Deputadas ressaltam importância de mulheres serem reconhecidas e atingirem postos de direção nas instituições científicas
Pelo segundo ano consecutivo, a Câmara dos Deputados entregou o Prêmio Mulheres na Ciência Amélia Império Hamburger a cientistas que se destacaram em suas áreas de atuação. Nessa edição, três pesquisadoras em saúde receberam a homenagem, uma delas, a professora da Universidade Federal de Minas Gerais Deborah Carvalho Malta, com trabalhos relacionados à pandemia de Covid-19.
As outras duas premiadas foram a professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Eliete Bouskela e a reitora da Universidade do Extremo Sul Catarinense, uma instituição comunitária, Luciane Bisognin Ceretta.
Criado em 2021, por iniciativa da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), o prêmio é concedido pela 2ª Secretaria da Câmara. A 2ª secretária, deputada Maria do Rosário (PT-RS), ressaltou que, apesar da contribuição que trazem para o desenvolvimento científico, as cientistas ainda não recebem o devido reconhecimento.
De acordo com a parlamentar, as mulheres são maioria nos programas de mestrado e doutorado e correspondem a 55% dos mestres e 53% dos doutores no País. No entanto, representam somente 42% do corpo docente das universidades. Para Maria do Rosário, é fundamental que as mulheres cheguem também aos postos de comando das instituições de pesquisa.
“Apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas, nós ainda enfrentamos uma sub-representação e queremos que as mulheres alcem com igualdade, porque, no campo da ciência, a igualdade já existe na qualidade da pesquisa realizada”, disse. “Queremos que a sub-representação seja enfrentada para assegurar que as mulheres estejam igualmente nos mais altos cargos de comando da pesquisa científica do Brasil”, defendeu a 2ª secretária.
Já a deputada Alice Portugal destacou que, no Brasil, cientistas do sexo feminino representam apenas 10% dos pesquisadores em ciências exatas. No mundo, a parlamentar lembrou que menos de 3% dos prêmios Nobel em ciências e economia, entregues entre 1901 e 2019, foram concedidos a mulheres.
A procuradora da Mulher da Câmara, deputada Soraya Santos (PL-RJ), destacou que, embora a Constituição fale em igualdade entre homens e mulheres, na prática, essa igualdade não existe. Como exemplo da assimetria entre os sexos, a ela lembrou que até mesmo testes com remédios são realizado em homens brancos e de 70 quilos.
“É muito bom falar de democracia. Que democracia é essa em que não me vejo representada no Poder Judiciário, nos conselhos das empresas públicas, nas pesquisas, nas instituições, nos parlamentos, em todas as câmaras de decisão? Nós somos 52% da sociedade, nós temos de ter teste nos medicamentos que a gente toma”, argumentou a deputada.
As homenageadas
Além de ser professora da UERJ, a homenageada Eliete Bouskela também é diretora científica da Função de Amparo à Pesquisa do estado. A cientista, indicada pela deputada Soraya Santos, é a única latino-americana a integrar a Academia Nacional de Medicina da França e faz parte também da Academia de Medicina da Argentina. Eliete Bouskela também é candidata a presidente da Academia Nacional de Medicina do Brasil. Se eleita, será a primeira mulher a dirigir a instituição.
Indicada pela deputada Ana Pimentel (PT-MG), Deborah Carvalho Malta é doutora em Medicina e professora da Faculdade de Enfermagem da UFMG. De acordo com a deputada, Deborah Malta foi a quarta cientista com mais publicações sobre Covid-19 entre todos os brasileiros.
Já Luciane Bisognin Ceretta foi indicada à premiação pela deputada Geovania de Sá (PSDB-SC). A parlamentar explicou que a reitora da Universidade do Extremo Sul Catarinense é autora de um dos únicos projetos de laboratório de realidade mista – presencial e virtual – para procedimentos em saúde do País.
O prêmio
O nome dado ao prêmio é uma homenagem a Amélia Império Hamburger (1932-2011), cientista brasileira que se destacou por suas pesquisas em Física e dedicação à História da Ciência e à divulgação científica no Brasil.
Graduada pela então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Amélia concluiu em 1960 o mestrado na Universidade de Pittsburgh (EUA) e foi coautora de artigo científico publicado no primeiro número da revista Physical Review Letters, de 1958.
Além de outras conquistas, Amélia participou da criação da Sociedade Brasileira de Física.