Por Tabata Amaral
Enquanto fazia o check-in no aeroporto de Lisboa, a caminho de Glasgow, o atendente hesitou, confuso, ao ver meu passaporte. “Estamos precisando de brasileiros lá, viu?”.
Essa reação, antes mesmo de eu chegar à Escócia, diz muito da experiência dos brasileiros na COP26. A primeira conferência da ONU da década mais crucial para reverter a trajetória acelerada de mudanças climáticas foi repleta de ausências, entre as quais a brasileira é, talvez, a mais comentada.
O presidente do Brasil não compareceu, de certo, mas o que faltou mesmo foi liderança por parte da nação que sediou a Cúpula da Terra em 1992 e que agora faz promessas vazias. Na contramão do mundo, emitimos mais gás carbônico em 2020 do que em 2019, apesar de estarmos em plena pandemia.
No entanto, não foi só o chefe de Estado do nosso país que faltou. Os líderes da China e da Rússia, que ocupam a primeira e a quinta posição, respectivamente, entre os maiores emissores de gases de efeito estufa, tampouco compareceram à COP e não assinaram o acordo para redução da emissão de metano em 30% até 2030.
Faltou também, por boa parte dos países desenvolvidos, cumprir com os acordos firmados anteriormente. Precisamos urgentemente de mais financiamento para as ações de mitigação e adaptação climática, mas 2020 acabou sem alcançamos os US$ 100 bilhões prometidos.
Se as ausências são sinônimo da falta de compromisso, as presenças também significam muito. Sim, os tempos são outros e o mundo exige novos líderes. O Brasil é representado na COP por diversos atores da sociedade civil, como a Coalizão Negra por Direitos e a jovem indígena Txai Suruí, assim como prefeitos, governadores, parlamentares, agências de fomento, bancos de desenvolvimento e empresários, no que constitui a segunda maior delegação da conferência, atrás somente da britânica, anfitriã.
Temos o maior contingente de jovens em uma COP na história, mostrando que essa geração está realmente disposta a assumir o protagonismo e fazer os sacrifícios necessários para salvarmos o planeta.
Entre um evento e outro, uma dessas jovens lideranças me contou que um professor a tinha convidado para dar uma palestra em sua escola, mas que, ao descobrir que o tema seria restrito às pequenas ações cotidianas, como reciclagem, ela negou o convite, justificando que o que realmente importava eram as mudanças estruturais, como a eleição de pessoas comprometidas com a pauta ambiental.
Que possamos garantir, pelo voto, que a política já não tenha lugar para aqueles que se ausentam de responsabilidade sobre o nosso futuro.
Fonte: Folha de São Paulo