Apresentador de TV negocia filiação ao PSB e avalia figurar como candidato a vice da deputada federal; histórico de desistências, contudo, deixa aliados em dúvida
O apresentador de TV José Luiz Datena entregou, na última segunda-feira, sua carta com pedido de desfiliação ao PDT, partido no qual havia ingressado neste ano. O movimento de Datena ocorreu após um convite da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) para que ele se filie ao PSB, de olho em uma composição de chapa para disputar a prefeitura de São Paulo em 2024.
Tabata já foi lançada como pré-candidata do PSB à prefeitura, e busca o apoio de Datena na expectativa de ampliar pontes com o eleitorado de menor renda, atento à pauta da segurança pública e que não necessariamente vota na esquerda. Datena já foi filiado a nove partidos, de diferentes matizes, incluindo o PT, do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No ano passado, ele apareceu ao lado do então presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma visita ao Palácio da Alvorada, durante o segundo turno.
Na carta entregue ao PDT, e obtida pelo GLOBO, Datena alegou “motivos de ordem pessoal” para deixar o partido e solicitou sua “desfiliação imediata”, com a devida comunicação ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). O PDT havia anunciado a filiação de Datena há apenas cinco meses, em junho, com o horizonte de lançá-lo à prefeitura em 2024.
Em entrevista à Jovem Pan, também na segunda-feira, Tabata afirmou que deseja ter Datena “dentro do PSB” e que o apresentador de TV tem “histórico e tamanho” para figurar como seu colega de chapa, mas que a decisão só será tomada por ele mesmo no ano que vem.
Reservadamente, integrantes do PSB ainda se mostram céticos sobre uma eventual filiação e participação de Datena na disputa eleitoral, citando o histórico de recuos do apresentador. Em 2016, ele ensaiou pela primeira vez disputar a prefeitura de São Paulo. À época filiado ao PP, ele citou o envolvimento do partido em denúncias da Lava-Jato como motivo para desistir de concorrer.
Em 2020, filiado ao MDB e cotado para concorrer como vice na chapa do então prefeito Bruno Covas (PSDB), também recuou de última hora. A decisão abriu caminho para Ricardo Nunes (MDB) entrar na chapa, posteriormente assumindo a prefeitura, em 2021, após o falecimento de Covas.
Em 2018 e 2022, Datena avaliou concorrer ao Senado por DEM e PSC, respectivamente, e só anunciou as desistências em seu programa de TV, na data-limite exigida pela Justiça Eleitoral para que se afastasse de suas atividades.
Datena, segundo interlocutores, tem boa relação com o ministro das Micro e Pequenas Empresas, Márcio França, atual presidente estadual do PSB em São Paulo. França é um dos principais incentivadores da campanha de Tabata, que busca se colocar como alternativa a Nunes, apoiado por Bolsonaro, e a Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato com apoio de Lula.
No início do ano, o PSB tentou costurar uma aliança com o PDT na capital paulista, reeditando a parceria entre os dois partidos na eleição de 2020 — quando França concorreu à prefeitura tendo como vice o líder sindical Antonio Neto (PDT). Integrantes do PDT, contudo, rejeitaram apoiar Tabata. A parlamentar deixou o partido em 2019 sob fogo cruzado, após votar a favor da reforma da Previdência.
Sem o apoio do PDT, portanto, a filiação de Datena ao PSB ou a outro partido surgiram como alternativas viáveis para Tabata ter o apresentador em sua chapa. Procurada, a deputada não quis se manifestar.