O caso brutal de uma jovem argentina que foi estuprada por três homens e morreu em consequência do ato ganhou destaque em todo o mundo. Para chamar a atenção das autoridades do país e da América Latina para a violência de gênero, mulheres organizam manifestações, paralisações e greves por uma hora na tarde desta quarta-feira (19), em diversas cidades argentinas.
O crime aconteceu no dia 8 de outubro. Mas, após a divulgação do resultado das investigações, ele chocou e comoveu a população local e internacional. De acordo com informações veiculadas pelo site do jornal El País, a adolescente Lucia Pérez, de 16 anos, foi estuprada e morreu em decorrência da dor que sentiu durante o ato, em Mar Del Plata, cidade litorânea da Argentina. Matías Gabriel Farías, de 23 anos, Juan Pablo Offidani, de 41, e Alejandro Alberto Masiel, de 61, são acusados pelo crime e estão presos.
Caso da adolescente argentina que foi estuprada e morreu: entenda
A adolescente conheceu um dos criminosos no dia anterior ao ato de violência, quando pediu a uma amiga da escola em que estudava ajuda para comprar um cigarro de maconha. Segundo informações apuradas pelo jornal argentino Clarín, a amiga apresentou Farías, que vendia drogas perto da escola.
Após a realização de uma reconstituição do caso feita pelo Ministério Público, as autoridades acreditam que depois de se se envolverem sentimentalmente, a adolescente voltou na casa do acusado no dia seguinte, quando foi drogada e estuprada. De acordo com a juíza que avalia o caso, Farías e Offidano deram grande quantidade de maconha e cocaína para Lucia e, depois disso, a estupraram. “[Ela foi] estuprada por via vaginal e anal, não só com o pênis do homem que a estuprou, mas também com a utilização de um objeto não pontiagudo, como um pau”, relataram as autoridades.
Os homens, ao notarem que Lucia estava desacordada, lavaram seu corpo, trocaram suas roupas e a levaram para um centro de saúde. Na entrada, Farías se apresentou como namorado da jovem e mentiu dizendo que ela havia tido uma overdose.
Os médicos notaram os ferimentos no corpo da vítima e a investigação teve início. De acordo com María Isabel Sánchez, autoridade que acompanha o caso, o estupro foi tão violento que levou a jovem a morte. “Ela morreu de dor excessiva”, declarou. Ao Clarín, os médicos que atenderam Lucia disseram que o ato foi uma agressão sexual desumana. Já a juíza o classificou como uma “aberração desumana”.
Após as suspeitas e o início das investigações, a polícia encontrou na casa de um dos acusados grandes quantidades de drogas e preservativos. Alejandro Alberto Masiel, de 61, também teve sua prisão temporária solicitada, pois é acusado de ter encobertado o crime.
Crime evidencia problema da América Latina
O Excelsior, jornal mexicano, publicou que o caso causou uma indignação social poucas vezes vistas na América Latina, além de ter evidenciado a violência de gênero presente na região. Os recentes casos do estupro de uma menor no Rio de Janeiro e das argentinas mortas no Equador foram lembrados.
“Há uma falta de reconhecimento de meninas e mulheres jovens e, nesse contexto, vemos que seus corpos são percebidos como espaços que podem ser violados. Isso nos traz para situações como as que estamos vivendo, que são realmente insuportáveis”, disse a representante do setor Gênero e Inclusão da ONG Plano Internacional para a América Latina e Caribe, Emma Puig, que ainda relacionou o problema tanto à extrema desigualdade e pobreza dos países como a uma falta de reconhecimento de que as meninas são seres humanos que têm direitos e que têm coisas a dizer.
Manifestações
Para chamar atenção para a raiz do problema que levou à morte de Lucia Pérez, grupos e coletivos sociais da Argentina convocaram uma paralisação nesta quarta-feira (19), das 13h às 14h, além de uma nova marcha em diferentes cidades do país. “A menos de uma semana do Encontro Nacional de Mulheres, um novo feminicídio brutal mostra a violência a que estamos expostas. Por todas as mulheres que faltam, pelas assassinadas e desaparecidas, contra a violência e o terrorismo machista, contra a impunidade, contra o acobertamento, contra a inação e a cumplicidade estatal e policial”, diz um dos textos que convocaram os atos.
A ideia é fazer a paralisação onde cada mulher estiver, seja no trabalho, na rua ou em casa. A ideia é que nenhuma faça barulho. De acordo com informações do Vix.com em espanhol, em Buenos Aires, capital do país, a manifestação será no Obelisco, na Praça da República, às 17h. No entanto, outras diversas cidades também sairão em marcha.
No Facebook, a página feminista argentina “Ni una menos” (“Nenhuma a menos”, em tradução livre para o português), além de chamar para as manifestações, está publicando dados alarmantes sobre a situação da mulher no país e na América Latina e divulgando as hashtags “NiUnaMenos”, “NosotrasParamos” e “VivasNosQueremos” para dar força mundial à questão.
Feminicídio
O estupro e a morte de Lúcia Pérez é mais um caso de feminicídio. Desde o crime, nos últimos 11 dias, de acordo com dados levantados pelo jornal espanhol El País, pelo menos outra três mulheres foram assassinadas na Argentina. Sílvia Filomena Ruiz e Marilyn Méndez, grávida de três meses, foram esfaqueadas. Vanessa Débora Moreno foi assassinada. Todos os autores dos crimes eram maridos ou companheiros das vítimas.
Feminicídio no Brasil
No Brasil, o feminicídio também é um grave problema de segurança pública e proteção às mulheres. De acordo com o levantamento do Mapa da Violência de 2015, realizado com o apoio da ONU (Organização das Nações Unidas), o Brasil passou da sétima posição, em 2010, para a quinta, em 2013, ano em que foram registradas 4.762 mortes – ou 13 homicídios por dia. As mulheres negras são as mais expostas – a nível global houve um aumento de 54,2% no número de casos. Desses casos, a maioria é cometida por conhecidos próximos da vítima.
Lei do feminicídio
Em 2015 o feminicídio – tipo de morte que acontece exatamente pela vítima ser mulher – passou a ser considerado homicídio qualificado e hediondo. A pena prevista para o crime é de reclusão de 12 a 30 anos. A lei prevê ainda o aumento da pena em 1/3 se o crime ocorrer durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; contra menor de 14 anos, maior de 60 ou pessoa com deficiência e na presença de descendente ou ascendente da vítima.
Fonte: Vix.com