Edição de 2014 da publicação da Real Academia Espanhola, que será lançada em março, revisou ao menos 10 palavras Vem aí, em março deste ano, uma nova edição de um dos livros mais consultados do mundo: o dicionário da Real Academia Espanhola (RAE). Dessa vez, com uma novidade importante. Não são poucos os que falam espanhol no mundo — a língua é a terceira mais popular –, como também são muitas, infelizmente, as definições que o dicionário da RAE contém com referências machistas. Nessa nova edição, a instituição irá eliminará uma série de definições como as seguintes: “feminino – débil, fraco”, “perequitar – dito de uma mulher que desfruta de liberdade excessiva” e “gozar – conhecer carnalmente uma mulher”. Como se pode perceber, o plano é revisar ao menos 10 palavras que possam ter menções consideradas machistas em alguns de seus significados. Nada disso, afirma Darío Villanueva, secretário da RAE, tem a ver com eliminar do dicionário todas as palavras que possam resultar ofensivas: “O que o Dicionário da Língua Espanhol nunca fará é suprimir palavras que se usam porque são ofensivas ou desagradáveis. Isso não podemos fazer. Seria o fim do dicionário e o começo de uma sequência sem fim”. Mas, se o dicionário não ofende, por que empreender uma campanha contra o machismo? “O que acontece é que, com o passar do tempo, a sociedade evolui, e certos termos vão deixando de ser vigentes”, explica. Outra pergunta interessante é então, diante de tantas frentes de evolução social, por quê combater o machismo? Quem deu sua explicação sobre o tema para a BBC Mundo foi a professora María Auxiliadora Barros, da Faculdade de Filología da Universidad Complutense de Madrid: “A maioria dessas acepções foram feitas por pessoas muito cultas, mas que não tinham nenhuma formação em lexicografia, tampouco em literatura, e descreviam nas fichas das palavras o que se refletia na sociedade”. E faz questão de esclarecer que o dicionário não pode ser acusado de machista, porque ele é reflexo de uma sociedade. “O dicionário não é sexista, nem o espanhol. É a cultura. Nas atas onde ficavam registradas as reuniões, dá para ver que a Academia se baseava mais no uso que era dado para as palavras que ao que tratavam de inventar os acadêmicos”, afirmou Barrios, que também é secretária da Fundação Doctor Paz Varela. Trabalhadores e trabalhadoras Outra revisão em processo para a nova edição é a inclusão do gênero feminino ou masculino em determinadas profissões, como “alfarero-ra” (ceramista), “enterrador-a” (coveiro), “costalero-ra” (tipo de carregador que leva nos ombros imagens religiosas em uma procissão) e “herrero-a” (serralheiro). É uma iniciativa que revive a polêmica de incluir ambos os sexos nos discursos escritos e falados ao se referir a uma pessoa, como solicitaram diversas organizações que defendem a igualdade de gêneros. “Uma coisa é o machismo intencional, como quando dizem ‘morreram dois suecos e suas esposas’, e outra coisa é a correção gramatical: os irmãos, os filhos, os colombianos. Isso se chama gênero não marcado e vem do latim”, esclareceu a professora à revista colombiana Arcadia. A nova edição do dicionário da RAE terá cerca de 93 mil vocábulos, 5 mil a mais que a anterior. Sua luta para se adaptar aos novos tempos e abandonar a promoção do pensamento machista reforçou o interesse de grupos, por exemplo, religiosos, em eliminar termos que consideram ofensivos. Um caso é associar “jesuíta” a “hipócrita e astuto”. Talvez neste caso a discussão seja outra, mas a Academia a trata com empenho. “Viemos contendo esse tipo de definições afins a certas crenças e contra outras, porque vivemos em uma sociedade laica, aberta e de opções religiosas diversas”, conclui José Manuel Sánchez Ron, membro da RAE. |
Fonte: Opera Mundi
|