Marqueteiros dos três pré-candidatos à Prefeitura de SP alinham estratégias e começam a colocar apostas em campanhas nas redes sociais, na televisão e nas ruas.
A exatamente um ano da eleição municipal em São Paulo, os três pré-candidatos anunciados oficialmente já desenharam com os marqueteiros as primeiras linhas gerais de suas campanhas.
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) quer nacionalizar a disputa, criar uma imagem de humanista e desgastar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Nunes vai fugir da polarização “lulistas versus bolsonaristas”, tentar ficar mais conhecido e mostrar feitos da sua gestão. E a também deputada federal Tabata Amaral (PSB) deve rivalizar com os dois, lembrar sua origem da quebrada e se cercar de caciques políticos para driblar críticas de que é jovem e inexperiente.
Na primeira pesquisa Datafolha sobre a corrida eleitoral de 2024 na cidade, Boulos largou na frente, com 32% das intenções de voto. Nunes apareceu em segundo, com 24%, e Tabata, com 11%.
O primeiro embate que deve ser travado entre eles será sobre nacionalizar ou municipalizar as campanhas.
“Boulos vai buscar a nacionalização”, planeja o marqueteiro Lula Guimarães. A contratação dele foi criticada por alas do PSOL porque ele foi responsável pelas campanhas de João Doria em 2016, Soraya Thronicke (União) em 2022 e de Geraldo Alckmin (PSB) em 2018.
Agora com Boulos, Guimarães vai mirar em duas frentes: mostrar proximidade com o presidente Lula (PT) e as realizações do governo federal para garantir os votos dos petistas tradicionais. Além de associar Nunes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o Datafolha, o ex-presidente é o pior padrinho político da cidade –com 68% dos paulistanos dizendo que não votariam de forma alguma em um candidato indicado por ele.
A equipe de Nunes rebate a ideia de que Bolsonaro virou uma âncora eleitoral, mas ainda assim vai tentar manter o foco na capital paulista e evitar o embate “lulistas versus bolsonaristas”, posicionando o prefeito como um candidato de centro.
Quem assumiu a missão de manter Nunes na prefeitura foi Duda Lima, marqueteiro que trabalhou na campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022. Mas, desta vez, ele não deve usar a estratégia da polarização que foi fundamental na eleição do ano passado.
A briga entre esquerda e direita também não interessa a Tabata Amaral. “Sempre há o risco de que a polarização aconteça. Os adversários vão fazer isso para deixar a candidatura dela de lado, mas, para mim, ela pode pescar [votos] dos dois lados”, diz o marqueteiro argentino Pablo Nobel. O contrato entre os dois ainda não foi formalizado, mas o acordo está bem encaminhado.
Nobel foi responsável pela campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o governo paulista em 2022 e também trabalhou com Sergio Moro, antes de o ministro deixar o Podemos, quando era pré-candidato à Presidência da República.
Gestor, humanista e mulher forte da quebrada
O prefeito quer se mostrar para o eleitor paulistano como um gestor e não como um político. A equipe entende que Nunes trabalhou muito pela cidade, mas não conseguiu divulgar suas ações. A um ano da eleição, ele tem se esforçado para entregar obras pela cidade e buscar uma marca para a gestão.
“Vamos entregar seis piscinões, um programa habitacional com 46 mil unidades, 62 obras de reassentamento, pavimentar 1.800 ruas”, enumera o secretário de Governo, Edson Aparecido. “Nosso esforço todo agora é ter ritmo de execução orçamentária e entrega para a cidade.”
Tanto o prefeito quanto Tabata pretendem atacar o que entendem ser o ponto fraco de Boulos: sua atuação como militante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) vai ser repetida para reforçar uma imagem de radical no eleitor.
Do lado de Boulos, para se livrar dessa pecha, a campanha vai apostar em um caminho diferente das últimas três eleições. E pela primeira vez, planeja jogar luz sobre a biografia do candidato, que é pouco explorada.
Embora Boulos sempre se mostre como o cara que tem um Celtinha, carro básico e popular, ele é nascido na classe média, filho de médicos infectologistas. Além de formado em filosofia e mestre em psiquiatria, ambos pela USP.
A ideia é ressaltar no candidato do PSOL aspectos de um “humanista, alguém empático, que sempre esteve preocupado com a desigualdade social”, diz o marqueteiro Lula Guimarães. E assim mostrar que Boulos abriu mão de privilégios para lutar por quem, diferente dele, não tem teto.
Já no caso de Tabata, a campanha deve detalhar a biografia dela. A deputada cresceu na periferia da Zona Sul da capital paulista, no bairro Vila Missionária. Filha de mãe diarista e pai cobrador de ônibus, estudou em escola pública e conseguiu se formar em ciências políticas e astrofísica em Harvard, nos Estados Unidos.
“Eu tenho a vivência do dia a dia. As pessoas enchem a boca para falar de periferia, mas quantas vezes entraram em um ônibus, precisaram de um posto de saúde? Isso que eu trago de mais forte. Mas também um diálogo muito grande com elites pensantes”, diz Tabata.
