Moradora do Mato Grosso expõe retrato da extrema pobreza que assola o país. Da periferia de Cuiabá, Sueli Batista da Silva, de 52 anos, anda quatro quilômetros quase todos os dias para tentar conseguir um dos sacos de ossos doados pelo Atacadão da Carne e alimentar a família, de seis pessoas, incluindo dois netos com menos de um ano.
“Hoje não dá. Fico assustada de ver o tanto de gente, antes a doação era três vezes na semana, diminuíram para duas. Esses dias teve até briga lá por causa de lugar na fila. Eu não brigo, não”, contou a dona de casa, uma das histórias retratadas em reportagem especial do Portal Uol sobre o aumento da fome no país.
Levantamento feito pelo jornal com dados do Cadastro Único (CadÚnico), do governo federal, mostra que Jair Bolsonaro (Sem partido) jogou pelo menos 2 milhões de famílias brasileiras na extrema pobreza em dois anos e meio de mandato.
Em dezembro de 2018, no governo golpista de Michel Temer, 12,7 milhões de brasileiros viviam na pobreza extrema. Em junho deste ano, com a economia sob o comando de Paulo Guedes – alçado como “superministro” da Economia -, 14,7 milhões de brasileiros vivem com renda per capita de até R$ 89 mensais.
Há ainda no país 2,8 milhões de pessoas na pobreza, ou com renda per capita de R$ 90 a R$ 178 mensais.
Segundo o economista e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Cícero Péricles de Carvalho, o aumento do número de miseráveis é resultado de uma combinação de elementos estruturais com conjunturais, como a inflação e o desemprego.
“Pela Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE] de maio, o número de desempregados chega a 14,8 milhões de trabalhadores. Esse dado, mais a inflação, principalmente a de alimentos, influencia na renda e no consumo. O Dieese [Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos] calcula que, nos 12 últimos meses, a cesta básica teve uma variação média de 22% e que o valor do salário mínimo necessário seria de R$ 5.422, cinco vezes maior que o piso em vigor”. Cícero Péricles de Carvalho
As consequências da pandemia, diz o economista, agravaram um quadro já em deterioração. “Já era esperado o aumento de pessoas pobres e com fome.”
A Pesquisa de Orçamento Familiar, também do IBGE, já havia detectado um aumento de 33% na insegurança alimentar entre 2017 e 2018. “Além disso, pesquisa realizada em abril deste ano confirma que 19 milhões de brasileiros estavam em situação grave em relação ao acesso à alimentação”, diz.
Fonte: Socialismo Criativo