Com pauta abrangente de reivindicações – da reforma agrária ao fim da violência no campo e da violência contra as mulheres –, a Marcha das Margaridas ocorreu na manhã desta quarta-feira (14), na Esplanada dos Ministérios em Brasília. A estimativa da Polícia Militar é que a marcha reuniu entre 35 mil e 40 mil pessoas, mas a organização do movimento estima que cerca de 100 mil pessoas participaram da marcha.
A Marcha das Margaridas é organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) desde o ano 2000 e está em sua sexta edição. Diversos parlamentares compareceram à edição deste ano, como a líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ela acredita que, diante do tamanho do movimento, o Congresso precisa dar uma resposta às demandas das trabalhadoras rurais:
“Não é possível uma insensibilidade a esse protagonismo de mulheres do Brasil inteiro, que têm uma pauta de reivindicações que vai da questão das terras – da reforma agrária a um conjunto de reinvindicações em torno disso, que vai desde tecnologia, produção, direitos sociais, educação, financiamento a não violência”, disse. “Então há uma pauta imensa, e o Congresso vai ter que analisar essa pauta, olhar os projetos em tramitação, e não pode cortar recursos, tem que aportar recursos para essas áreas”, completou.
Resistência
A coordenadora-geral da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, explica que este ano, diferentemente de outros anos, o movimento não traz uma pauta fechada para o governo, porque visa sobretudo resistir à retirada de direitos. “A marcha deste ano é diferente de outras marchas, em que a gente entregava uma pauta para o governo. Nesta marcha a gente não tem como entregar uma pauta para o governo que está retirando direitos das classes trabalhadoras, sobretudo das mulheres”, afirmou.
Na marcha, foi criticada, por exemplo, a chamada Medida Provisória da Liberdade Econômica (MP 881/2019), aprovada nesta terça pela Câmara. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) participou da marcha e criticou o fim das restrições ao trabalho nos domingos e feriados, contido na MP. O texto aprovado dispensa o pagamento em dobro do trabalho nesses dias se a folga ocorrer em outro dia da semana.
Já Vanusa Cardoso veio do território quilombola de Abacatal, no Pará, para participar da marcha, em defesa de seu território: “O governo federal e o governo estadual estão entregando o estado do Pará inteiro para o capital estrangeiro, junto com eles nossos territórios – o território quilombola, indígena, dos povos tradicionais. E nós viemos aqui porque a mulher também defende o território.”
Violência contra a mulher
Autora de requerimento de sessão solene em homenagem à Marcha das Margaridas, que ocorreu na terça-feira (13) no Plenário da Câmara, a deputada Erika Kokay (PT-DF) destaca que a luta das trabalhadoras rurais é por terra, pelo fomento à agricultura familiar, contra a liberação de novos agrotóxicos pelo governo, mas também pelo fim da violência contra as mulheres. “Elas lutam contra a violência sexista, machista, que se expressa também no campo e se expressa de forma muito aguda no campo”, ressaltou.
A Marcha das Margaridas ocorre sempre por volta do dia 12 de agosto, data da morte da trabalhadora rural e líder sindicalista Margarida Maria Alves. Ela foi assassinada em 1983, na Paraíba.
Na sessão solene na Câmara, foi lida mensagem do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmando que a Câmara tem a obrigação de abrir as portas para as margaridas e de encaminhar suas demandas contra a fome, a pobreza e a violência.