As mulheres devem ser as grandes protagonistas das políticas públicas para a Classe C no Brasil e o candidato que compreender isso e souber canalizar essas demandas em seu programa de governo é o que terá as maiores chances de vencer as próximas eleições. A análise é do consultor de estratégia governamental Rodrigo Gouveia, que apresentou um detalhado estudo sobre o fenômeno da Classe C no seminário nacional As Mulheres e as Eleições 2014, realizado pelo PSB e a secretaria Nacional das Mulheres Socialistas nos dias 12 e 13 em Brasília. Segundo Gouveia, que se tornou um estudioso dessa nova classe média brasileira, nos últimos 20 anos, com o ciclo de transformações sociais promovido pela estabilização da economia no Brasil, a Classe C emergiu como um dos fenômenos de maior força no mercado interno. Primeiro, aumentando sistematicamente o seu poder de consumo, e, agora, alcançando também um patamar de maioria quantitativa na pirâmide social brasileira. Na Classe C se enquadram hoje 52% dos brasileiros, contra 20% das Classes A e B e 28% das classes D e E. “Ela sozinha pode eleger um candidato à Presidência da República”, apontou o especialista. Paralelamente, o percentual de mulheres na sociedade brasileira é de iguais 52% e, mostram também as pesquisas, são justamente as mulheres, responsáveis em número cada vez maior pelo sustento dos lares, as propulsoras dessa explosão da Classe C. “Ou seja, as mulheres são as protagonistas da classe que se tornou a protagonista desse mercado interno crescente”, destacou Gouveia. Porém, advertiu o consultor, a Classe C não pode ser compreendida apenas do ponto de vista de seu poder aquisitivo. O segredo, no caso, é compreendê-la pelo que pensa, pelo que aspira e como age para conseguir isso. Por seus valores, enfim. Muito com pouco –“É uma classe de pessoas guerreiras, que se especializaram em fazer muito com pouco dinheiro (dos melhores exemplos conhecidos de maximização de recursos) e agora lutam para não perder o que já conquistaram; mais que isso, para continuar se desenvolvendo”, observa Rodrigo Gouveia. “Só que, ao mesmo tempo, é uma classe social muito vulnerável, sem nenhuma política pública voltada especificamente para ela, mesmo sendo a maioria do mercado atualmente”. De acordo com ele, a Classe C é um fenômeno nacional, tem renda domiciliar per capita (por pessoa) variando de R$ 310 a R$ 1.800 e já representa, por exemplo, dois terços dos habitantes de regiões até há pouco classificadas como favelas – um universo estimado em 53 milhões de pessoas. Destes, os negros são os que mais contribuíram para o crescimento explosivo da Classe C nos últimos anos, revela o especialista. No total, 104 milhões de brasileiros se enquadram hoje na Classe C, que são responsáveis por R$ 1,03 trilhão em consumo e representam 54% dos eleitores do país. “A elite não entende a Classe C e os políticos ainda não perceberam sua importância. São pessoas que aprenderam a sobreviver a partir de fortes relações de grupo, de vizinhança e solidariedade, as quais acabam influenciando também na decisão sobre em quem votar”, observou Gouveia. Segundo ele, a Classe C sabe muito bem o que quer das autoridades públicas, pois paga impostos e cada vez mais. E, em contrapartida, acha, com razão, que o governo precisa fazer muito mais por ela. “Eles não querem somente mais saúde, educação e obras – querem maior qualidade na educação e na saúde, planos de saúde que funcionem bem, mais conforto e bem estar para a família, um bom futuro para os filhos. Ou seja: buscam uma melhoria diferencial na gestão disso tudo”, afirmou. Volume nos protestos –Essa mesma Classe C, agora a nova classe média brasileira, foi às ruas durante as manifestações populares de junho mandar justamente esse recado às autoridades, dando um volume inédito aos protestos. “Temos uma crise na sociedade brasileira e a postura dos governos vem sendo ignorá-la. Por isso, a próxima eleição vai ser radicalmente nova: quem apostar nessa velha receita, não vai conseguir obter os mesmos resultados de antes – e o número de votos nulos crescendo assustadoramente a cada pleito nos sinaliza isso”, argumentou o consultor. Ao traçar o perfil dessa nova Classe C, ele destacou: ela se incomoda muito com a corrupção, com as ostentações gratuitas de quem tem ganho fácil e contribui pouco com a sociedade; não precisa das bolsas sociais (tipo Bolsa Família e Bolsa Escola) para sua subsistência; se preocupa em garantir o futuro, preservando ganhos e continuando a ascender por meio de seu trabalho; sabe do que precisa e têm interesse em formular opiniões e expressar, por meio do comportamento, as suas demandas. “Resumindo: a nova Classe C se vê como uma consumidora de serviços públicos! Ela quer do governo coisas práticas que melhorem o seu dia-a-dia, um governo de resultados que melhore de fato a qualidade de vida das pessoas”, detalhou. O especialista ressaltou ainda que a Classe C hoje tem também uma “pegada” profissional, ou seja, quer um governo com a mesma competência das grandes empresas – “um gestor profissional, não uma ‘gerentona’, em última análise”. “Ela não está interessada em frases feitas nem no discurso ideológico, mas busca o discurso do que é justo”, alertou. Mulheres no centro do processo –Por esse contexto, Gouveia está convencido de que a tônica das próximas eleições será se aproximar para ouvir essa população. “E ouvir significa falar com cada liderança, pessoalmente, olhando no olho, com atenção. Eles estão cansados da velha política, tanto que as pesquisas mostram que 95% da Classe C não querem mais PT nem PSDB, querem algo novo e só tem um partido hoje propondo o novo – o PSB”. Para o consultor, a Classe C entende muito bem o valor do voto e quer usá-lo como meio para resolver o problema da sua casa, do seu bairro, da sua vida e da dos filhos. “E a mulher é o elo central dessa complexa engrenagem, a progenitora de todo o processo – ganhará sua atenção e confiança o candidato que levar em conta o quão cansada ela está da dupla, muitas vezes tripla jornada de trabalho, de que ajuda mais imediata ela precisa e quer para continuar na luta”, ponderou. Por isso, projetos de apelo feminino, como creches perto de casa, transporte público eficiente e acessível, atendimento de saúde especializado nos problemas da mulher, micro crédito para empreender, terão forte apelo nas eleições de 2014. “É um fenômeno maravilhoso para o país, uma grande e rara oportunidade de transformação”, concluiu. |
Márcia Quadros – Assessoria de Imprensa do PSB Nacional
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