No dia 21 de setembro, na sede da FJM, ocorreu o ato de filiação da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) ao PSB. Sob a égide da esperança, a chegada da jovem marca novo momento da luta das socialistas contra violência de gênero e pela defesa da educação. Em primeira mão, o “Mulheres Socialistas: gênero & política em pauta” traz entrevista com a nova socialista sobre temas que são de interesse de toda a militância do partido. Confira!
Comunicação SNM – A senhora tem conhecimento do organismo de mulheres do PSB? Como poderá colaborar para o fortalecimento da pauta feminista dentro do Partido?
Deputada Tabata – Primeiro eu quero pontuar que tenho uma admiração enorme e muito apreço por todo o trabalho que a Dora, ao lado de tantas mulheres fortes, vem fazendo dentro do PSB para pautar a presença das mulheres, para lutar por esse espaço. Espero poder contribuir muito com essa luta como aliada, como parlamentar e como ativista. A luta por mais mulheres na política é um dos pilares do meu mandato, mas também é um propósito de vida que se concretizou com o Vamos Juntas
(institutovamosjuntas.org) – esse movimento tão bonito que luta pela presença das mulheres na política -, mas que também se concretiza no dia a dia. Estou inteiramente à disposição, estou muito animada com essa construção e tenho a certeza que chego para me juntar a um grupo de mulheres muito fortes e corajosas que vêm pautando essa luta sem medo e com muita coragem.
Comunicação SNM – Em sua avaliação, qual a importância do PSB realizar um processo como o da Autorreforma? Acredita que ela poderá atrair mulheres e jovens para a política?
Deputada Tabata – Como cientista política e como deputada, eu acredito que os partidos políticos são fundamentais, e que inclusive essa crise que a gente vem vivendo na democracia não se resolve sem os partidos. Enquanto a população não se ver mais representada neles, e não tiver a percepção de que os partidos são um espaço de democracia, de inclusão, de ética, a gente vai continuar nesse processo de fragilização da nossa democracia. E, nesse sentido, a Autorreforma do PSB é extremamente importante tanto para que o PSB possa se posicionar de forma mais conectada com a população, mas que também possa se mostrar essa abertura ao diálogo às pessoas que de forma geral são excluídas da política como jovens, mulheres, negros para citar alguns exemplos.
Boletim SNM – Recentemente, a senhora foi vítima de ofensas e ameaças virtuais. Enquanto deputada, de que forma pretende propor ações que ajudem a coibir a violência política de gênero, que tem sido cada vez mais comum entre as parlamentares?
Deputada Tabata – Uma das lutas principais da bancada feminina nos últimos dois anos, foi a luta para que nós tivéssemos a aprovação da lei violência política de gênero (puxar um fio q leve para Lei 14.192/21, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher durante as eleições e no exercício de direitos políticos e de funções públicas), que basicamente tipifica essa forma de violência e esse crime. Essa lei já foi sancionada e nós precisamos lutar agora pela sua implementação. E é importante dizer também que são vários processos, várias barreiras que impedem a participação das mulheres na política e a nossa luta deve se dar em todos esses fronts. Então, na hora que nós lutamos para fortalecer a implementação da lei Maria da Penha, na hora que nós lutamos contra todos os crimes de Internet, que são mais recentes, como o próprio stalking (Lei 14.132, de 2021). Portanto, acho que essa nossa luta se dá em vários fronts, de diferentes formas, mas eu acho que eu também tenho um papel importante de denunciar toda a violência que acontece, de denunciar essas agressões para que esses agressores saibam que não vão ficar impunes ao tentar silenciar as mulheres na política.
Comunicação SNM – A senhora acredita que a violência política de gênero afasta as mulheres da política?
