Finalizando a semana do 8 de março – Dia Internacional das Mulheres – celebrado na última semana, a Secretaria Nacional de Mulheres do PSB realizou na noite desta terça-feira, 9 na sede da Fundação João Mangabeira – FJM, o bate-papo on-line com o tema de “Violência contra a mulher”.
A fim de debater as violências cotidianas e política cometidas contra a mulher e alertar a população feminina sobre seus direitos, a atividade teve a participação da professora Luciana Panke (UFPR), da ativista Rosa Maria, Promotora Legal Popular (PLP), da defensora pública e coordenadora da Comissão dos Direitos da Mulher da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (ANADEP), Rita Lima, e da advogada e pesquisadora pelo Instituto Alziras, Roberta Eugênio. A mediação foi feita pela jornalista Maria Paula.
Dividido em dois blocos – violência cotidiana e violência política, respectivamente – o programa iniciou com a abertura feita pela Secretária Nacional de Mulheres do PSB, Dora Pires. “Este é um momento muito importante para nós, que devemos fomentar este debate dentro do PSB, pois somos nós que somos que invisibilizadas. É pela mão das mulheres que estamos trazendo essa discussão para dentro do partido. Por isso, essa discussão deve partir de nós”, disse saudando as presentes e a audiência. Dora destacou, ainda, a importância do bate-papo temático, diante do cenário de epidemia que atenta contra a vida das mulheres no Brasil. Os dados estão aí para evidenciar. A cada 4 minutos, uma mulher é agredida; a cada 2 horas, uma mulher é morta. “Este é um momento ímpar para trazermos o tema à militância, ainda mais visto o número de casos de violências”. Ao final, fez um apelo às secretárias estaduais: “façam essa discussão sobre violência política dentro do partido”.
Violência cotidiana
Dando início ao bloco 1 Rita Lima afirmou que, nos casos de violência contra a mulher, há, proporcionalmente, pouca educação, prevenção e acolhimento para muita responsabilização e punitivismo. A defensora pública alertou que quando a democracia está por um momento de instabilidade, as pautas das “ditas de minoria” são renegadas ao segundo plano. “Quem se beneficia de um debate que invisibiliza nossas pautas?”, questiona. “Mais do que falar sobre os dados, é importante que tenhamos a oportunidade de falar sobre as causas da violência. O machismo ainda é um tabu a ser falado com nossos colegas e companheiros”, afirmou.
Em seguida, Rosa Maria, Promotora Legal Popular (PLP), destacou sobre as causas da violência, e a necessidade de trabalhar os fatores educação e prevenção como forma de desconstruir a mentalidade vigente de posse sob a mulher. A conscientização sobre o papel da dependência afetiva na violência contra a mulher também foi alertado por Rosa. “A gente só vê a violência quando ela está concretizada”, disse. Enquanto PLP, Rosa desenvolve um trabalho humano e sensível de acompanhamento das necessidades das mulheres vítimas de violência.
Rosa alertou sobre a necessidade de levar para as escolas debates sobre o sentimento de posse e a concepção patriarcal que muitos meninos e homens têm sob o corpo da mulher. “Nós temos que trabalhar na causa da violência, porque os meninos nascem com esses paradigmas de posse e de controle”. Ao final, fez um questionamento: a violência doméstica é uma questão de classe social? Segundo ela, em 2019, 39 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2019 – o que dá uma média de 3.25 mulheres mortas por dia.
Violência Política
Logo no começo da exposição, Luciana Panke – que é embaixadora no Brasil de campanha contra o feminicídio na América Latina – ressaltou o papel, a unidade e o exemplo das mulheres latinas que “têm uma força única” devem servir de exemplo para nós, brasileiras.
Logo em seguida, a plateia foi apresentada aos cinco tipos de violências cotidiana s- descritos pela professora – que acometem as mulheres culturalmente:
1.Cultura do mimimi: qualquer reivindicação por direitos é considerada exagero.
2.Cultura do estupro: a mulher política é reduzida a um elemento de enfeite, e não pela qualidade profissional e/ou trajetória política.
3.Cultura da incompetência: construção coletiva da ideia de que mulher não sabe fazer política e que, por isso, mulher não vota em mulher
4.Cultura do silêncio: a expectativa de que mulher não fale no mesmo tom de voz, na mesma agressividade ou mesma assertividade que um homem. O tolerável é a voz baixa e branda.
5.Cultura da servidão: finalidade utilitarista da mulher na vida, seja dentro ou fora da política. É aceitável que a mulher esteja na política, mas desde que ela sirva o café.
Roberta Eugênio, do Instituto Alziras, finalizou o bloco dois abordando pontos como o feminicídio político e a subrepresentação da mulher na política. Ela apresentou a pesquisa Perfil das Prefeitas no Brasil 2017-2020 << http://prefeitas.institutoalziras.org.br/>>, onde é possível constatar, por exemplo, que apenas 7% da população é governada por mulheres.
Segundo a pesquisadora, algumas das principais barreiras enfrentadas pelas mulheres na hora de ingressar na política são ausência de investimento, assédio, violência política, falta de acesso à mídia. “As mulheres na política têm a capacidade de melhorar o cenário da sociedade, sobretudo em gestões competentes. Acreditamos em uma nova forma de fazer política, usando os saberes populares”, disse.
Uma das soluções apontadas por Roberta é desnaturalizar a violência política, que é pouco co conhecida pela sociedade e partidos. “Além de votar em mais mulheres, os eleitores precisam deixar de votar naqueles candidatos que naturalizam a violência política contra a mulher”, concluiu.
Interações e perguntas da audiência
Em seguida, as participantes responderam a perguntas enviadas pela audiência e pela plateia. Para saber mais detalhes do bate-papo, acesse https://www.facebook.com/mulherespsb40/videos/655692074972432/