Trabalho de parto A arquiteta Cintia Costanzi, 40, voltou a ter um emprego em setembro, depois de mais de três anos em que esteve cuidando dos filhos. A história profissional de como a maternidade de Constanzi alterou a sua vida profissional não é só dela: empresas brasileiras são as que mais veem suas funcionárias irem embora depois do período de licença-maternidade, mostra uma pesquisa da consultoria Robert Half feita em 14 países. Entre cem diretores de RH ouvidos no Brasil, nenhum disse que a chance de uma profissional voltar ao trabalho depois da licença é alta (maior que 75%). Em 85% das empresas, menos da metade das mulheres volta ao cargo. Para as empresas, o fato de muitas mães não voltarem é ruim porque “é difícil encontrar pessoas especializadas”, afirma Marta Chiavegatti, 31, gerente da Robert Half. “É importante ter ferramentas de retenção dessas profissionais”, diz. Ela cita a oferta de trabalho em horários flexíveis para que a profissional possa compatibilizar suas diferentes atividades. Esse índice baixo de volta ao trabalho, se comparado a outros países, não deve ser interpretado como uma escolha da mãe, diz Débora Diniz, professora da UnB (Universidade de Brasília). Antes, diz, é “um sinal de que algo está errado no suporte público para o retorno ao trabalho”. Ela cita falta de creches com horários expandidos e em locais variados. Diniz diz que, entre mulheres de nível hierárquico mais alto, a volta é maior. A pesquisa verificou isso: entre as que ocupam cargos gerenciais, a chance de voltar é maior do que 50% em 63% das empresas. Isso acontece no mundo inteiro, mas no Brasil especialmente. SAIR E ENTRAR Em 2009, Costanzi engravidou de gêmeos. Mas perdeu um dos bebês e o outro necessita de cuidados especiais. O plano era voltar a trabalhar em seis meses, mas ela decidiu ficar mais tempo perto da criança. E nessa época ela engravidou novamente. “Meu marido precisou cuidar de todas as despesas”, diz. A socióloga Nina Madsen, do CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) considera que um dos motivos que explicam a baixa taxa de volta ao cargo depois da licença-maternidade é a divisão do trabalho doméstico, que geralmente fica mais sob responsabilidade da mãe do que do pai. “Precisaria haver uma campanha pública para que os homens assumissem mais responsabilidades parentais. As mulheres saíram para o mercado, mas os homens não vieram mais para casa”, diz. Ela cita que o fato de a licença-paternidade ser de cinco dias é um sintoma de como criar os filhos é visto, inclusive pela legislação, como atividade só feminina. Cristiane Lázara, 40, assistente-executiva da fabricante de tratores AGCO, é uma das que saíram do emprego depois da licença, mas no caso dela, foi uma coincidência. Ela trabalhava para uma empresa que foi vendida. Antes mesmo do período para poder ser mãe, ela já sabia que, ao fim do período, seria desligada. Ela aproveitou para ficar mais tempo cuidando da filha e só voltou a ter um emprego neste mês. “Não me arrependo. Esse um ano e meio que fiquei sem trabalhar foi fundamental.” O tempo que ela ficou fora do mercado é o mais comum para as mulheres que saem do emprego após o período de licença (veja quadro ao lado). Mas muitas mães nem mesmo voltam a trabalhar. Por enquanto, esse é o caso de Tatiana Manski Krongold Benitez, 37, mãe da Isabel. Ela foi demitida pouco depois de voltar da licença e, em 11 meses de procura, já fez dez entrevistas de emprego. “Já ouvi que não seria contratada porque estava em um momento diferente. Ou seja, já tinha uma filha. É uma visão míope, pois quem tem filho circula entre outras mães, faz contatos.” A consultora em carreira Mariá Giulise diz que as empresas podem ter “resistência com mães de filhos pequenos por considerarem que elas têm problema de mobilidade para viajar, ou para ficar até tarde no trabalho”. Ela recomenda que a profissional saiba, de antemão, se a vaga que ela está pleiteando exige isso e que, antes da seleção, já saiba como resolver essas questões. Além disso, no período em que a mulher estiver afastada, “precisa se atualizar para não perder o ritmo e o conhecimento”. Foi o que Laura Vieira, 35, deixou de fazer quando virou mãe da Júlia. Ela passou uma parte da gravidez enquanto acompanhava o marido em um MBA nos EUA, mas não aproveitou para fazer nenhum curso. “Não me reciclei profissionalmente.” Ela conta que, quando faz alguma entrevista para uma vaga, os recrutadores perguntam se ela havia feito alguma aula na área dela. E ela só estudou inglês no período de afastamento. Hoje, faz decorações artesanais para festas infantis. |
Fonte: Folha de São Paulo
|