O Brasil é o país da América Latina que possui a menor quantidade de mulheres na política. Dados divulgados pela Inter-Parlamentary Union (IPU), órgão que reúne dados sobre o Legislativo em todo o mundo, mostram que apenas 13% das mulheres brasileiras estão no parlamento. O resultado dessa pesquisa chamou a atenção dos professores do Departamento de Ciência Política da Unicamp e pesquisadores do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), Raquel Maneguello e Bruno Speck, que decidiram fazer o projeto de pesquisa “Mulheres e Negros na Política – Estudo exploratório sobre desempenho eleitoral em quatro estados brasileiros”. O projeto foi financiado pela Unifem, órgão das Nações Unidas para Empoderamento das Mulheres (agora ONU Mulher). Ao todo foram entrevistados 42 parlamentares membros de partidos do Pará, São Paulo, Santa Catarina e Bahia para avaliar os obstáculos que as mulheres e os negros têm para ingressar no parlamento. O foco da pesquisa foram as eleições de 2006 e 2010. Segundo a pesquisadora Raquel Managuello, a hipótese de que as mulheres têm menos interesse pela política foi comprovada ao longo da pesquisa, por meio da fala de alguns entrevistados. Raquel Managuello explica em nota que as mulheres casadas e com filhos, têm dificuldades para se adequar à política, por não conseguir conciliar a carreira e as atividades domésticas “Dentre as entrevistadas, mais de 20% são separadas. Eleita, a mulher não se preocupa apenas em legislar, ela tem vida dentro e fora do partido e precisa compatibilizar as atividades com sua vida privada.” Raquel Managuello acrescenta que os partidos são estruturas dominadas por homens, onde é difícil para as mulheres se destacar. Ela afirma que a maioria das mulheres que estão na política possui relações familiares com políticos (pai, marido, avó), ou vem de militâncias importantes nos movimentos sociais ou de partidos de esquerda. Durante a pesquisa, Raquel Managuello identificou que o Partido dos Trabalhadores (PT) foi o primeiro partido a fazer mudanças para incluir as mulheres e os negros na política. As mudanças foram feitas em fevereiro deste ano e reserva 20% dos órgão da direção para negros, 30% para os jovens, fazendo com que haja uma renovação de quadros e igualdade nos quadros de direção entre homens e mulheres. De acordo com ela, outros partidos defendem a maior participação de negros e mulheres na política, porém “não promovem ações concretas”. O pesquisador Bruno Speck diz com base nos dados do Cesop que, a pouca participação de mulheres e negros na política, não é problema apenas do Brasil. “A Alemanha tem 30% de deputadas no parlamento e, atualmente, só duas mulheres ocupando o governo de dois dos 16 estados”, exemplifica. Ele observa ainda que esta baixa representação das mulheres se dá em diferentes patamares, dependendo do país. Candidatas não têm financiamentosPesquisa anterior realizada pelos professores Raquel Maneguello e Bruno Speck em parceria com o Cesop mostrou que mulheres recebem menos recursos para candidatura política do que os homens. Foram analisados gráficos da Câmara dos Deputados e realizadas entrevistas com candidatas e politicas eleitas para chegar a esse resultado. Os estados que mais tiveram candidatas para deputada federal em 2010 foram respectivamente Bahia (11,9%), Pará (18,6%), São Paulo (18,8%) e Santa Catarina (25,2%). Dessas candidatas foram eleitas 2,6% na Bahia, 5,9% no Pará, 8,6% em São Paulo e 6,3% em Santa Catarina e 8,6%. Segundo Bruno Speck, a maioria dos partidos não cumpre a Lei de Cotas, que destina 30% das vagas de candidatura a mulheres. Para o pesquisador, o número de candidaturas e de votos são reflexos da falta de financiamento para candidatas mulheres. Na Bahia, as mulheres recebem R$ 112 mil de financiamento, enquanto os homens recebem R$ 257 mil; no Pará são R$ 90 mil contra R$ 165 mil; em Santa Catarina a diferença aumenta: mulheres recebem R$ 82 mil enquanto os homens, R$ 214 mil. Mas a maior diferença está em São Paulo, onde as mulheres possuem R$ 98 mil em investimentos contra R$ 251 mil dos homens. “É um quadro que se repete nas outras eleições, com exceções como o Pará, onde o conjunto de candidatas arrecadou aproximadamente o mesmo valor dos homens – o que se reflete também no resultado eleitoral” declara Speck, em nota. Segundo ele, a relação entre arrecadação e voto são estreitas. “O candidato que se elege sempre consegue arrecadação bem maior dos que os não eleitos. A correlação mostra que o financiamento é corresponsável pelo baixo desempenho das mulheres”, afirma. A diretora do Cesop recorda em nota que as mulheres reclamam muito da distribuição interna dos recursos de campanha, havendo casos de candidatas que, mesmo casadas com companheiros de partido, não receberam sequer santinhos e cartazes. Matéria publicada em maio/2012 |
Fonte: Rede Brasil Atual
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