a musicista e sua amante, Marie d’Agoult. Liszt apresenta Chopin à sua amiga. No ano seguinte principia o idílio entre George Sand e Frederic Chopin. A fila só se interrompe em 1850, com o gravador Alexandre Manceau, derradeiro amante de Sand. Após as jornadas revolucionárias de 1848, George Sand se retira em seu castelo de Nohant, no coração daquelas campinas bucólicas que lhe forneceram a matéria prima de seus melhores romances: La Mare au Diable (1846), François le Champi (1847) ou ainda La Petite Fadette (1849). Wikicommons (à direita, desenho de Louis Boulanger de Sand como Maria Madalena) A “Dame de Nohant” morre serenamente em 8 de junho de 1876, às vésperas de completar 72 anos. Apaixonante, provocadora, criou um personagem até então inédito : a mulher liberada. Isto por si só não justificaria que seus despojos merecessem as honras do Panteão? Também nessa data: |
Fonte: Opera Mundi
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