Campanha quer tornar palpáveis as dificuldades que as mulheres enfrentam, seja no esporte ou no mundo corporativo, em busca de oportunidades equivalentes às dos homens
Levantar a raquete, um gesto básico em uma partida de tênis, pode ter um peso simbólico muito maior para as mulheres. É assim que a ENGIE, empresa líder em energia renovável no Brasil e patrocinadora do tênis brasileiro, joga luz sobre uma questão urgente: o peso da desigualdade de gênero. Para isso, convidou cinco tenistas e também o público a levantar, literalmente, uma raquete de seis quilos. A ideia do desafio foi tangível o tamanho da desigualdade entre homens e mulheres no esporte.
“Todas as dificuldades que passamos, ninguém nunca vai entender”, comentou Bia Haddad Maia, de 28 anos, principal nome do tênis feminino hoje no Brasil e com vaga garantida para os Jogos de Paris.
A realidade das quadras reflete, na verdade, o dia a dia das mulheres no mercado de trabalho, como explica Gil Maranhão, diretor de Comunicação e RSC da ENGIE Brasil:
“De todos os temas de Diversidade & Inclusão, o que salta mais aos olhos é a diferença de oportunidades na carreira e de remuneração, tanto no ambiente corporativo quanto no esportivo, onde as mulheres ainda têm de enfrentar menor prestígio e falta de patrocínio. Conscientes disso, nós da ENGIE agimos para acelerar a equidade de gênero, começando por ações internas, como ter uma objetivo global ligado ao tema, e seguindo para ações externas, como essa campanha”, contou Maranhão.
Durante o desafio, que aconteceu ao longo da Copa Billie Jean King 2024, a principal competição internacional de equipe no tênis feminino, as reações dos participantes foram filmadas até que se revelasse o significado da ação: o peso que as mulheres carregam sempre que entram em quadra – da falta de incentivo e de equidade, da misoginia, da intolerância e do machismo, frases que estão escritas na raquete.
“A mulher joga contra a adversária e contra a falta de apoio. A campanha é impactante e me sinto feliz em ter a minha imagem associada a uma empresa como a ENGIE. As palavras escritas ao redor da raquete são muito fortes e condizem com o peso que nós, mulheres, temos que enfrentar não só no esporte”, afirmou Carol Meligeni, de 28 anos, bronze nas duplas no Pan de Lima e sobrinha de Fernando Meligeni, um dos maiores nomes do tênis brasileiro.
A data escolhida para o lançamento do desafio tem um significado especial. Billie Jean King, que dá nome ao torneio, foi uma das maiores líderes da luta pela distribuição de prêmios iguais para homens e mulheres, depois de conquistar o US Open no início da década de 1970 ganhando a metade do valor do campeão masculino.
Problema estrutural
A luta é antiga, resultou em alguns avanços, porém, segue atual e necessária, como contou Carol Meligeni:
“Já aconteceu de, depois de uma derrota, eu receber mensagens que diziam que eu deveria parar de jogar tênis e lavar roupa em casa. Vi pessoas afirmando que o esporte feminino deveria receber menos premiação porque é menos televisionado e tem menos patrocínio. Há uma dificuldade de entenderem que essa menor visibilidade é uma questão estrutural: como as pessoas não estão acostumadas a ver, não têm o mesmo interesse que no masculino. ”
“Vi pessoas afirmando que o esporte feminino deveria receber menos premiação porque é menos televisionado e tem menos patrocínio. Há uma dificuldade de entenderem que essa menor visibilidade é uma questão estrutural”,
— Carol Meligeni, bronze nas duplas no Pan de Lima
Ingrid Martins, outra tenista que participou da ação, endossou as palavras de Carol: “Se perdemos um jogo, recebemos ameaças de morte, ameaça à família”.
Há algumas iniciativas globais em curso como o projeto Igualdade de Gênero por meio do Esporte, lançado pela ONU Mulheres no ano passado, que apoia organizações esportivas e formuladores de políticas em três continentes para promover o tema. Em Paris, inclusive, será a primeira edição dos Jogos a alcançar o mesmo número de atletas homens e mulheres.
“Queremos equidade de gênero no esporte, ainda mais numa modalidade esportiva que se tornou um território de marca para a ENGIE e pelo qual ganhamos tanta visibilidade e notoriedade. Por isso, iremos além. Essa campanha e nosso patrocínio à CBT são apenas o começo dessa jornada”, disse Leandro Provedel, gerente de Comunicação e Marca da ENGIE Brasil.
Mesmo entre medalhistas, como Laura Pigossi, de 29 anos, e Luisa Stefani, de 26, que, juntas, entraram para a História com o primeiro pódio olímpico do tênis brasileiro em Tóquio, em 2020, nas duplas, as dificuldades são as mesmas.
“Todas as mulheres têm seus próprios fantasmas, e esse é o maior peso de todos: se superar e ainda quebrar todas essas barreiras mentais durante o nosso trabalho, que é jogar tênis”, concluiu Laura Pigossi.
Fonte: Valor Econômico