Mostrando que o casamento infantil transcende as fronteiras regionais e culturais, Índia, Bangladesh, Nigéria, Brasil e Etiópia estão no topo dos países em que essa situação mais ocorre. O Brasil ocupa o quarto lugar nesta lista, com 877 mil casamentos de mulheres menores de 18 anos, segundo levantamento do Conselho de Relações Exteriores (CFR) dos Estados Unidos. O estudo, que usou dados dos fundos das Nações Unidas de População (UNFPA) e para a infância (Unicef), entrevistou jovens de 20 e 24 anos que se casaram até os 18 anos. O casamento infantil é considerado proibido por diversas convenções internacionais. Mesmo assim, no mundo, uma em cada três meninas se casa antes de completar os 18 anos, e uma em cada nove, antes dos 15. Se as tendências atuais permanecerem, analistas acreditam que 142 milhões de meninas vão se casar antes da idade adulta somente nesta década. “A situação de pobreza comum nos países que encabeçam a lista é uma condição de vulnerabilidade que deixa as famílias mais inclinadas a verem as meninas como uma ‘moeda de barganha'”, alerta a assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Márcia Acioli. Moradora de Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, Luiza Fernanda Martins, 22, casou-se grávida aos 16 anos. Ela conta que foi uma decisão do casal. “No começo, não achei que ia dar conta. Casei achando que era uma brincadeira”, relata a dona de casa, dizendo que, apesar de estar desempregada e ter dois filhos hoje, o casamento só trouxe benefícios. Márcia acredita que as situações nos centros urbanos são diferentes daquelas registradas no interior do país. “Quando se fala em escolha, é mais comum que ocorra dentro de um panorama de violência, de restrições econômicas ou de uma situação de conflito na família. Essas condições levam a menina a escolher sair de casa via casamento”, explica a especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes. Situações. A pressão dos pais do namorado e a falta de maturidade foram o que levou a autônoma Carmen Silvia, 50, a se casar aos 15 anos. “Nessa fase, nunca vale a pena casar. Faltam responsabilidade e maturidade. Chega a época de aproveitar a vida, e um sempre sofre mais do que o outro, principalmente se tiver um filho na jogada”, conta. Segundo o estudo do CFR, as crianças mais propensas a se casar são as moradoras de áreas rurais, de famílias pobres e com menor escolaridade. Para mudar essa situação no Brasil, Márcia acredita que não é preciso alterar as leis. “Já temos leis avançadas, bem-construídas e que asseguram os direitos. O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) é suficientemente completo nessa perspectiva. O essencial é mudar a sociedade. O que é mais difícil é investir em cultura, educação e políticas públicas mais amplas”, diz a especialista. |
Fonte: INESC
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