Em entrevista exclusiva para a Revista Carta capital, o presidente Nacional o do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos disse que continuará na base de Dilma e não está interessado em discutir a sucessão agora. Confira a entrevista concedida ao jornalista Rodrigo Martins da Carta Capital:
As dúvidas sobre 2014 perseguem o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Em seu segundo mandato e bem avaliado pela população, o presidente Nacional do PSB é sempre apresentado como presidenciável nas próximas disputas. Ainda mais agora, com seu partido em ascensão e após as rusgas com o PT no Recife, em Fortaleza e Belo Horizonte. Em defesa das candidaturas socialistas, Campos é taxativo: “O PSB nunca foi satélite ou sublegenda do PT”. Mesmo assim, garante que a aliança nacional com o governo Dilma Rousseff será mantida e que a legenda deverá apoiá-la na reeleição. “Mas antecipar esse debate é um desserviço.” Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista. A íntegra pode ser lida em www.cartacapital.com.br.
Carta Capital: O que explica o crescimento do PSB?
Eduardo Campos: O partido manteve-se coerente, em um campo político bem definido, a defender teses progressistas e um pensamento que busca o equilíbrio social. Quando tivemos a oportunidade de governar cidades e estados, imprimimos uma marca: a capacidade de ouvir e envolver a sociedade no planejamento e nas decisões. O trabalho foi reconhecido. Em 2008, saltamos para a casa dos 300 prefeitos. Em 2010, fizemos seis governadores, amplia mos a bancada no Congresso.
CC: O PSB deve eleger quantos prefeitos neste ano?
EC: Nós disputamos em mais de mil municípios e devemos eleger mais de 400 prefeitos, algo entre 400 e 500.
CC: O PSB apoia Dilma, mas rompeu com o PT em várias capitais. A relação entre os par tidos não ficou abalada?
EC: Vejo isso com muita naturalidade, até porque o PSB nunca foi satélite ou sublegenda do PT. Sempre tivemos autonomia, uma visão diferenciada sobre muitos pontos. Estivemos com Lula em 1989, 1994 e 1998. Lançamos candidato próprio em 2002, mas voltamos a apoiar Lula no segundo turno. Desde então, o PSB está na base aliada. Mas é legítimo querer crescer. Aliás, isso é importante para o próprio PT. Se eles querem o crescimento do campo progressista, que o PSB cresça!
CC: Por que o PSB rompeu a aliança com o PT no Recife?
EC: O PSB é o partido que mais apoia o PT nas eleições municipais. Mas temos o direito de lançar candidatos onde o partido tem força, plataforma e propostas. No Recife, fizemos um enorme esforço para manter a Frente Popular unida. Mas o PT brigou durante quatro anos. Elegeu um prefeito e passou a combatê-lo. Nem a oposição combatia tanto o João da Costa como o próprio PT. Na reta final dos prazos eleitorais, ele não estava bem nas pesquisas. Surge então uma prévia no meio da rua, sangrenta. A oposição estava preparada para levar a eleição para o segundo turno e vencer. Decidimos entrar na disputa.
CC: E em Fortaleza? O senhor chegou a conversar com o governador Cid Gomes sobre o rompimento com o PT?
EC: Claro, o governador Cid Gomes queria só dialogar sobre a escolha do candidato. Você não pode imaginar que uma força política, como o PSB tem efetivamente no Ceará, vai apoiar uma candidatura sem discutir qual é o melhor nome para lançar. Sem consenso, o PSB lançou um nome próprio. Até porque essa tradição o PT sempre teve. Lançava candidato em todo o canto, mesmo quando não tinha chance alguma.
CC: No caso de Belo Horizonte, há um aspecto um pouco diferente. Havia a aliança entre PT, PSDB e PSB, mas os petistas acusam Márcio Lacerda de não cumprir um acordo e optar pelos tucanos. O senhor participou dessa decisão?
EC: Não, foi uma decisão local. Até porque todas as conversas aconteceram em Belo Horizonte, direto com o prefeito.
CC: Houve pressão por parte do senador Aécio Neves (PSDB) para romper esse acordo com o PT?
EC: Nunca falei com Aécio sobre esse assunto. Até porque não participei da construção dessa aliança em 2008. A estratégia foi costurada pelo Aécio e o Fernando Pimentel.
CC: O senhor acha que essas rixas locais podem de alguma forma interferir na relação do PSB com o governo Dilma?
EC: Sinceramente, não acredito. Estamos vivendo um momento delicado da vida internacional. A crise não dá sinais de retroceder, temos cenários bastante complexos daqui para frente, o Brasil tem de atravessar tudo isso. Temos de ajudar Dilma na governabilidade. Não precisamos de mais problemas. Vamos buscar solução para a economia, para dar ritmo às obras no País, garantir recursos para que esses novos prefeitos possam trabalhar.
CC: Como é a sua relação com Aécio Neves?
EC: No passado, tivemos papéis assemelhados. Ele acompanhava Tancredo Neves e eu, Miguel Arraes. Nós nos conhecemos nas Diretas Já. Mais adiante, nos reencontramos como parlamentares em campos políticos distintos. Mas somos civilizados e dialogamos sempre que o interesse do Brasil está em jogo.
CC: Sempre há rumores quando vocês se encontram porque ambos são nomes cotados para disputar a Presidência no futuro.
EC: Não estou pensando em eleição de 2014 e muito menos em dobradinha, estou pensando no Brasil. E quem pensar no Brasil, terminadas as eleições municipais, vai ajudar a presidenta Dilma Rousseff a fazer um bom trabalho pelo País. Esse é o debate. Mas ninguém pode interditar a minha capacidade de dialogar com pessoas do PSDB, com o próprio Aécio. Podemos ter divergências políticas, mas não podemos reduzir o Brasil a esse maniqueísmo. Do lado de cá está o bem, e o lado do mal está ali no PSDB.
CC: Essa polarização entre PT e PSDB é um problema?
EC: Parece-me claro que isso existe mais no debate da mídia do que na cabeça das pessoas. Essa dicotomia, além de ser falsa, está vencida. O que existe é uma nova pauta sendo construída no País e quem não entender que existe uma nova pauta em construção vai se surpreender com os resultados eleitorais.
CC: Qual exatamente é essa pauta?
EC: A retomada do crescimento econômico, da sustentabilidade, da ética na política, da inovação, da economia criativa, de redução das desigualdades regionais, de como o Brasil vai se inserir no pós-crise. Quem não pensar dessa forma e ficar na eleiçãozinha dali, na briguinha de acolá, vai rápido para o estaleiro.
CC: A mídia noticiou que Jarbas Vasconcelos articula um grupo de insatisfeitos no PMDB com o governo Dilma para firmar uma aliança com o senhor.
EC: Ninguém me comunicou sobre isso, nem o próprio Jarbas.
CC: O senhor não gosta de falar de 2014, mas o PSB está crescendo e muitos o apontam como possível presidenciável…
EC: Precisamos chegar logo em 2014. Respondo a esta pergunta todos os dias, mas ninguém me dá ouvidos. Nossa posição é de ajudar Dilma a fazer um bom governo e a disputar outro mandato. Mas antecipar esse debate é um desserviço ao País.
CC: Qual é a estratégia do PSB daqui para a frente?
EC: Seguir crescendo com qualidade, interpretando esse sonho do povo brasileiro em construir um País com mais equilíbrio social e dinamismo econômico. Esse é o pa pel de um partido socialista. Descobrimos um caminho seguro de crescimento. E ter um partido com unidade, propostas, bons quadros e que, quando governa, mantém o discurso e envolve o povo na gestão.
Rodrigo Martins – Carta Capital