Primeira-dama ainda criticou Elon Musk pela demora ao desativar seu perfil no X após notificação da PF e defendeu cotas de 50% para mulheres na política, mas não citou demissões de ministras mulheres pelo governo Lula
A primeira-dama Janja da Silva foi questionada pelo presidente Lula sobre a participação de mulheres na política institucional. A pergunta foi feita na live Conversa com o Presidente, que foi ao ar na manhã desta terça-feira (19) no canal do YouTube de Lula. Ela definiu que houve um “retrocesso muito grande” da ocupação de cadeira de mulheres. Janja ainda respondeu sobre o ataque realizado por um hacker em sua conta no X (antigo Twitter) na última semana, que proferiu ofensas misóginas contra a primeira-dama.
“A gente se acostuma a receber ódio pelas redes, sobretudo as mulheres. Mas o que aconteceu semana passada foi muito mais invasivo. Não consigo nem te dizer. Na terça, passei quase que a madrugada trocando senha de quase todas as minhas coisas por segurança”, diz Janja.
“Quando acordei, olhei para o meu marido e estava com vontade de chorar. Mas não é no ombro dele que eu tinha que chorar. Só quando minhas amigas que trabalham comigo chegaram que eu chorei. Só uma mulher para entender o que eu estava sentindo naquele momento”, afirmou Janja, que ainda disse que, mesmo com pedido da Polícia Federal, sua conta ainda ficou ativa por 1h30 no X. “Nessa 1h30, o seu Elon Musk ficou muito mais milionário.” A primeira-dama pretende processar a plataforma.
Janja e Lula defenderam a necessidade de regulamentação das redes sociais, e Lula afirmou que “a violência contra meninas é uma coisa absurda”, citando ainda manipulação e divulgação de fotos e vídeos íntimos, conduta violenta contra mulheres e automutilação. “Não dá para a gente não tratar isso como uma coisa criminosa”, afirma o presidente.
Participação de mulheres na política
“Acho que a gente teve um retrocesso muito grande, com toda a violência que a gente tem assistido, a pandemia ajudou muito isso, uma violência dentro de casa, nas redes, por conta disso as mulheres tem desistido da política”, começou a responder Janja, após definir a pergunta como “difícil de responder”.
“Tem companheiras do nosso partido que não querem se candidatar no ano que vem. ‘Não quero mais ser vereadora, porque estou lá numa cidade de 3 mil habitantes, uma Câmara só com homens, eu a única mulher. O que eu vou fazer? Não consigo mais, estou sendo muito agredida, muito exposta'”, exemplifica a primeira-dama.
Depois das eleições de 2022, o Brasil bateu recorde de participação feminina no Congresso Nacional. De 513 deputados federais, 91 são mulheres, o que representa 18% do parlamento. O número ainda é baixo ao considerar que as mulheres formam mais de 51,5% da população brasileira, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Janja apontou que, para resolver a situação, seria preciso aprovar mudanças na legislação para equiparar em metade as cotas para mulheres nos parlamentos do país. “A gente precisa mudar a legislação eleitoral e brigar por cadeiras para as mulheres: é 50% e 50%. Tem que equilibrar”, afirma. “As leis que nos protegem são majoritariamente sugeridas por mulheres. Se a gente não tiver mulher nos parlamentos, como vai acontecer?”, questiona a primeira-dama.
Lula, por outro lado, discorda do caminho proposto por Janja. Segundo ele, avanços garantidos pela Constituição ou pela lei seriam inviáveis. “Você pode definir como princípio básico da constituição: ‘As pessoas podem ter isso, podem ter aquilo.’ Mas entre propor e as coisas acontecerem, leva um tempo.”
Janja, no entanto, não citou durante a entrevista movimentações do governo Lula que impactaram essa participação. Por exemplo, as substituições de Daniela Carneiro e Ana Moser, no Turismo e no Esporte, por Celso Sabino e André Fufuca.
Além disso, a presidência da Caixa, que era de Maria Rita Serrano, foi transferida para Carlos Vieira. Essas foram medidas feitas durante a minirreforma ministerial, em que Lula negociou cargos de seu governo para o Centrão, em troca de maior governabilidade no Congresso.
Também não comentou a escolha do ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino para a cadeira do Supremo Tribunal Federal (STF), que era de Rosa Weber. Por meses, movimentos sociais, de juristas, organizações civis e mesmo membros do governo pediram que Lula indicasse uma jurista negra. Ao lado da ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, Janja chegou a apresentar a Lula uma “lista tríplice” para que o presidente indicasse uma mulher preta ou parda para a Corte.