Professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) orienta vítimas.
Ministério Público Federal já recebeu 15 reclamações somente este ano.
As mulheres que são vítimas de violência obstétrica devem formalizar a denúncia, segundo orientação da obstetra e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Carla Andreucci Polido. O Ministério Público Federal não recebeu nenhuma queixa em 2013 e neste ano já são 15. “Denunciar é o primeiro passo para diminuir o número de casos”, afirmou.
São muitas e comuns as ações nos hospitais consideradas violência obstétrica. Submeter a gestante a uma aceleração do parto sem necessidade, privar a mulher da presença do acompanhante, garantido por lei no Brasil desde 2005, prescrever jejum para a gestante, o que faz mal para a mãe e para o bebê, e deixar de oferecer métodos naturais e medicamentos quando necessário para aliviar a dor são procedimentos que caracterizam essa violência.
“A violência obstétrica é quando você transforma o processo fisiológico do parto, em um evento medicalizado, institucional. Quando você ultrapassa as recomendações científicas para assistência ao pré-natal e ao parto através de uso abusivo da tecnologia em desrespeito ao processo fisiológico”, explicou Carla.
Camila diz guardar uma grande frustração em
relação às intervenções (Foto: Ely Venâncio/EPTV)
Frustração
A arquiteta Camila Postigo dos Santos guarda uma grande frustração por causa do nascimento da primeira filha, hoje com 6 meses. Ela era acompanhada pelo mesmo médico havia cinco anos e confiava nele.
“Eu informei que queria o parto natural, sem intervenções e queria fazer na banqueta dentro do quarto e de cócoras. O médico concordou que eu poderia ter o bebê da forma que eu quisesse”, relatou.
Mas ela disse que não foi bem isso o que aconteceu. Depois de uma gestação saudável e de se preparar nove meses para o momento em que receberia a primeira filha, veio a frustração: um parto cheio de intervenções, bem diferente do que ela planejou.
“Quando o médico chegou ao hospital, ele detectou que ainda faltava um pouco de dilatação e a partir daí ele começou a fazer intervenção atrás de intervenção. Ele forçou o períneo, me levou para o centro obstétrico sem me consultar, eu não fui ouvida”, protestou.
A arquiteta não se conforma. “Eu não tive nem chance de tentar sentir como eu tinha que fazer a força e de sentir meu corpo, de sentir o que estava acontecendo. Já tomaram a decisão, empurraram minha barriga e a Laura nasceu em 20 minutos”, lamentou.
Adriana conta que foi vítima de violência obstétrica
na primeira gravidez (Foto: Ely Venâncio/EPTV)
Violência pós
O problema pode acontecer antes, durante ou depois do parto. A historiadora Adriana Abujanra conta que foi vítima de violência obstétrica na primeira gravidez. A filha nasceu às 8h, mas ela só foi ver o bebê cinco horas mais tarde.
“Não era possível tanto tempo de separação. Eu tinha pedido que nem levasse ela para o berçário e eu ficava pensando o que aconteceu para ela não estar ali, foi desesperador”, relatou a mulher, que disse que a filha era saudável.
Um procedimento considerado totalmente contrário ao processo natural. “Então, o bebê que nasce em boas condições deve ser colocado em contato pele a pele com sua mãe imediatamente após o parto para favorecer o vínculo e a amamentação, que deve ser realizada preferencialmente na primeira hora do bebê”, explicou a médica da UFSCar.
Indignadas, muitas mães decidiram se manifestar sobre o assunto e postaram relatos sobre o parto na internet. Uma contou: “com muita dor, comecei a chorar. Foi quando uma enfermeira disse em alto e bom som que se continuasse assim não ia me atender mais”.
Em outro caso, a mulher disse que teve os braços amarrados e sem nenhuma defesa ou explicação foi levada para cesárea. Outra afirmou que ficou 24 horas sem comer nada. “Então, quando você submete uma mulher a essa situação, porque você é o cuidador dela e tem certa autoridade sobre o processo, quer dizer, você acredita que tem certa autoridade sobre o processo, você está na verdade praticando uma grande violência”, afirmou a professora da UFSCar.
Com denunciar
As denúncias podem ser feitas pelo site do Ministério Público Federal, em São Paulo. A pessoa também pode procurar a Defensoria Pública, mesmo que o atendimento médico tenha sido particular.
É importante reunir documentos, como cópia do prontuário médico e o cartão de acompanhamento da gestação. Outra opção é fazer a denúncia por telefone pelos canais Violência Contra a Mulher – 180, ou disque-saúde – 136.