Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) também não foi poupado e acusado de “seletividade” ao pautar ações
O Conselho de Ética da Câmara instaurou seis processos contra deputadas nesta quarta-feira. Os alvos são Célia Xakriabá (PSOL-MG), Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Talíria Petrone (PSOL-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (Psol-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP) . Todas as representações foram aceitas pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que diz que as deputadas quebraram o decoro parlamentar durante a votação do projeto do marco temporal de terras indígenas, no fim de maio. A bancada feminina afirma que a ação para instauração dos processos foi orquestrada e acusa a Comissão de Ética e machismo. A sessão foi marcada por bate-boca, ironias e troca de ressonância.
O projeto do marco temporal foi aprovado no plenário da Câmara e seguido para o Senado. Segundo o PL, as deputadas citadas gritaram ao microfone: “Assassinos do povo indígena!”. Apesar de os microfones terem sido cortados, o PL afirma que as deputadas continuarão ofendendo os parlamentares que fazem oposição ao governo, principalmente o deputado Zé Trovão (PL-SC), autor do requerimento de urgência para a votação do projeto. O PL acrescenta que as deputadas usariam as redes sociais para “manchar a honra de diversos deputados”.
Talíria Petrone foi uma das se manifestar e argumentar que o processo para a instauração dos processos estava “contaminado por machismo”.
— Coincidentemente, os focos são corpos femininos, uma bancada específica. É um conjunto de ataque, com a anuência desta comissão — afirmou.
Juliana Cardoso (PT-SP) se disse alvo constante de ataques.
— Deputadas são chamadas de abortistas e vagabundas diariamente nesta Casa e não vejo ninguém revoltado. Quem nos chama desta forma com os microfones desligados? Esses mesmos deputados, que agora estão doídos e indignados por terem sido chamados de assassinos. Curioso, não? precisamos conversar com a mesa diretora sobre os procedimentos desta Comissão de Ética. Ela precisa servir como método de proteção de parlamentares, e não como forma de caçar alguém pelo eu gênero — disse.
O presidente da Comissão de Ética, Leur Lomanto Júnior (União-BA), afirmou que todos os critérios técnicos foram contemplados para a instauração de processos e garantia de isonomia.
— Os tratamentos são igualitários e seguirão sendo, enquanto eu for presidente.
Pouco depois, Lomanto Júnior cortou o microfone em que falou Sâmia Bomfim (PL-SP) e foi acusado de machismo.
A Coordenação da Bancada Feminina da Câmara disse que as representações configuram violência política.
“É importante frisar também que existe uma sutileza na violência política de gênero e que tais representações são uma tentativa de silenciar os parlamentares, de impedir o exercício de seus mandatos e de obstaculizar seus direitos políticos”, afirma a bancada em nota.
Júlia Zanatta (PL-SC) discordou e afirmou que a instauração dos processos não configurava violência de gênero.
— Quando fui vítima de assédio nesta casa, nenhuma dessas deputadas se manifestou contra o homem que me encoxou. Hoje, estão revoltadas e falando em violência de gênero. Isto é uma defesa dos colegas de partido, mas não sobre uma questão de gênero. Ou será que a defesa das mulheres só vale para um campo político? — questionou.
lira como alvo
Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) também não foi poupado e acusado de “seletividade” ao pautar ações. Lira remeteu ao Conselho, na última semana, a ação do PL protocolada na véspera, contra seis deputadas. Entretanto, as ações contra quatro deputados do PL acusados de estimular de vandalismo de 8 de janeiro estão paradas há mais de quatro meses.
— Outros processos não foram apresentados nesta comissão. Eu quero entender o porquê. Esta comissão está abrindo sepulturas precedentes. Isso vai virar um palco de manobras e guerras? — questionou Ana Paula Lima (PT-SC).