A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, sofreu críticas de parlamentares de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após afirmar que os prejuízos causados pelas chuvas que atingem o Rio desde a noite de sábado, 13, seriam “efeitos do racismo ambiental e climático”. Devido a repercussão da declaração de Anielle, os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos), Marina Silva (Meio Ambiente) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas) saíram em defesa da chefe da Igualdade Racial.
Anielle publicou na sua conta do X (antigo Twitter) neste domingo, 14, que as iminentes tragédias causadas pelas fortes chuvas que atingem o Rio seriam “fruto também dos efeitos do racismo ambiental e climático”. Após a veiculação da postagem, internautas começaram a questionar se a ministra estaria sugerindo que o meio ambiente é “racista”.
O significado do termo, porém, não é esse. O racismo climático e ambiental é reconhecido pela comunidade científica como um conceito que questiona como as como populações que vivem em regiões periféricas são as mais impactadas em tragédias climáticas.
Deputados do PL do Rio criticam ministra por uso do termo
Anielle recebeu críticas de parlamentares do Rio, Estado onde ocorrem as fortes chuvas e de onde Anielle é oriunda. O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (PL), que chamou o termo de “narrativa” no X. “Essa gente da esquerda é adoecida. Será que isso é quando a nuvem fica densa e escura?”, afirmou o parlamentar.
Já o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) afirmou que a chefe da Igualdade Racial não estaria se posicionando de uma forma correta durante a tragédia no Rio. “Essa ministra não está preocupada com ninguém, em um momento sensível, de calamidade pública como esse, ela fica lucrando!”, disse.
Ministros saem em defesa de termo utilizado por Marielle
Em resposta às repercussões negativas, membros da Esplanada também utilizaram o X para defender Anielle. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, afirmou que o conceito utilizado é reconhecido no campo científico. Almeida endossou que o termo discute como pessoas de grupos marginalizados são as mais afetadas, por razões sociais, em eventos ambientais.
“O fato de alguém desconhecer um conceito ou mesmo discordar de forma fundamentada – o que é totalmente legítimo, especialmente no campo da ciência – não apaga o fato de que o conceito existe. Uma simples olhada nas ferramentas de busca mais populares da internet nos levam a inúmeros artigos que tratam do tema”, disse o ministro dos Direitos Humanos.
Outra integrante do governo Lula que defendeu Anielle foi a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ela afirmou que a política precisa adotar novos termos e que o racismo ambiental é faz parte da realidade brasileira. “Eventos climáticos extremos atingem toda a população, mas é um fato que pessoas pretas, mulheres, crianças, jovens e idosos são duramente mais afetados”, disse Marina.
Respondendo a postagem de Marina, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara declarou que negar a existência do racismo ambiental “serve apenas para a manutenção dessa realidade”. “Tem gente que sofre mais e primeiro com as mudanças climáticas. Que bairros mais alagam, ou que moradias são mais facilmente destruídas com chuvas? Os mais atingidos têm cor e classe”, afirmou Guajajara no X.
Anielle questiona cor de pessoas que sofrem em regiões mais atingidas por enchentes
Em outra publicação na rede social, Anielle gravou um vídeo para explicar o termo que usou para falar sobre o desastre climático no Rio. Segundo a ministra, não é “natural” que regiões onde vivem mais pessoas negras e de baixa renda sejam as mais afetadas por desastres naturais. “Uma parte da cidade e do Estado não tem a mesma condição de moradia, de saneamento e de infraestrutura urbana que a outra”, disse.
“Quando a gente olha os bairros e municípios que foram mais atingidos, a gente vê algo que eles todos têm em comum, que são áreas mais vulneráveis. Qual é a cor da maioria das pessoas que vivem nesses lugares?”, questionou a ministra.
As fortes chuvas no Rio ocorreram por causa do avanço de uma frente fria. O deslocamento encontrou uma área de baixa pressão, de acordo com explicação do meteorologista Heráclito Alves, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), favorecendo as fortes chuvas. Segundo o governador do Estado, Cláudio Castro (PL), foram confirmadas 12 mortes até esta segunda-feira, 15.
Fonte: Estadão