Rita Serrano reclama do machismo e da pressão do Centrão por mais espaço no governo federal
A presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, afirmou nessa quinta-feira (27) que não discutiu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a possibilidade de deixar o comando da instituição. Interlocutores do governo dão como certa a sua saída na reforma ministerial para dar espaço a políticos do Centrão, grupo ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
“O cargo obviamente é dele [o presidente Lula], a Caixa é do governo federal. Todos os cargos indicados são do presidente Lula, mas até o momento a única orientação que recebi do presidente Lula é que eu trabalhasse, e eu estou trabalhando 14 horas, 16 horas por dia, tentando retomar o papel e a missão do banco”, ressaltou, após a solenidade para promover ações de diversidade e inclusão.
Serrano comentou sobre a reunião com Lula, na quarta-feira (26). Segundo ela, a troca do comando da Caixa não estava na pauta. “Não é sobre esse assunto que vocês estão pensando”, afirmou a jornalistas. O encontro, disse, serviria para prestar contas da gestão e tratar de “um novo programa”, ainda não detalhado.
A presidente do banco admitiu estar incomodada com as publicações nos jornais a seu respeito e disse que se considera “teimosa” o suficiente para não ceder às pressões para deixar o cargo. No entanto, não fez menção às negociações políticas para ampliar a participação do Centrão no governo com o objetivo de aumentar a base governista no Congresso.
Serrano afirmou para a plateia formada por representantes do governo da área social que as críticas que recebe são motivadas pelo incômodo causado quando mulheres ocupam espaços de poder.
“A discriminação se dá em todos os momentos. Quando eu olho as minhas fotos nos jornais todos os dias, inclusive hoje, eu fico pensando como é difícil ser mulher e chegar a um cargo de poder”, disse. “Quantas forças poderosas se movem para que isso não ocorra, por trás de um discurso muitas vezes vazio de cobranças.”
A presidente da Caixa afirmou que os ataques também são dirigidos a outras integrantes do governo. “Esse processo é bastante complicado quando a gente vê — não só eu, mas outras mulheres do governo ou em outros cargos de poder — que o ataque às mulheres é sempre maior do que a qualquer outra pessoa.”
Serrano disse que para as mulheres “não basta ser competente e eficiente, ter formação melhor”. Afirmou que é preciso “o tempo todo provar que é capaz”, e que isso é cansativo. “Aí, de vez em quando, a gente desanima.” Ao concluir, afirmou que permanece firme no cargo. “Para as mulheres e os diferentes ocuparem espaços de poder, temos que ser muito teimosos porque, se não for, não tem jeito. Como sou muito teimosa, vocês fiquem tranquilos: sou teimosa, estou aqui, vou continuar trabalhando muito”.
A secretária-executiva do Ministério das Mulheres, Maria Helena Guarezi, endossou o discurso de Serrano. “Isso é proposital e simbólico. (…) Toda vez que uma mulher chega a um espaço de decisão e poder, seja dentro do espaço doméstico ou em qualquer outro espaço, ela corre o risco de ter [contra ela] uma artilharia misógina.”