Estudo elaborado em cinco países da América Latina concluiu que a influência de grupos religiosos dificulta planejamento familiar no Brasil
A influência de grupos religiosos e conservadores no desenho e execução das políticas públicas de planejamento familiar prejudicam o acesso das mulheres aos métodos contraceptivos no Brasil. Esta é a conclusão de uma pesquisa realizada em cinco países da América Latina.
O estudo feito pela Federação Internacional de Planejamento Familiar/Região do Hemisfério Ocidental (IPPF/RHO) ouviu 100 especialistas no México, Colômbia, Argentina, Chile e Brasil. O resultado mostra que as brasileiras são as que menos têm acesso às informações sobre métodos contraceptivos. A razão para o mau posicionamento é o conservadorismo associado à religião.
De acordo com a pesquisa, o Brasil possui uma das legislações “mais avançadas” do continente no que se refere ao planejamento familiar e ainda conta com um sistema de saúde que distribui gratuitamente métodos contraceptivos. Mas não há um acompanhamento para descobrir quais melhor se adaptam à vida dessas mulheres.
O acesso às informações e aos métodos contraceptivos permite às brasileiras decidirem sobre a maternidade, se querem ou não ter filhos e em qual momento desejam ser mães, explicou a socióloga Jacqueline Pitanguy, da ONG Cepia, parceira da pesquisa.
“Além de essas políticas reduzirem o índice de gravidez na adolescência e os abortos clandestinos, as mulheres que conseguem planejar a gravidez têm condições de desempenhar um papel mais ativo na sociedade e dar aos seus filhos melhores condições de vida”.
O Brasil também recebeu baixa avaliação no quesito educação sexual nas escolas, pois o tema não é obrigatório nas salas de aula do país. Além disso, as campanhas de saúde sobre sexualidade focam apenas na prevenção de HIV/Aids e no uso de preservativos.
Também foi registrado no estudo que, ao contrário de México e Chile, por aqui não há programas específicos para a atenção de grupos e mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Por fim, a influência religiosa e cultural de profissionais de saúde limita o uso de protocolos e a participação desses profissionais em treinamentos sobre o tema.
Embora a América Latina e o Caribe terem registrado o maior crescimento mundial em relação à participação das mulheres no mercado de trabalho, de 40% para 54,3%, o aumento do uso de anticoncepcionais foi consideravelmente pequeno, de 66,7% para 67%. Ou seja, 225 milhões de latino-americanas e caribenhas em idade reprodutiva não fazem uso de métodos contraceptivos.
Fonte: Marie Claire