Deputada Tabata – Eu tenho absoluta convicção de que, infelizmente, a violência política de gênero afasta, sim, as mulheres da política. O custo pago pelas mulheres de se posicionarem, de lutarem pelos seus ideais é muito mais alto do que o custo pago pelos homens e na hora de estar na política é tão perigoso, sabe? É tão violento de forma física, de forma psicológica. É claro que as mulheres pensam duas, três vezes antes de se candidatarem, antes de se posicionarem, inclusive nas redes sociais. E esse é um fenômeno que tenta silenciar mulheres de todo o espectro ideológico de Dilma Rousseff a Joice Hasselmann, de Marina Silva, Manuela D’ávila, Talíria Petroni, Marielle Franco, só pra citar alguns exemplos.
Comunicação SNM – A lógica de que sem igualdade e equilíbrio de direitos e oportunidades de gênero demonstra uma democracia frágil?
Deputada Tabata – Um país em que as mulheres compõem mais da metade da população, mas são apenas 15% do Parlamento, a gente tem uma democracia que é, sim, frágil, uma democracia que não ouve todas as dores, que não dá voz a todas as demandas. Os estudos estão aí para mostrar de forma muito contundente – a nível internacional – que, com mais mulheres na política, se reduz a corrupção, se melhoram diversos índices como os econômicos. Tem estudos feitos, inclusive aqui no nosso Brasil, que mostram que com mais mulheres na política você melhora o resultado de combate à pandemia, você melhora o número de meninas que se inscrevem para votar, você, inclusive, melhora o combate à mortalidade infantil. Então, nós temos muitas razões mas, pra mim, é mais forte é a certeza de que uma democracia forte é uma democracia que tem a cara de sua população, que representa a sua população. E aqui é um exemplo que é muito forte para mim é a nossa luta de combate à pobreza menstrual. Depois de um ano e meio de muita luta, nós temos hoje projetos robustos em São Paulo, Recife, Maranhão e Rio de Janeiro, só pra citar alguns exemplos, mas também já aprovamos um conjunto de projetos na Câmara e no Senado. Dois deles de minha autoria e isso só foi possível porque nós temos hoje mulheres fazendo políticas públicas, mas ao mesmo tempo é assustador que, em pleno 2021, meninas perdendo um mês e meio de aula por ano e isso não era tema alvo de políticas públicas, o que só mostra a importância da política de fato ter a nossa cara.
Comunicação SNM – Como um partido pode ser impulsionador da inserção de mais mulheres na política e nos espaços de poder?
Deputada Tabata – Os partidos são fundamentais nessa luta para que a política seja um lugar seguro, seja um lugar, de fato, inclusivo para mulheres, negros, periféricos, entre tantos outros grupos. E nesse sentido passa por condutas internas, Então, na hora que o partido fortalece lideranças femininas, apoia as suas candidaturas. Mas permite que as mulheres ocupem os espaços de poder dentro do partido. Eu tenho muita convicção que nós teremos mulheres nos representando de forma contundente no Congresso quando tivermos mulheres liderando de forma contundente os partidos políticos.
Comunicação SNM – Por fim, como foi falado pela senhora na cerimônia de filiação, o Brasil vive o pior momento da educação nos últimos 20 anos. Como podemos reverter essa situação?
Deputada Tabata – Infelizmente, é muito mais fácil destruir do que construir e nós levaremos muito mais tempo pra colocar de pé do que o governo Bolsonaro vem levando pra destruir a nossa educação pública. E aí a recuperação passa por algumas temáticas. Acredito que a pandemia deixou claro que o acesso à internet é acesso à educação. Nós precisamos seguir na luta para que alunos de baixa renda tenham acesso a internet, para que nossas escolas estejam conectadas com internet de alta velocidade. Nós precisamos também travar uma luta a nível nacional contra a evasão escolar para que, enfim, a gente não abra mão dessa geração inteira. E aí nesse sentido tem um projeto de minha autoria, que é o projeto que propõe uma bolsa para alunos de baixa renda que estão no Ensino Médio, pelo qual eu seguirei lutando, e aí entre tantas outras coisas como a luta pela valorização da carreira docente, a luta pela expansão das vagas em creche. Quero ressaltar o nosso sonho da escola integral, né?! Essa escola traz o projeto de vida, que traz uma educação muito mais holística, muito mais completa. Ela se faz extremamente necessária nesse momento que a gente tá vivendo.