Documento foi assinado pela ministra Anielle Franco; no evento ela falou sobre a violência política sofrida por mulheres negras no Brasil e que a morte de sua irmã, Marielle Franco, foi para “silenciá-la”
Nesta terça-feira (25), em celebração ao Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participou de um encontro sobre liderança política de mulheres negras, em Bogotá, na Colômbia. O convite partiu da vice-presidente colombiana, Francia Márquez, que também é ministra da Igualdade e da Equidade.
Na ocasião carregada de simbolismo, a ministra assinou um acordo de entendimento entre as duas nações com foco na promoção da igualdade racial e desenvolvimento socioeconômico. O memorando foi assinado conjuntamente pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e pela vice-presidente.
Entre as ações previstas no acordo, destacam-se o intercâmbio e troca de experiências nas áreas de combate e superação do racismo, produção acadêmica e científica, e políticas para povos tradicionais.
A assinatura do memorando tem a vigência de cinco anos. “Hoje, estamos aqui nós duas, duas ministras negras assinando esse memorando histórico, pela mão de duas mulheres negras, com a comitiva de parlamentares negras. Este é o início da retomada da democracia no nosso país. Não daremos nenhum passo atrás”, afirmou a ministra Anielle Franco.
Durante o evento, a ministra relembrou a trajetória de sua irmã, Marielle Franco, cujo assassinato, segundo ela, foi uma forma de silenciar sua representação política. “Quando falamos de um assassinato de uma mulher negra com cinco tiros na cabeça, entendemos o recado que querem nos deixar, quando tiram um corpo de Marielle Franco e miram diretamente na sua cabeça, para calá-la, silenciá-la e fazer com que a política brasileira não tivesse mais essa representante”, declarou.
Além disso, a titular da pasta de Igualdade Racial falou sobre os desafios de ser uma mulher negra na política brasileira e sobre a invisibilização que sofrem. “Um dos meus maiores desafios, especificamente desde os últimos sete meses, é sempre a capacidade das pessoas brancas, dos homens brancos, de tentarem invisibilizar as mulheres negras quando chegam a lugares de decisão, de protagonismo”, afirmou a ministra.
Anielle ressaltou ainda que há desafios semelhantes entre os dois países da América Latina no combate ao racismo e que as mulheres negras alcançaram posições de poder político através de luta e que vão avançar na busca por mais espaço.
“As experiências de dificuldade são muito parecidas entre Brasil e Colômbia. Porém, chegamos nesse lugar com muita resistência, mesmo entendendo todos os desafios que estamos lidando diariamente. Mas estamos chegando, cada vez mais, para mudar o cenário político do poder”, finalizou.