O 3º painel de discussão do IV Encontro Internacional de Mulheres Socialistas tratou da temática “Mulheres e os espaços de poder no Brasil e na América Latina – como avançar?
A mesa foi composta por Kátia Gilvonio, deputada do Movimento Político Nuevo Peru, Brígida Quiroga, deputada do Partido Movimento para o Socialismo da Bolívia e Cristina Buarque, ativista, feminista, economista, cientista política e antropóloga.
Kátia Gilvonio, do Peru, atentou para o fato de que em seu país, as mulheres só passaram a ter o direito ao voto em 1955 – uma diferença de 130 anos em relação aos homens. Enfatizou, também, a importância das mulheres ocuparem assentos parlamentares, já que no Peru, dos 130 assentos no Congresso, apenas 36 são ocupados por legislaturas femininas.
“As mulheres peruanas apresentam metade da militância peruana. Mais de 600 mil mulheres fazem política, mas os homens nos colocam nesse lugar: na secretaria de mulheres e em alguns casos ocupamos os segmentos de juventude, enquanto homens ocupam cargos de presidência ou secretarias gerais”, disse a parlamentar peruana. Ela destacou, ainda, que ser necessário que as mulheres mudem os espaços ocupando-os, pois esses não são só dos homens, e isso precisa ficar claro.
Brígida Quiroga, na mesma linha, acredita que as mulheres têm espaço na teoria mas, na prática, ainda há atitudes machistas que as rodeiam, que não vêm dos homens somente, mas das mulheres também: “temos que ‘despatriarcalizar’ nossas filhas e filhos. Dentro de nossos lares, essa é a missão principal”.
A companheira da Bolívia fez um relato emocionante sobre a situação que os indígenas: “O golpe que sofremos é um golpe de estado odioso entre as classes sociais. É um clima de ódio contra os indígenas, que representam mais de 80% da população do meu país“.
Quiroga apresentou as motivações que afastam homens e mulheres da política. No caso masculino, o que mais os afastaria dos cargos políticos seria a falta de apoio partidário. Já no caso das mulheres o maior empecilho seria a vida doméstica, os filhos, a casa e etc.
Cristina Buarque, militante e feminista desde as décadas da ditadura, acredita que para avançarmos é preciso que o patriarcado se transforme no Brasil, mas não só no maior país da América Latina, e sim no mundo inteiro: “Não há democracia sem partidária se as mulheres não estiverem em 50% dos cargos políticos”, afirma Buarque. E para que isso ocorra, o partido precisa se transformar, mas para além disso, é preciso que se transforme os valores e a cultura, reais responsáveis pelas mudanças sociais.
Buarque também lembra que foram as mulheres que resistiram a Bolsonaro, mas afirma que os partidos políticos não deram a devida atenção para que a derrubada fosse efetivada.
Fotos: Humberto Pradera