Embora participem cada vez mais da força laboral da região, as latino-americanas ainda sofrem com a desigualdade salarialComo chegar ao fim do mês? Essa questão atormenta os milhões de latino-americanos que vivem com menos de 90% do salário mínimo. Entre eles, estão 64,7% dos trabalhadores hondurenhos, 37,5% dos colombianos, 15,7% dos mexicanos e 14,4% dos brasileiros, segundo o novo estudo Trabalhando para acabar com a pobreza na América Latina e no Caribe: trabalhadores, empregos e salários, do Banco Mundial. E o pior: nas duas maiores economias da região, Brasil e México, as mulheres ainda são as mais prejudicadas nessa conta. Só em 2013, quase 14% das mexicanas ganharam menos de 90% do mínimo, ante 9,1% dos homens. Já no país governado por Dilma Rousseff, 9,6% das mulheres estão nessa faixa salarial, contra 8,9% dos profissionais do sexo masculino. Os novos dados se somam a uma série de análises, também feitas por especialistas do Banco Mundial, explicando por que as latino-americanas ganham menos. As respostas abrangem desde a discriminação ainda cometida pelas empresas à falta de mulheres em setores como engenharia e ciências, que pagam melhor. Curiosamente, as mulheres participam cada vez mais da força de trabalho latino-americana, aumentando a renda familiar e contribuindo para a redução da pobreza. O número de trabalhadoras de 25 a 65 anos cresceu 4,5% de 2003 a 2013. Isso faz delas o único grupo a aumentar sua presença tanto nos empregos de baixa qualificação quanto nos que exigem alto nível educacional, segundo o relatório. O impulso das commodities A pesquisa examina dados de 17 países e destaca que o grande motor para a redução da pobreza na América Latina foi o da melhoria dos salários, e não o da qualidade dos empregos. Isso vale principalmente para os trabalhadores que só fizeram a escola primária: os valores das mulheres cresceram quase 4% entre 2003 e 2013, enquanto os dos homens subiram 4,5%. O aumento dos salários mínimos também foi mais acentuado no Brasil, nos demais integrantes do Cone Sul (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai) e nos países andinos, que se beneficiaram do boom das matérias-primas durante a primeira década dos anos 2000. Segundo o estudo, o crescimento econômico gerado pelas commodities impulsionou setores como agricultura e serviços. Também fez aumentar o percentual de profissionais pouco qualificados contratados por grandes empresas, com acesso a diversos benefícios trabalhistas: só no Brasil, em 2013, chegou a 27,6%. A melhoria nos indicadores de educação e qualidade do emprego, no entanto, responde por apenas uma pequena parte do aumento dos salários. E, agora que o boom das commodities chegou ao fim, eles se preocupam com o destino dos trabalhadores. “A região precisa redobrar os esforços para promover um crescimento inclusivo e continuar reduzindo a pobreza”, informam os autores. Eles acrescentam que, para isso, é importante aumentar o acesso a educação de qualidade e outras políticas públicas. Equilíbrio delicado Um dos instrumentos adotados por toda a América Latina para tentar aliviar a pobreza e garantir pagamentos equitativos é justamente o salário mínimo. Ao longo da última década, ele impulsionou os salários até no setor informal. Mas mesmo essa política precisa ser manejada com cuidado, segundo os economistas. “Embora um piso possa levar a um crescimento dos salários em geral, deve ser definido de forma a não reduzir a criação de empregos.” Para comprovar a teoria, eles se baseiam em uma série de trabalhos feitos no Brasil, associando um aumento do salário mínimo a perda de empregos para os jovens (entre 16-24 anos), trabalhadores de baixa qualificação e… Mulheres cujos salários se aproximavam do mínimo. Está aí mais uma prova de que elas têm ainda muito a conquistar no mercado de trabalho. Mariana Kaipper Ceratti |
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Fonte: El País
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