Uma das contempladas é Érica Maria Abreu, de 37 anos, moradora da Samambaia e mãe de dois filhos, de 17 e 9 anos, que mal consegue equilibrar as finanças domésticas por conta da redução no valor do benefício
O sustento da casa com R$ 375 mensais é a realidade de, pelo menos, 13 milhões de brasileiras chefes de família que tentam sobreviver com o novo auxílio emergencial, que começou a ser pago pelo governo federal em abril.
Uma das contempladas é Érica Maria Abreu, de 37 anos, moradora da Samambaia e mãe de dois filhos, de 17 e 9 anos, que mal consegue equilibrar as finanças domésticas por conta da redução do valor do benefício para praticamente metade do último valor recebido em 2020.
O auxílio emergencial destinado aos mais vulneráveis durante a pandemia foi recriado neste ano por quatro meses, mas poderá ser prorrogado até outubro. No ano passado, as famílias monoparentais recebiam em dobro, e o valor chegou a R$ 1,2 mil por mês, entre abril e agosto. Depois, com a prorrogação, passou para R$ 600 de setembro a dezembro.
Érica trabalhava em uma loja de conveniência, mas como a empresa fechou em abril do ano passado, ficou sem emprego após a chegada da covid-19 ao país. Naquela época, conseguiu cadastrar-se no programa de auxílio emergencial e começou a receber o benefício. Hoje, conta que os R$ 375 que recebe atualmente não dá para abastecer a casa diante da alta dos preços de tudo.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses registrou alta de pouco mais de 8,06% até maio, mas os alimentos e bebidas acumulam valorização de 14% no mesmo período, a maior alta desde 2002, quando subiu 19,47%. Os principais itens da cesta básica subiram muito mais, como óleo de soja (86,87%), arroz (51,83%), carne vermelha (38%) e botijão de gás (24,05%).
“Com o auxílio de R$ 1,2 mil eu conseguia manter as contas e botar comida em casa. Agora, só consigo pagar água e luz, pois tudo está muito caro”, conta. “É triste, hoje mal estou botando comida dentro de casa. Às vezes parece que vou entrar em depressão”, desabafa. Segundo, ela o que tem ajudado a complementar a renda são as ajudas da igreja, que doa cesta básica, e os bicos que ela faz como faxineira “quando consegue oportunidade”.
De acordo com dados do Ministério da Cidadania, as chefes de família representam 8,6 milhões dos que recebem o auxílio emergencial fora do programa Bolsa Família, e, entre os 9,77 milhões grupos familiares do Bolsa que recebem o benefício, as mães solos são pouco mais 50%. Com isso, o número de unidades familiares chefiadas por mulheres pode chegar a 13,48 milhões.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, explica que o atual quadro inflacionário do Brasil torna o auxílio emergencial um benefício “para custeio de subsistência”. “É complicado pensar que o auxílio desse valor é suficiente para suprir os gastos com a alta nos preços de alimentação, energia, gás de cozinha, água e esgoto. É preciso rever a política assistencialista para uma aplicação de maneira eficiente”, afirma Abdelmalack.
A economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, também critica a insuficiência do auxílio para garantir o básico às mães que criam os filhos sozinhas e lembra que o total de famílias em extrema pobreza identificadas no Cadastro Único (CadUnico) vem crescendo de forma expressiva. “Uma mãe de família não consegue sustentar a si e aos filhos com o auxílio emergencial. Assim como o nome diz, é um auxílio e não uma renda que permita ao cidadão garantir o seu sustento”, enfatiza a especialista.
Assim como Érica, 125,6 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar nesta pandemia, segundo estudo do Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça. Apesar da alta inflação no preço dos alimentos, o presidente Jair Bolsonaro disse que não vai interferir no preço dos alimentos, mas anunciou que pretende reajustar o valor do Bolsa Família, cujo valor médio é de R$ 191, para R$ 300.
Fonte: Correio Braziliense