Nunes também já fez um movimento de se colocar como prefeito vindo da periferia. No festival The Town, ele declarou que queria assistir ao show dos Racionais MC’s, que “nasceram dentro da comunidade de Heliópolis, que é de origem de onde eu vim, do Parque Santo Antônio”, afirmou. “Muita gente não sabe, mas sou um prefeito que veio lá da periferia.”
Tabata também vai ter que driblar a desconfiança com o fato de ser jovem, aos 29 anos, e a única mulher na corrida. São Paulo só elegeu duas mulheres para a prefeitura: Luiza Erundina (PSOL), que governou de 1989 até 1993, e tinha 54 anos quando foi eleita, idade próxima à de Marta Suplicy (ex-petista, sem partido), que ganhou o pleito aos 56 anos e governou de 2001 a 2005.
Por isso, seu entorno deve ser de caciques políticos, como Carlos Siqueira, presidente do PSB, e o ministro da Microempresa, Márcio França (PSB). Outro que vai estar no palanque é o vice-presidente Geraldo Alckmin, que se filiou à legenda em 2022, mesmo se colocando em oposição a Lula, comprometido com Boulos.
Mas a deputada acredita que seu maior desafio é se apresentar. Segundo o Datafolha, hoje ela é desconhecida de 50% dos paulistanos. Em comparação, Boulos tem 80% de conhecimento e Nunes, 79%. A pesquisa também mostra que ela tem 23% de rejeição, menos que Nunes (26%), Vinicius Poit (do Novo, 26%), Boulos (29%) e Kim Kataguiri (do União Brasil, 35%).
No ringue
A campanha de Boulos deve ser metade para mostrar propostas e criar a identidade do candidato, metade focada em desgastar o atual prefeito. Um exemplo disso já está em prática: é o Movimento Salve São Paulo, uma página usada para ouvir a população sobre problemas da cidade, por meio de vídeos e relatos.
A estratégia será associar as queixas a Nunes. Com isso, em vez de criticá-lo diretamente, a campanha deixa a função para os paulistanos.
Outro foco dos adversários será reviver antigas acusações contra o atual prefeito. Ricardo Nunes foi acusado em 2011 pela esposa, com quem segue casado até hoje, de violência doméstica, ameaça e injúria. Além disso, investigações da Polícia Civil identificaram ligações de Nunes com o escândalo que ficou conhecido como “máfia das creches”.
Já a equipe de Tabata ainda não definiu quem será seu principal alvo. Se o embate se desenhar num tete a tete com Nunes, Tabata deve ficar mais na centro-esquerda. Já se a briga direta for com Boulos, a deputada tende a ser vista mais como de centro-direita.
“Não vou ter favorito, vou contrapor os dois”, diz o marqueteiro Pablo Nobel. Com o prefeito, a ideia é colar a imagem de uma gestão sem feitos. Com Boulos, a campanha pretende fazer comparações sobre a atuação parlamentar dos dois.
“Tenho mais de 10 projetos que viraram lei, principalmente o que garante a distribuição gratuita de absorventes em espaços públicos e o Marco Legal do Ensino Técnico. Estou trabalhando para aprovar a Poupança Ensino Médio e pelo fim dos cortes de água na periferia”, diz Tabata, que está em seu segundo mandato como deputada federal.
Já o parlamentar do PSOL vai responder com os dois projetos de lei que aprovou na Câmara, nos primeiro seis meses do seu primeiro mandato: um criou a Política Nacional de Cozinhas Solidária e outro pune os bancos que concedem empréstimo consignado sem autorização expressa do correntista.
Os três já iniciaram a pré-campanha e pretendem rodar todas as 32 subprefeituras da cidade, mas estão começando o giro pela periferia, onde está o maior número de eleitores. As agendas são bem parecidas, com encontros de cerca de 50 pessoas, principalmente às quintas e sextas-feiras, e buscando falar com aqueles eleitores que estão mais longe de apertar o seu número na urna.
Guilherme Boulos (PSOL)
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) — Foto: Reprodução/GloboNews
Marqueteiro: Lula Guimarães, fez a campanha de João Doria em 2016
Principais estratégias:
- Nacionalizar o debate e colar imagem à do presidente Lula
- Contar história da sua origem, de classe média
- Se mostrar como um humanista, empático, e tirar pecha de radical
- Desgastar Ricardo Nunes falando da gestão e do passado do candidato
- Movimento Salve SP
Marqueteiro: Duda Lima, fez a campanha de Jair Bolsonaro de 2022
Principais estratégias:
- Municipalizar os debates e evitar polarização lulistas versus bolsonaristas
- Se colocar como um candidato de centro e gestor
- Divulgar seus feitos na prefeitura
- Se apresentar e ser conhecido pelos paulistanos
- Rivalizar com Boulos, a quem vai atribuir pecha de radical e militante
A deputada federal Tabata Amaral (PSB) — Foto: Reprodução/TV Globo
Marqueteiro: Pablo Nobel, fez a campanha de Tarcísio de Freitas em 2022
Principais estratégias:
- Fugir da polarização e rivalizar com os dois adversários, Nunes e Boulos
- Driblar críticas de que é jovem e inexperiente com equipe de caciques
- Mostrar sua origem da quebrada de São Paulo e de quem conhece a realidade da periferia
- Mostrar outro lado, de quem estudou em Harvard, e transita na elite
- Citar exemplos pessoais para falar dos problemas da cidade